Os Correios desmontaram, neste sábado, a versão apresentada pelo Governo federal sobre a origem dos projéteis que mataram a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL). As primeiras investigações sobre o crime, ocorrido na noite de quarta-feira na região central do Rio de Janeiro, indicavam que os assassinos da vereadora e seu motorista, Anderson Gomes, usaram projéteis de um lote que havia sido adquirido em 2006 pela Polícia Federal. No dia seguinte, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que essa munição deveria ter sido entregue à PF por via postal, mas foi furtada da sede regional dos correios na Paraíba.
A empresa estatal, porém, divulgou nota afirmando que “não há no passado recente nenhum registro de qualquer incidente” envolvendo roubo de munição, e acrescentou que está tentando verificar as informações. A nota acrescenta que a empresa não aceita ser contratada para a entrega de armas ou munições, exceto quando isso está previsto por uma legislação específica e tem autorização do Exército.
Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente dos Correios, Guilherme Campos Júnior, disse que a empresa não sabe de onde o ministro tirou a informação que divulgou. “O ministro deve ter alguma informação que nós não temos. Se a tiver, espero que nos repasse”, afirmou.
Segundo as investigações, projéteis do mesmo lote, de calibre 9 milímetros, já haviam sido usados na chacina que deixou 17 vítimas em 2015 nas cidades de Osasco e Barueri (SP), um crime pelo qual três policiais militares e um agente da Guarda Civil de Barueri já foram condenados.
Questionado sobre o uso de munição da Polícia Federal nesses crimes, Jungmann afirmou que parte do lote UZZ-18 foi furtada “há vários anos” da sede regional dos Correios na Paraíba. “A Polícia Federal já abriu mais de 50 investigações por essa munição desviada. Por isso eu acredito que essas cápsulas encontradas na cena do crime foram efetivamente roubadas”, disse.
A Polícia Civil de Minas Gerais informou, neste domingo, ter localizado na cidade de Ubá, região da Zona da Mata, um carro suspeito de ter sido usado nos assassinatos de Marielle e Anderson. O veículo tem características semelhantes – como cor e modelo – ao que foi usado no crime.
Policiais do Rio foram informados da apreensão e uma equipe foi deslocada para o município mineiro. De acordo com a polícia de Minas, o veículo ainda será periciado e não é possível confirmar se realmente é o carro que participou da emboscada. Segundo as primeiras informações sobre a morte da parlamentar, dois automóveis de cor prata perseguiram o veículo em que estava a vereadora.
A assessora de Marielle – que estava no carro com a vereadora, mas sobreviveu ao ataque dos criminosos – deixou o Estado do Rio neste fim de semana para se proteger. Por questão de segurança, o destino dela não foi divulgado. Na hora do crime, a assessora estava à esquerda de Marielle, no banco traseiro, e escapou dos tiros porque eles foram disparados na diagonal.
Neste domingo, milhares de pessoas realizaram uma marcha no complexo da Maré em repúdio ao assassinato da vereadora e de Anderson. A manifestação foi puxada por um grupo de mulheres negras que segurava uma faixa grande com os dizeres: “Marielle e Anderson presente! Hoje e sempre!”. Em São Paulo, um protesto contra os assassinatos saiu por volta das 15h30 do vão livre do Masp, na avenida Paulista. Os manifestantes, muitos com flores nas mão, ocuparam aproximadamente a extensão de um quarteirão.
Defensora dos direitos humanos e crítica da atuação de policiais que agem fora da lei, Marielle voltava de um evento no bairro carioca da Lapa quando foi alvo de disparos. O crime aconteceu nesta quarta-feira, 14 de março, na rua Joaquim Palhares, no Estácio, e o motorista Anderson Gomes, que estava com ela, também foi assassinado a tiros. A polícia trabalha com a hipótese de que o assassinato foi uma execução. Ainda não foi divulgada nenhuma informação sobre os assassinos e não se sabe nem quantos participaram da ação.
Marielle Franco, ativista dos direitos humanos e a quinta vereadora mais votada nas eleições de 2016 no Rio, era uma enérgica crítica da violência policial, e três dias antes da sua morte denunciou abusos supostamente cometidos por soldados do 41º. Batalhão da PM fluminense na favela de Acari.
A vereadora do PSOL, que tinha 38 anos e cumpria seu primeiro mandato, também era crítica da intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio, decretada há exatamente um mês pelo presidente Michel Temer, que deixou o controle da segurança pública nas mãos do Exército.
Fonte: EL País
INTERSINDICAL – Central da Classe Trabalhadora
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