Em defesa da soberania e da democracia, pelo fim da escala 6×1 e por justiça tributária e social.
NOTA DE CONJUNTURA DA INTERSINDICAL
- A Direção Nacional da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora – reuniu-se em 17 de agosto de 2025 para analisar a conjuntura nacional e internacional, marcada por uma intensa reconfiguração das correlações de força no país e no O cenário atual é atravessado por três eixos principais: a radicalização do imperialismo estadunidense, combate ao golpismo e a extrema direita no Brasil, e a necessidade urgente de defesa da soberania brasileira com protagonismo popular.
1. A nova ofensiva imperialista e a guerra tarifária
- A política externa do imperialismo dos Estados Unidos, sob o segundo governo de Donald Trump, tem assumido feições abertamente agressivas e unilaterais. A guerra tarifária iniciada em abril de 2025 impôs sanções a mais de 180 países, com tarifas de até 145% sobre produtos chineses, 20% sobre produtos europeus e 10% sobre os brasileiros, configurando um ataque frontal à lógica multilateral da Organização Mundial do Comércio (OMC). A estratégia de Washington não se resume ao protecionismo, mas à reafirmação de sua hegemonia monetária e geopolítica, instrumentalizando o comércio como ferramenta de dominação.
- A ofensiva militar israelense sobre Gaza (e em toda Palestina), com o apoio ostensivo dos EUA e de todo o sistema imperialista, aprofundou a crise humanitária mais grave da atualidade. A operação genocida chamada “Carros de Gedeón”“, caracterizada por organismos internacionais como crime contra a humanidade, expõe a conivência das potências ocidentais e a urgência de um cessar-fogo imediato, do fim do bloqueio e da implementação da campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra o Estado sionista. A Intersindical manifesta sua total solidariedade ao povo palestino e repudia a repressão às manifestações de solidariedade, inclusive em solo brasileiro.
- O conflito na Ucrânia, por sua vez, entrou em nova fase com o protagonismo direto de Trump, que tenta excluir Kiev das negociações e enfraquecer a OTAN, mirando um acordo com a Rússia que permita aos EUA deslocar forças para o enfrentamento econômico com a A Cúpula do Alasca, ocorrida no 15 de agosto, revela o reposicionamento estratégico do imperialismo diante da ascensão dos BRICS.
- Aqui na América Latina e no Caribe, o imperialismo estadunidense segue sancionado do ponto de vista econômico e diplomático os povos que optaram por caminhos soberanos em relação ao imperialismo. O fim do bloqueio criminoso à Cuba (que já dura seis décadas) e à Venezuela (duas décadas) é condição para o desenvolvimento soberano dos povos destes países.
2. EUA vs BRICS
- A expansão e consolidação dos BRICS tornaram o bloco a principal ameaça à hegemonia estadunidense. Com quase metade da população mundial e ativos que superam US$ 60 trilhões, os BRICS articulam um novo eixo global baseado no multilateralismo, na desdolarização e na cooperação Sul-Sul. A entrada da Indonésia, o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) sob liderança de Dilma Rousseff e a criação de sistemas de pagamento como o BRICS Pay, possibilita uma alternativa promissora em relação ao sistema financeiro internacional controlado pelo Ocidente.
- A reação de Washington é violenta. Trump tenta sabotar o bloco por meio de sanções, chantagens bilaterais e tentativa de dividir seus membros. No caso brasileiro, o “tarifaço” de 6 de agosto — com aumento de 50% sobre parte das exportações nacionais — é parte dessa estratégia. A medida visa forçar o Brasil a abandonar sua articulação internacional autônoma, favorecer as big techs estadunidenses e sabotar tecnologias nacionais como o PIX, ao mesmo tempo em que pressiona pela liberação irrestrita de recursos estratégicos como lítio, terras raras e petróleo.
- Donald Trump acusa a Justiça brasileira de censura ao criticar a regulamentação das plataformas digitais no país, mas de forma soberba, menospreza que toda atividade econômica realizada no Brasil, inclusive a das big techs, deve estar sujeita à legislação brasileira. A atuação do STF e do TSE para responsabilizar essas empresas na remoção de conteúdos falsos e antidemocráticos é fundamental diante da omissão do Congresso em aprovar o Projeto de Lei das Fake News e transparência dos algoritmos. A defesa de Trump revela interesses alinhados à extrema-direita, que utiliza essas plataformas como ferramentas de manipulação, ataque às instituições e difusão de sua tática Regular as big techs não é censura, é proteger a democracia e a soberania informacional do povo brasileiro.
