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A queda dos políticos Michel Temer e Aécio Neves representa uma guinada dentro do movimento golpista que derrubou Dilma. Essa nova fase é o que tem se chamado de “Golpe dentro do Golpe” e a ação deflagrada pela PGR depois das escutas dos dois é o seu marco inicial. Um marco que está em desenvolvimento e com possibilidades de desfechos – um tanto – indefinidos.
O núcleo das forças que colocaram Temer ilegalmente na chefia do governo poderia ser assim resumido: Globo + STF + Fiesp / Febraban. Na etapa 2, do golpe dentro do golpe, a condução está sendo articulada pelo Clube dos 13 empresários (sugestivos 13!), que reúne novamente a Globo e o STF e aquele outro terceiro setor, porém agora com suas fissuras. O clube é presidido pela presidente do STF, Carmem Lúcia (já seria um ensaio!?).
Do ponto de vista econômico não podem ser ignoradas divergências no ritmo de aplicação das reformas. O setor produtivo que tem interesse imediato na reforma trabalhista estaria menos descontente com Michel Temer, tendo em vista o ritmo à toque de caixa em que está sendo aplicada – Brasília no dia 25/05 ardia em chamas e o senado protegido pelas forças militares só pensava “naquilo”: Reforma Trabalhista. Temer vê nisto sua sobrevida, agradando o setor produtivo da Paulicéia e suas vozes (Estadão e Folha de São Paulo).
Porém o setor financeiro, os bancos e parte do setor do comércio e serviços (principalmente aqueles dos carnês, que são bancos travestidos em lojas de geladeira e fogão…), hoje representados pelo Clube dos 13, estão desesperados pela Reforma da Previdência. Para estes setores, Temer foi declarado incapaz. Henrique Meirelles, ministro da fazenda, com todo o seu cinismo, disse recentemente na imprensa: “hoje não temos os 308 votos necessários para aprovar a Reforma da Previdência. Mas os deputados já me confidenciaram que no momento certo irão apoiar”.
Quando Meirelles assim declara que no “momento certo” o congresso estará pronto para as reformas é que podemos desvendar as conexões com os fatos recentes que pedem as cabeças de Aécio e Temer e o comportamento político da Globo para uma guinada em favor do “golpe dentro do golpe”.
De imediato podemos fazer tais conexões com o manifesto político, cinicamente chamado de editorial, do O Globo de 17/05/2017: “As reformas são essenciais para conduzir o país para a estabilidade política, para a paz social e para o normal funcionamento de nossas instituições. Tal projeto fará o país chegar a 2018 maduro para fazer a escolha do futuro presidente do país num ambiente de normalidade política e econômica”.
Ou seja, impedir que o PT e Lula ganhem as próximas eleições ou, em último caso, se ganharem em um ambiente propício com todas as reformas já aprovadas (lembremos que nenhum governo do PT revogou qualquer reforma ou privatizações anteriores, ao contrário, algumas até aprofundou como a da própria previdência).
Portanto, as vozes do Globo e de Meirelles se alinham a dos empresários do setor financeiro, pois estes não querem correr o risco de ver se arrastar para 2018 medidas eleitoralmente amargas em que os políticos não poderão bancar em suas bases. Lembremos que Michel Temer sequer conseguiu os 308 votos necessários.
O golpe dentro do golpe, desta forma, visa criar desde já através de um governo eleito indiretamente pelo congresso o “momento certo” confidenciado por Meirelles e assim “chegar a 2018 maduro para fazer a escolha do futuro presidente”. Temer foi rifado não exatamente por ainda não ter sido capaz de aprovar a reforma da previdência, mas, principalmente, por ele aprofundar a rejeição popular à reforma. A impopularidade de Temer se personifica em suas políticas, tornando-as também impopulares.
Se as reformas estão no eixo das ações que guiam o movimento golpista, desde a o impeachment de Dilma, importante é entendermos as fissuras que agora se abrem entre os setores golpistas, seus possíveis distanciamentos e aproximações que serão necessários para dar o desfecho num golpe dentro do golpe já iniciado.
A avaliação sobre as turbulências causadas com a queda de Michel Temer e a recomposição de um governo indireto ( e diga-se, constituído idealmente por alguém do judiciário – “momento certo”) diferencia exatamente os pontos de vistas entre o Clube e a Paulicéia.
