1. Ao contrário do que ocorreu nos meses que antecederam o impeachment, em abril de 2016, as diversas frações classes dominantes brasileiras encontram-se divididas sobre o que fazer depois da revelação da lambança de Michel Temer com o dono da Friboi. Eles não se entendem no destino a ser dado ao usurpador.
2. A expressão da divisão pode ser vista numa rápida olhada nas linhas editoriais adotadas pela Globo – sai Temer –, Estado de S. Paulo e Rede Bandeirantes – fica Temer – e Folha de S. Paulo – no muro das hesitações.
3. Estamos diante de uma janela política que raramente se abre. Suas últimas ocorrências se deram no final da ditadura – quando uma parte apoiou a frente de oposição à ditadura – e no ano de 2002, em que uma parcela expressiva do capital produtivo se descolou do bloco tucano-pefelista e apoiou – com dinheiro – a coalizão liderada pelo PT. Esse foi o fator determinante para a primeira vitória de Lula.
4. A divisão atual se expressa na dificuldade em estabelecer uma tática clara para preservar o fator de unidade entre essas frações: a manutenção do programa de reformas regressivas que visam baratear o custo do trabalho e tornar o Brasil uma espécie de Bangladesh. Ou seja, uma plataforma de exportação de produtos globais aqui produzidos, com mercado interno reduzido.
5. É por esse motivo que a manutenção de Henrique Meirelles é o sonho de consumo dos de cima, qualquer que seja o figurante do palácio do Planalto. É necessário apenas que o financismo tenha expressão política que o sustente.
6. O editorial do Globo dessa sexta (19) é o lance mais ousado dessa tática. Flamba-se o indefensável mandato de Temer e busca-se o aval do Congresso para uma passagem segura a um governo que acelere a tramitação da regressão geral.
7. O problema é que a manobra está jogando ainda mais a economia brasileira na ribanceira do colapso, como atestam os números dos últimos três dias.
8. É nessa hora que a potência das ruas precisa tensionar ao máximo as diversas frações do topo da pirâmide social e evitar sua recomposição.
9. A oposição democrática e progressista quer a saída de Temer do governo. E tem um programa unificado e conhecido: o fim das reformas e a recuperação imediata da economia, através de um programa anticíclico capitaneado pelo Estado.
Parece pouco, mas na atual situação é muito. Muito demais.
*Gilberto Maringoni é professor de Relações Internacionais da UFABC e foi candidato a governador (PSOL-SP), em 2014.
Foto: Ricardo Stuckert
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