A Diretoria do Banco do Brasil anunciou nesta segunda-feira, 11, uma proposta de “reestruturação” da instituição que prevê o fechamento de agências, um programa de demissões voluntárias e a extinção de funções. Saiba o que realmente está em jogo na “reestruturação” do BB.
O Banco do Brasil é uma empresa mista de capital aberto, na qual a União é dona da maior parte das ações. Como um banco público sua orientação está vinculada às demandas da população, garantindo atendimento em municípios onde bancos privados não possuem interesse em atuar.
Além disso, o Banco do Brasil hoje possui a missão institucional de oferecer linhas de créditos à agricultura.
Porém, os acionistas privados, com apoio do atual governo, procuram modificar definitivamente a orientação institucional do BB, o transformando em uma instituição financeira orientada exclusivamente para o atendimento dos interesses econômicos dos acionistas.
A chamada “reestruturação” anunciada é mais um passo no sentido de alterar os objetivos do Banco do Brasil, retirando definitivamente seu caráter público.
A proposta de reestruturação, que é um plano de desmonte da estrutura de atendimento à população, pretende dispensar por meio de um Plano de Demissões Voluntários (PDV) mais de 5 mil funcionários, ou seja, 5,4% do quadro de pessoal do banco.
O PDV é composto por duas modalidades: o Plano de Adequação de Quadros (PAQ) e o Plano de Desligamento Extraordinário (PDE). O PAQ trata da transferência de funcionários entre agências e setores do próprio banco, com incentivo a demissão e com a possibilidade de perdas salariais decorrentes dessas mudanças. Já o PDE é um incentivo ao desligamento dos funcionários que atendem os pré-requisitos e possui o prazo máximo de 5 de fevereiro para adesão.
O PDV não afeta apenas os funcionários que realizam a adesão, significa sobrecarga de trabalho para os que permanecem e extinção de vagas, uma vez que são postos que deixaram de existir permanentemente.
A “reestruturação” estabelece alteração em 870 pontos de atendimento do BB. 243 agências serão transformadas em postos de atendimento e 8 postos em agências,145 unidades de negócios serão convertidas em Lojas BB e ainda serão criadas 28 unidades de negócios. O saldo desta mudança será 112 agências, 242 postos de atendimento e 7 escritórios, ou seja 361 unidades fechadas permanentemente.
Em Nota da diretoria do BB – assinada pelo Carlos José da Costa André, vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores – argumenta que a reestruturação é uma “adequação” ao novo perfil de clientes que utilizam meios digitais para efetuar atividades bancárias.
No entanto, o Brasil está longe de possuir uma população incluída digitalmente, quase 50 milhões de pessoas pelo país sequer possuem acesso à Internet. Fechar agências significa dificultar o acesso de praticamente 25% de nossa população. Implica escolher como clientes do BB apenas a parcela da população com acesso à Internet e com poder aquisitivo mais alto.
A “reestruturação” também prevê o fim do pagamento contínuo da gratificação de caixa, estes funcionários passaram a receber como escriturários, que é a função de entrada do banco, com salário significativamente mais baixo.
Já com o fechamento de agências e a mudança para postos de atendimento, funções gerenciais serão extintas. O panorama geral dos funcionários que permanecerem empregados será uma realidade com menor remuneração e maior volume de funções.
Uma das medidas que chama a atenção é a falta de transparência em relação à reestruturação. Não houve por parte da direção do Banco, reunião prévia com o comando nacional dos bancários, e mesmo após o anúncio das medidas as informações seguem truncadas. A direção do banco mantém a sete chaves a lista das unidades a serem impactadas nesta reestruturação, sendo que as informações estão sendo colhidas pelos trabalhadores das unidades impactadas e repassadas aos sindicatos.
Mesmo as Gerências de Pessoas, órgãos regionais de RH do banco, estão desautorizados a tratar dos impactos com os sindicatos ao afirmarem desconhecer os impactos de fechamento de unidades na sua jurisdição. Esta situação é apenas a confirmação cabal da relação de enfrentamento organizada pelo governo Bolsonaro que tenta de todas as formas esvaziar e minar a organização independente dos trabalhadores.
A busca perpétua pelo lucro sem limite
Nos primeiros 9 meses de 2020 o BB alcançou um lucro líquido de R$10,189 bilhões, aproximadamente 4 bilhões serão repassados para os acionistas privados. Uma lucratividade altíssima e imoral se considerarmos o estado geral da economia no contexto do empobrecimento geral da população pelos efeitos da pandemia.
Porém, a medida de “reestruturação” pretende com o corte de pessoal e da rede de agência “economizar” R$ 353 milhões neste ano e R$ 2,7 bilhões até 2025. O que fica evidente é que o BB não pretende com a mudança se preparar para conter mais explicitamente ampliar a margem de lucro em meio à pior crise sanitária da história recente.
Na última quarta-feira, dia 13/01, o governo anunciou a demissão de André Brandão, presidente do BB. Uma manobra que tem como objetivo claro apresentar Bolsonaro como inocente em relação à proposta de”reestruturação”.
É a velha história da tática diversionista do “policial bom” versos “policial mau”. Bolsonaro veste o personagem do “bom policial”, que não tem como conter as medidas do ultra neoliberalismo de Guedes, que é o “policial mau”, responsável pela indicação André Brandão – o ex-CEO do HSBC e do CitiBank – para dirigir o BB.
Bolsonaro demite Brandão, mas não derruba a proposta de “reestruturação”, Guedes finge descontentamento com a demissão, porém garante seu objetivo: dar um passo a mais em entregar o patrimônio público para os rentistas. Um jogo de cartas marcadas e papéis ensaiados.
Após anúncio de demissões e fechamento de agências na última segunda-feira , bancários do BB se mobilizam em todo o país contra a “reestruturação” proposta pela diretoria do banco. Uma série de assembleias foram e estão sendo feitas desde então para organizar a resistência bancária contra a “reestruturação”.
Dia 15 de janeiro é dia de paralisação nacional nas agências do Banco do Brasil, os sindicatos da categoria estão orientando todos os trabalhadores a irem para as agências vestidos de preto, para denunciar as demissões. Um tuitaço está programado para às 11 horas, para divulgar a pauta e dialogar mais amplamente sobre o tema, com a hashtag #MeuBBvalemais e #nãomexenoBB.
Acontecerão plenárias virtuais e semi-presenciais durante o dia 15. Confira abaixo algumas atividades que serão promovidas pelos sindicatos vinculados à Intersindical e parceiros:
São Paulo – Paralisação nas agências.
Santos – Paralisação nas agências e Plenária dos Empregados do BB às 18:30h, na Av. Washington Luiz, 140, Sindicato dos Bancários de Santos e Região, presencial.
Espírito Santo – Paralisação nas agências e Plenária Virtual às 18:30h.
Ceará -Paralisação nas agências e Plenária Virtual às 18:00h.
Pedro Otoni
Secretaria de Comunicação da Intersindical
Róger Medeiros
Diretor de Assuntos Jurídicos do Sindicatos dos Bancários do Ceará
Coordenador do Conselho de Usuários da Cassi/CE
Tópicos relacionados
Rafael disse:
Pena que essa reestruturação esta bem abaixo da potencial realidade que deveria ser feita, assim como exemplo Bradesco e Itau… Canal digital é o futuro, hora de se ajustar e adequar a realidade , ser agente autonomo, e seguir em frente…