Para o clube dos 13 Temer cairia rapidamente. Uma renuncia rapidíssima, contavam que já no dia seguinte às denuncias ele renunciaria, em troca do Jornal Nacional não soltar as escutas. Ainda mais, as turbulências sociais seriam também rapidamente contidas nos marcos da legalidade (com ajudinha, é claro, da sempre repressão militar) e as vozes das ruas, como em toda a história do Brasil, seriam abafadas com os acordões de cima (nem que para isso seja necessário chamar o PT à mesa, como já vem sinalizando FHC e Sarney).
Os fatos, porém, são mais duros. Temer resiste a renunciar, a abertura do impeachment não estava exatamente nos planos e a resistência das ruas desde a marcha dos 150 mil em Brasília, tudo isto, é que representou um duro golpe na avaliação dos golpistas do clube dos 13. Não podemos descartar que a partir de agora tentem afinar cada vez mais suas táticas com a Paulicéia, como fora feito no golpe de Dilma.
Por outro lado, para a Paulicéia, agarrada ao velho “modus operandi” de fazer política ou, mais exatamente, de financiar a política, tudo se resolveria à base do suborno. Chegariam aos 308 deputados necessários comprando votos como sempre fizeram, sem esse alarde todo. Essa “praticidade”, claro, pouco leva em conta o profundo desgaste político do governo e do congresso e, menos ainda, os desgastes provocados pela Lava-Jato no mundo da política. Para Fiesp tudo se resolve com malas recheadas de dinheiro.
A Paulicéia, portanto, que havia ignorado este pequeno detalhe de uma enorme insatisfação das massas, inclusive da classe média, não se apercebeu também que no seio da Lava-Jato, ou seja, por fora das esferas tradicionais da política, uma nova elite política estava sendo gestada. Uma elite vinda do judiciário que na avaliação do clube dos 13 pode em momentos extremos tomar de assalto os espaços políticos, justamente nos momentos de crise em que as “malas de dinheiro” causam mais lambanças do que solução. A não ser que a Pauliceia tenha uma mala para cada cidadão (ao menos da classe da média) e assim fazer sentir diminuir os efeitos do desemprego, inflação, custo de vida etc, e o povo aceite pacificamente a retirada de direitos.
Se não nos era inteligível as causas do apagamento político de Aécio, eis aí também a razão. Matar Aécio não só é o símbolo de que o velho está morrendo e o “novo” nascendo, mas também uma tentativa de se reconectar com aquela base que apoiou a primeira fase do golpe. Eliminá-lo agora seria uma luz que se pode ascender para seus mais de 40 milhões de eleitores de que a luta contra a corrupção é possível. Em troca tentam ganhar apoio desta classe-média nas aprovações das reformas já que tanto ele, quanto Temer foram inoperantes de acionar.
Soma-se a isto a dificuldade de se apresentar uma prova concreta contra Lula, seu apoio popular, os embaraços da Lava-Jato de Moro em Curitiba e seu desgaste em apresentar resultados práticos, bem como, a reaproximação conjuntural do PT com as bases por seu posicionamento contra as políticas impopulares de retiradas de direitos, fatores estes que estão levando a classe média ao isolamento e a sensação de que a sua luta contra corrupção foi em vão!
Problemas não só para os interesses imediatos da economia, mas também para as eleições de 2018. Se está sendo difícil condenar Lula, já condenar Aécio é diferente: tanto no quesito provas concretas, quanto de popularidade. Aliás, quem vai querer salvar Aécio? (e que fique de exemplo: seu abate a lá Friboi é um recado significativo, pois cada vez mais que for necessário para o sistema este sem “piedade” apagará certas figuras de peso -que se cuide Dória – e, nada melhor que um peso morto como Aécio. No próprio PSDB ele já estava rifado para 2018).
O foco da Globo e seus aliados, portanto, neste momento sai das denuncias ao PT e Lula para rifar figuras da política tradicional e mostrar pra classe média que a luta contra a corrupção não está perdida. Só assim eles avaliam que é possível manter uma base social de apoio capaz de dar alguma legitimidade as politicas econômicas e que Michel Temer e seus comparsas no congresso perderam a credibilidade.
Para tal, surge a possibilidade de se jogar num projeto político tendo à frente figuras políticas que não se pareçam com os políticos. Uma espécie de elite política polida pela neutralidade da justiça, não corruptível, que não carrega malas e, mais importante, neste momento isenta dos julgamentos das urnas para levar a tão sonhada “estabilidade”, ou seja, aprovar as reformas sob o manto do combate à corrupção.
