Só não viu quem não quis ou quem, por razões ideológicas, não quis ver, que o processo contra o ex-presidente Lula estava viciado desde o início.
Lula está preso há um ano e dois meses por conta do triplex do Guarujá, que nunca foi dele. Se existe prova neste processo é justamente que Lula não é e nunca foi dono do tal apartamento. Até a justiça reconhece isso, quando determina que seja devolvido à família de Lula o valor que dona Marisa pagou para adquirir cotas do empreendimento.
Agora tem provas em abundância para comprovar que Lula foi preso a partir de um conluio de agentes políticos travestidos e procuradores e juízes. Por certo, ainda vai aparecer mais gente envolvida nessa trama. Esta constatação material é suficiente para soltar Lula e processar quem o prendeu. Mas o assunto desta postagem não é este.
Queremos aqui falar da dificuldade de ampliar o movimento pela liberdade do ex presidente Lula, tendo como objetivo traçar algumas modestas sugestões de como superar situações de desconforto na relação política entre os diversos setores do campo popular.
É “natural” que, para a militância petista, o movimento Lula Livre seja também e de imediato um projeto político e de governo. Tipo assim: soltar Lula, chamar nova eleição, eleger Lula e retomar o caminho dos governos encabeçados pelo PT. É compreensível que a militância petista pense assim, e tem muito mais gente nesta mesma balada tática. Mas esta fórmula não contempla diversos setores do movimento popular, especialmente os situados à esquerda.
Não achamos que este deva ser o momento de procurar os pontos que nos diferenciam, e eles existem e não são poucos. Mas também é um erro grosseiro pensar que agora somos todos iguais, e que todos temos que rejubilar com a hipótese de voltarmos a ter governos petistas. Existiam dificuldades e diferenças enormes em termos de projeto e de formato. E qualquer unidade só é possível se reconhecidas estas divergências. Não queremos a imolação de ninguém, muito menos em praça pública, mas a autocrítica nos espaços internos do movimento precisa ser uma realidade objetiva.
Por outro lado, é inaceitável a postura de setores do campo popular e de esquerda que ajudaram ou ainda ajudam a colocar panos quentes nas ações arbitrárias e ilegais da LJ. Lula foi preso por motivação política e a partir de métodos ilegais, e isso por si só deveria bastar para que todos os defensores da democracia exigissem sua liberdade antes do próximo passo.
O que dificulta a unidade efetiva de todos os campos que defendem a liberdade do ex presidente Lula são justamente as divergências de projetos políticos ou mesmo de projetos de governo. E são dificuldades provocadas por erros em ambos os lados. O amplo campo petista coloca junto, na mesma frase, na mesma ideia, numa sequência tática automática, um projeto político e de governo: liberdade do Lula, nova candidatura do Lula, novo governo do Lula.
Essa postura “natural” para o campo petista e de aliados permanentes interdita a participação nestes espaços de todos os outros setores que não se sentem confortáveis com a proposta Lula solto – Lula candidato – Lula presidente – todos os problemas resolvidos.
Por outro lado, é inadmissível que setores do campo popular e democrático ainda se portem como quem quer aproveitar a prisão do Lula para projetar-se ou para projetar o seu candidato. Se alguém se importa pouco com a prisão política e ilegal de um ex presidente da República, por certo não deveria ser considerado do nosso campo. Também o esquerdismo principista perdeu apoio popular nos últimos anos, especialmente os setores que flertaram com o golpismo alegando ser a ante sala da revolução proletária (uma falha grave de avaliação, que sempre leva a erros táticos demolidores).
É necessário que se perceba que a campanha pela liberdade do ex presidente Lula não pode ser um projeto de governo, pois isso inviabiliza que qualquer outro setor se aproxime. Isto posto, é necessário que todos os setores do campo popular, democrático e de esquerda assumam abertamente a luta pela liberdade do Lula, sob o risco de perder o bonde da história, e se afastar do conceito de Solidariedade.
Lula Livre é uma campanha de solidariedade política e de classe, e não um projeto de governo. A dignidade nacional, neste momento, depende da liberdade do ex presidente Lula e da responsabilização de quem aviltou a Constituição Federal para prendê-lo. Se todas as forças populares, democráticas e de esquerda perceberem isso e se portarem de acordo com essa compreensão, Lula estará solto em poucas semanas. E todos estaremos livres para discutir o futuro do Brasil.
São José – SC, 16 de junho de 2019
*Amauri Soares é Diretor da Intersindical Central da Classe Trabalhadora
PS: Parabéns a todas e todos que somamos milhões no último dia 14, lutando em defesa da Previdência Social e contra a PEC 06/2019, do governo Bolsonaro!
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