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Porque somos contra o retorno das aulas presenciais

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O Brasil passa por uma dura realidade. A Pandemia de Covid-19 em nossas terras, já alcança a cifra de 3 milhões de casos e está muito próximo de 100 mil vidas ceifadas, segundo atualização do consórcio de veículos de imprensa. Triste marca! A situação se torna mais soturna se pensarmos que isso poderia ser evitado. Mas no país, ao contrário, Bolsonaro, desde os primeiros casos, ainda em março, tratava de minimizar essa que é uma das maiores tragédias pela qual humanidade vivencia. Por falas irresponsáveis suas e de sua equipe de governo, bem como pela falta de planejamento e investimento em políticas que poderiam ter barrado o crescimento dos casos, como a efetivação da quarentena, o pagamento de um auxílio emergencial em valores razoáveis que permitisse às pessoas praticarem o isolamento, a não disseminação de fakenews e, por fim, tratar com seriedade o controle à Pandemia.

Diante desse cenário é simplesmente absurda a projeção, feita por diversos governadores estaduais, de datas para o retorno das aulas nas escolas públicas e privadas – nesse caso, sob a pressão de donos de escolas, ávidos para manter o pagamento de mensalidades escolares, via de regra exorbitantes, em dia. Trata-se de uma série de protocolos aventados e que garantiriam a segurança de docentes, crianças e jovens em ambiente escolar – uso de máscaras trocadas a cada duas horas; utilização de álcool em gel constante durante o período de estudos; salas limitadas à 30% de frequência dos matriculados, mantendo distanciamento entre carteiras; adoção do chamado ensino híbrido – decorrente do ponto anterior: o restante 70% de estudantes terá seu aprendizado feito por via de ensino remoto.

Por que isso é absurdo? Primeiro porque se desconsidera toda a cultura escolar, a dinâmica que se dá em um ambiente como o de uma escola, em especial com crianças matriculadas no ensino fundamental 2 – sexto ao nono ano. Nessa fase do desenvolvimento infantil, qualquer professor ou professora sabe que a socialização se dá por meio do contato, das brincadeiras, das conversas bastante próximas – ritual próprio da irreverência adolescente.

No ensino médio, não obstante a maior consciência já formada, é o momento dos primeiros namoros, das selfies, portanto, de agrupamentos. Ora, como não imaginar que nesse cenário o risco para uma contaminação massiva não seja absolutamente elevado?

Não se pode esquecer do assoberbamento dos profissionais da educação. Primeiro, agentes educacionais, que, para além das tarefas já conhecidas de limpeza, de preparação de refeições, de atenção para com alunos e alunas, agora terão também que fazer as trocas de máscaras dos estudantes e, de tempos em tempos, disponibilizar para cada discente uma quantidade de alcool em gel para sua higienização.

Para docentes, o cenário não é mais positivo: com o ensino híbrido, terão que ministrar aulas presenciais e também aulas remotas. Ou seja, dobrarão sua carga de trabalho. Não podemos ser ingênuos e ingênuas e imaginar que governantes que desejam enxugar o Estado e, particularmente, entregar a educação para os tubarões do ensino, irão contratar mais profissionais da educação ou, menos ainda, abrir mais salas de aula. Não, o que veremos será a hiper exploração do trabalho na educação.

Muito provavelmente por todo esse quadro extremamente negativo, começam a surgir iniciativas de rechaço à volta às aulas. No Maranhão, em matéria recente, foi indicado que, após consulta à comunidade escolar, o governo suspendeu o retorno presencial às aulas. No Rio de Janeiro, o Ministério Público já se posicionou contrário ao retorno. No Distrito Federal, às vésperas de um retorno catastrófico, previsto para o dia 27 de julho, a justiça concedeu liminar ao sindicato dos docentes, por entender que existem graves riscos com a aglomeração em escolas.

Por isso, nós chamamos a resistência para barrar a volta as aulas presenciais antes que sejam concretizadas pelas secretarias de saúde. Não há neste momento qualquer indicador que aponte ser segura a reabertura das escolas. Ao contrário, pesquisas sérias indicam uma catástrofe se a reabertura ocorrer. Vale lembrar, uam vez mais, que o Brasil apresenta mais de mil mortes por dia há mais de um mês, sem cessar. É reconhecido que a suspensão das aulas está, por hora, impedindo que esse número de mortes pelo vírus não seja ainda maior. Por isso não é o momento de aglomerar nossos alunos e alunas em sala de aula. Nosso compromisso é com a vida de crianças e adolescentes, os profissionais da educação e a comunidade escolar. Mais vale perder um ano letivo, que pode ser recuperado mais a frente, do que a vida. Cada vida importa! Só retornaremos quando houver uma vacina efetiva!

Agosto de 2020
Setorial da educação da Intersindical

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Comentários

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  1. Rosinaldo dos Santos Brito disse:

    Ninguém mais que eu gostaria de ver meus filhos estudando normalmente sem que eu tivesse que me preocupar com algo que não fosse o seu rendimento escolar. Mais diante do cenário catástrofico que estamos vivendo, prefiro vê-los perder o ano letivo do que vê-los perder a vida. Ano escolar perdido se recupera,vidas, só temos uma, portanto temos que zelar por ela que é o bem mais precioso que Deus nos deu!

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