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2019 veio acompanhado dos avanços da direita, não apenas no Brasil, mas na América Latina – salvo poucas exceções. Esses governos, não apenas de direita, mas também conservadores e reacionários, intensificam práticas (das quais nunca nos desvencilhamos), para aumentar a exploração e o domínio sobre trabalhador@s: aquelas estruturadas no patriarcado racista, heteronormativo e – por que não lembrar? -, colonialista.
Após um ciclo de governos progressistas, a direita latino americana se reorganiza estruturada em mecanismos antigos e violentos que sustentam o sistema capitalista dependente em que vivemos, como o patriarcado, o racismo e a heteronormatividade. Desse modo, a “família tradicional” ganha protagonismo, bem como o “lugar de mulher”, reforçado pelo trabalho doméstico, pelos diversos tipos de violência e pelo controle da sexualidade, tudo entrelaçado à questão racial. Vale ressaltar ainda o aumento dos diversos tipos de violência, o que inclui a violência do Estado contra mulheres, principalmente, contra as mulheres ribeirinhas, quilombolas, negras, indígenas e camponesas.
No Brasil, as primeiras ações governamentais do presidente eleito e de seus aliados indicam qual o caminho a ser seguido: reforma da previdência; terceirizações; privatizações; fim de órgãos que atendem as populações indígenas e quilombolas; término das políticas para as populações LGBTT, negra e mulheres; escola com mordaça, aliás… se a preocupação é com a “doutrinação”… ela está só começando! Mas seus atores estão no controle governamental e representam os interesses das forças capitalistas dos países considerados desenvolvidos.
Já sabemos que os donos do capital não se importam com nossas vidas, vide o recente caso de Brumadinho. E, quando o Estado se mostra completamente favorável aos interesses desses homens, as políticas implementadas são aquelas que retiram direitos e restringem nossas liberdades, em especial enquanto mulheres. É ingenuidade pensar que as ações de Damares Alves, os PLs que incidem sobre os direitos sexuais e sobre a vida das mulheres e das populações negra e LGBTT não são parte do que se coloca como “pautas gerais” ou que são questões paralelas à engrenagem que expressa o capitalismo dependente que temos vivenciado. Tudo está ligado! Nossas lutas não podem ser resumidas às “pautas identitárias” – como muitas vezes escutamos por aí. É preciso abandonar o antigo debate da esquerda (que nestes momentos reaparece), aquele debate que coloca mulheres, negr@s e LGBTTs como divisionistas ou como pautas de menor importância em relação às pautas “gerais”. Precisamos buscar perspectivas que enxerguem cada peça como parte do que compõe o todo da engrenagem e não como algo paralelo.
Se pretendemos lutar e avançar, é hora de repensar, reformular, estudar os movimentos que levaram a direita a retornar com força no Brasil e em diversos países da América Latina. Estar atentas e aprofundar o debate sobre as ações desses governos, nos fortalecer entre e como mulheres, negras, caribenhas, latino americanas e internacionalistas que somos, ganhando força sem anular nossa diversidade… e, claro, continuarmos nas ruas, de maneira organizada, de forma que possamos marchar em conjunto, combatendo e resistindo!
Vanessa Gravino
Militante do coletivo Essas Mulheres da Intersindical