- A resposta do Governo Lula combinou ação diplomática (OMC), diversificação de mercados (União Europeia e China), medidas de proteção interna aos setores afetados e diálogo com sua base de apoio. O termo “Brasil Soberano” se tornou slogan oficial do Ainda que o impacto direto do tarifaço seja limitado (4% das exportações totais), ele revela uma disputa de fundo: o Brasil não pode mais se manter como fornecedor de commodities sob lógica de dependência. A diversificação comercial e a reconstrução do parque industrial tornam-se tarefas estratégicas.
- Para a Intersindical, o atual cenário geopolítico, é uma janela de oportunidade para os povos do Sul Global, especialmente para o Brasil, recolocando em pauta a soberania nacional e a construção de um projeto de desenvolvimento próprio, sob hegemonia das massas trabalhadoras. É tempo de reafirmar que o Brasil pertence aos brasileiros — e não aos interesses do capital financeiro internacional — e de retomar o debate sobre um modelo de desenvolvimento que priorize nossa soberania econômica, tecnológica, alimentar, energética, financeira, militar…, assim como nossa integração regional e nossa presença soberana no mundo. A crescente ofensiva do imperialismo norte-americano contra os BRICS, cujos países fundadores hoje enfrentam tarifas, sanções e confisco de reservas internacionais — como é o caso de China, Rússia, Irã e Venezuela — exige uma resposta política à altura. É fundamental fortalecer os BRICS como bloco geoestratégico e, ao mesmo tempo, aprofundar a integração latino-americana, investindo em infraestrutura, ampliação do comércio e parcerias multilaterais solidárias. Diante do colapso do sistema multilateral instituído após Bretton Woods e da prevalência da diplomacia da força econômica e militar, cabe ao Brasil, por sua dimensão territorial, recursos e população, assumir protagonismo na construção de uma nova ordem mundial mais justa, multipolar e baseada na autodeterminação dos povos.
3. Golpismo, motim parlamentar e submissão ao imperialismo
- Mesmo sob pressão judicial e com Bolsonaro em prisão domiciliar, a extrema direita segue ativa, articulada internacionalmente e sustentada por redes de desinformação, chantagem e lobby antinacional. O motim bolsonarista no Congresso em agosto de 2025 demonstrou que o golpismo segue como método de ação, com parlamentares tentando impor anistia a golpistas, impeachment de ministros do STF e o fim do foro privilegiado. A atuação de Eduardo Bolsonaro, que precisa ser cassado, diretamente dos EUA, soma-se às denúncias de envolvimento da CIA em ações de guerra híbrida contra o Brasil, reforçando o caráter transnacional da ofensiva reacionária.
- O episódio expôs também fissuras dentro do bolsonarismo, tanto no Congresso como nos governos estaduais, e possibilitou ao governo federal retomar a centralidade do debate popular. A rejeição pública ao apoio a Trump e às sanções impostas ao Brasil abriu espaço para o reposicionamento de Lula, que agora articula uma narrativa de enfrentamento direto à extrema direita, ao Congresso (#congressoinimigodopovo) capturado pelos interesses da elite econômica e da agenda antipopular da Faria Lima; essa nova abordagem ficou conhecida como “Nós contra Eles”, uma síntese fundamental para o estabelecimento de uma demarcação política de massas capaz de mobilizar o país e constituir uma nova maioria política na conjuntura atual, com a exposição pública dos verdadeiros adversários do país e do povo.
4. Avanços nas políticas sociais
- Apesar das tensões, o Brasil registra avanços sociais relevantes. A saída do país do Mapa da Fome da ONU é resultado do fortalecimento de políticas públicas como o Bolsa Família, o PAA e o PNAE, além do apoio à agricultura familiar. A Tarifa Social de Energia, em vigor desde julho, beneficia 60 milhões de pessoas com gratuidade de até 80 kWh mensais, enfrentando a pobreza energética e ampliando o acesso a direitos básicos.
- A retomada da presença da Petrobrás no setor de gás de cozinha e os vetos presidenciais à nova lei de licenciamento ambiental (PL da devastação) também indicam a reconstrução do papel do Estado na defesa da soberania energética e da proteção socioambiental. Essa política deve ser complementada com a Petrobrás retomando também o refino e a distribuição de combustíveis para impedir o abuso de preços dos monopólios do setor contra o povo trabalhador e o desenvolvimento do país.
- A Nova Indústria Brasil (NIB) lançado no ano passado é um programa de reindustrialização que conta com um aporte de R$ 300 bilhões até 2026. O plano é focado na economia verde, buscando não apenas modernizar o setor produtivo, mas também direcioná-lo para a sustentabilidade. A iniciativa abrange seis grandes missões, que vão desde a bioeconomia e descarbonização até a transformação digital e o fortalecimento do complexo industrial da saúde. