Os números atestam um processo de desnacionalização da economia, tendo os anos de 2012 e 2015 sido os de maior impacto, com 296 empresas transferidas para o controle de estrangeiros.
Concorrência desleal
A política de juros altos, câmbio sobrevalorizado, eliminação de barreiras alfandegárias e contenção dos investimentos públicos, praticadas na maior parte do período, acabaram por gerar uma forte retração na economia brasileira, o que levou muitos empresários nacionais a liquidar suas empresas.
Além disso, enquanto no Brasil o setor produtivo tem que arcar com os maiores juros do mundo, nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, os juros estão negativos, estimulando seu capital a comprar ativos reais, aumentando seu controle sobre a economia dos países subdesenvolvidos.
Símbolos brasileiros trocaram de bandeira
A lista de empresas que saíram do controle nacional é de impressionar, pois inclui marcas que fazem parte da vida de milhões de brasileiros. Grupo Pão de Açucar transferido para o francês Cassino; Rapidão Cometa para a norte-americana Fedex; TAM para a chilena LAN; Ypióca para a britânica Diageo, dona das marcas Johnnie Walker, Smirnoff e Jose Cuervo. Yoki para a norte-americana General Mills; Multilab para a farmacêutica japonesa Takeda; Odebrecht Ambiental para os norte-americanos da Farallon; Souza Cruz para a British American Tobacco; a Companhia de Energia CESP para o grupo chinês CTG e até a churrascaria Fogo de Chão, agora transferida para o fundo de investimento Thomas Lee Partners.
Nem as áreas de educação e saúde escaparam. O grupo Kroton, que possui nove marcas de universidades como a Anhanguera, Unopar, Pitágoras e Uniderp, é controlado pelo fundo americano Advant. A Amil, líder do mercado brasileiro de planos de saúde até 2012, foi vendida para a United Health, maior operadora de saúde dos Estados Unidos.
Prejuízo para o Brasil
Com a desnacionalização há o aumento da remessa de lucros das empresas para suas matrizes e recursos que antes ficavam dentro da economia nacional, passam a ser transferidos e incorporados por outros países. Além disso, desde os anos 90, o governo isentou as empresas estrangeiras de qualquer taxação para envio de lucros e dividendos para seus sócios e acionistas, prejudicando ainda mais as contas externas e as finanças públicas.
Outro problema decorrente da presença estrangeira em setores estratégicos da economia como o automobilístico, aeronáutico, informática, eletroeletrônico, telecomunicações, mineração, agronegócio e farmacêutico, entre outros, é a importação de insumos, componentes e serviços, trazidos preferencialmente de suas matrizes, reduzindo a produção no Brasil e aumentando o déficit em nossa balança comercial e a desarticulação das cadeias produtivas.
Política atual pode liquidar setor industrial
Para o industrial Cesar Prata, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), a desnacionalização se dá por vários meios. Considera que “as ZPEs (Zona de Processamento de Exportação), como ocorre no porto de Pecém, no Ceará, escancaram nosso mercado para as estrangeiras. Teve uma empresa coreana que instalou ali uma siderúrgica, que já chegou totalmente pronta”.
A área de petróleo e gás, responsável por 13% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, também sofre com as mudanças na Política de Conteúdo Local (PCL) anunciadas pelo governo. Com as novas regras plataformas de petróleo chegam inteiras ao país, e já montadas, sem gerar um único emprego no Brasil e empresas brasileiras são proibidas de participar de concorrências.
“Isso sufoca nosso setor produtivo, paralisa as empresas, produz forte desemprego. As demissões estão atingindo todos os segmentos da mão de obra”, comenta Murilo Pinheiro, presidente da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE).
Repensar o modelo
De acordo com grande parte das interpretações de economistas, essas desnacionalizações não representam investimentos novos, mas sim meras transferências de ativos e, geralmente, concentração do mercado. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), em média, anualmente 81% dos recursos que entram na região como forma de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) saem como rendimentos destas entradas. Neste sentido, vale repensar o papel do investimento estrangeiro em economias abertas, desnacionalizadas e sem controle dos fluxos de capital.
Fonte: Jornal Primeira Página
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