Os moradores da maior ocupação urbana do País, a Vila Soma, localizada em Sumaré, município a 115 km da capital paulista, acordaram nesta segunda-feira (18) aliviados após meses de tensão e ameaça de desocupação truculenta.
Na última quinta-feira (14), o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu, por meio de liminar, a reintegração de posse na área de 1 milhão de metros quadrados, onde vivem cerca de 10 mil pessoas. A retirada das famílias, com o auxílio da Polícia Militar, estava marcada para o domingo (17).
Mesmo com a decisão judicial, o receio de uma possível reintegração violenta no domingo fez com que 30 famílias deixassem suas casas. “Mesmo com a vitória judicial via liminar tínhamos o temor de que se repetisse o massacre de Pinheirinho”, relata William Souza, líder do movimento de moradia em Sumaré.
“Hoje a comunidade respirou aliviada, o clima aqui está ótimo, vencemos uma batalha, mas a luta continua”, afirma Souza.
O líder do movimento de moradia em Sumaré atribui a inédita decisão da Suprema Corte ao caso Pinheirinho, ocupação em torno de 9 mil pessoasem São José dos Campos, que ganhou páginas policiais e repercussão internacional pela truculência da Polícia Militar, em 2012.
O próprio ministro do STF, Ricardo Lewandowski, citou em sua decisão a desocupação do Pinheirinho, marcada pelo confronto violento entre policiais e moradores.
“Usamos os relatos de Pinheirinho em nossas argumentações jurídicas, o núcleo de habitação da Defensoria Pública também alertou para a semelhança do caso e a ameaça de tragédia”, diz Souza.
A Vila Soma é um exemplo de organização e gestão horizontal. Abriga hoje mais de 10 mil pessoas. São cerca de 2.700 famílias organizadas em 38 ruas. Cada rua possui o seu líder, eleito pelos próprios moradores, que cuida desde possíveis brigas de vizinhos à organização dos moradores. O que a comunidade busca é harmonia em suas relações e a luta pela moradia.
No momento a comunidade da Vila Soma não permite a entrada de novos moradores, para evitar o crescimento desordenado, uma vez que eles não tem água nem saneamento. Tudo é feito em fossas e a água é comprada e chega por caminhões-pipa. Alguns moradores utilizam geradores, mas muitas famílias vivem sem energia elétrica.
A ação de reintegração de posse foi solicitada em 2012 pelas empresas Melhoramentos Agrícola ViferLtda e a massa falida da Soma Equipamentos Industriais Ltda.
O local foi abandonado após a falência da Soma, há mais de 30 anos. Em junho de 2012, começaram a chegar os primeiros ocupantes, montando acampamentos e se acomodando como podiam. Atualmente, a Vila Soma tem estrutura consolidada, com casas de alvenaria, 38 ruas e até mesmo pequenos comércios.
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