Eis a essência do golpe, dentro do golpe. Por isso diz o Globo em tom marxista-leninista: “Há os que pensam que o fim deste governo provocará, mais uma vez, o atraso da tão esperada estabilidade, do tão almejado crescimento econômico, da tão sonhada paz social. Mas é justamente o contrário. A realidade não é aquilo que sonhamos, mas aquilo que vivemos … Fazer isso, além de contribuir para a perpetuação de práticas que têm sido a desgraça do nosso país, não apressará o projeto de reformas de que o Brasil necessita desesperadamente … Será, isso sim, a razão para que ele seja mais uma vez postergado.”
Por de trás destas explicitas palavras em defesa das reformas está implícito: vamos matar Temer e Aécio se quisermos ter uma base social para legitimar a aprovação das reformas!
(“Pero no Mucho!”)
A recomposição de um governo indireto, a implementação de uma espécie de parlamentarismo “à judiciário” (por isso a preferência que assuma no lugar de Temer uma figura vinda do judiciário), objetiva que o executivo e legislativo se subordinem às diretrizes do judiciário ou, mais exatamente, se subordinem aos mantos da insuspeitável justiça e sua ética, como prova da necessária “moralização” da casa dos corruptos e, assim, agradar aquela classe média anticorrupção que foi base para o golpe de Dilma.
A fórmula encontrada, (do contrário, diz o Globo: “será, isso sim, a razão para que ele [o projeto de reformas] seja mais uma vez postergado.”) é dar de brinde à classe média um governo como ela sempre quis, ou que sempre foi dito a ela que deveria querer: um governo não “político”, já que política e corrupção são “sinônimos”.
Não está nos planos do clube dos 13 a eleição de Rodrigo Maia ou qualquer outra figurinha carimbada do meio político. Tudo isso atrapalharia a implementação das reformas. Quem insistir tome como exemplo o efeito Temer-Aécio. Os objetivos são claros: eleger por vias indiretas um tipo de “primeiro-ministro” com autoridade “jurídica” ou no máximo “técnica”, que aparentemente não tenha se sujado no mundo da política, das suas falsas promessas e subornos.
Apostam que a classe média não se atentará ao fato de que esta figura vinda do judiciário (ou de outro meio com certificado técnico) já está por aí no mundo fazendo política, que seria eleito por um congresso altamente corrupto (e só seria eleito se se comprometendo com este congresso corrupto) e, mais ainda, que esta base social não se aperceberia que o ilibado governo chegaria ao poder da forma politica mais suja nos marcos da democracia atual, usurpando desta base e de todo o povo o seu poder de decidir. Não se atentando a estes detalhes, creem que conformarão uma base social de apoio às reformas que Temer não conseguiu (a tirar pelo nível de despolitização da classe média admitamos que, neste sentido, eles têm certa razão).
Um governo deste tipo deixaria reinando soberanamente no plano econômico os projetos de Henrique Meirelles. Eis aí o significado da sua promessa do tal “momento certo” em troca dos 308 votos; A sangria, não da corrupção, mas de seus efeitos negativos seriam estancados sob a égide do reino da justiça (um governo indireto) e as medidas econômicas impopulares recaem ao ministro técnico (e não político). Os políticos em troca ganham a “tão sonhada paz” para as eleições de 2018.
Neste quadro atual, em que uma guinada golpista está em desenvolvimento e que ainda não está definido todos os desdobramentos, duas certeza apenas já se desenham. A primeira é a queda de Michel Temer. Se o clube dos 13 será capaz de convencer a Paulicéia de sua tática é outra questão. As velhas raposas ainda contam com o manto (e as malas) da Paulicéia. O clube dos 13 deu seu recado “Temer-Aécio”, mas, ao mesmo tempo, também depende das raposas para conformar seu governo indireto pós-lava-jato.
A outra certeza é que neste jogo entre raposas e lobos o povo não será convidado a jogar, mas, porém, a pagar as despesas do campeonato com a retirada dos seus diretos sociais. As manifestações em Brasília lançaram uma luz distinta da que aqui descrevemos, na medida em que mostrou ser possível um protagonista novo entrar em cena e que a queda de Temer signifique ao mesmo tempo também a derrocada das reformas e do projeto político golpista.
*Silvio Pelegrini é trabalhador da Petrobrás e militante da Intersindical Central da Classe Trabalhadora.
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