Um dos temas centrais da pauta da greve dos estudantes na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP é a questão da democratização da Universidade, envolvendo não apenas a proposta de cotas nas formas de ingresso, mas também a chamada permanência, ou seja, as medidas necessárias para que estudantes com menores condições econômicas possam realizar plenamente o curso de graduação – e não apenas ingressar na universidade –, tais como acesso a alimentação, moradia, transporte.
A partir de proposta apresentada pelos estudantes e encampada pelo GT de Articulação das três categorias – professores, funcionários e estudantes -, a Congregação da FAU-USP aprovou, nesta quinta-feira, a adoção de cotas raciais e para estudantes oriundos de escolas públicas.
Assim, 30% das vagas para ingresso na FAU em 2017 serão destinadas para alunos oriundos de escola pública – sendo metade destas para pessoas autodeclaradas pretas, pardas ou indígenas –, com seleção por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Um dos impedimentos para que a FAU adotasse, como outras unidades da USP já vêm adotando, o Sisu como forma de ingresso é a existência da chamada “prova de habilidades específicas”, parte do vestibular organizada diretamente pela FAU e destinada historicamente para testar habilidades dos candidatos no campo do desenho e da representação espacial.
Na decisão adotada hoje pela Congregação, por 24 votos a favor, 1 contra e 3 abstenções, a FAU optou por suspender a aplicação dessa prova apenas para a próxima seleção e, até maio do ano que vem, promover discussões internas sobre a prova de habilidades específicas e sua relação com o projeto político pedagógico da escola.
Portanto, o tema ainda será aprofundado, tanto quanto à necessidade de democratizar o acesso à faculdade promovendo ações afirmativas para grupos historicamente marginalizados, como com relação ao próprio currículo da FAU e seu projeto político-pedagógico.
A faculdade se comprometeu também em continuar debatendo o tema tanto internamente como com o conjunto da universidade. Já está marcada para agosto uma reunião extraordinária da Congregação, na qual serão discutidas outras propostas e iniciativas relacionadas às cotas que estão sendo apresentadas e discutidas na USP.
A decisão da FAU evidentemente não resolve a profunda desigualdade social e étnico-racial que marca nossa história, mas, sem dúvida, é um passo importantíssimo no enfrentamento da questão, pois reconhece a existência do problema e demonstra disposição em buscar soluções para enfrentá-lo por meio de políticas reparatórias de ação afirmativa. Sem dúvida, também, é uma decisão que reafirma o sentido da universidade verdadeiramente pública.
Fonte: Blogue da Raquel Rolnik
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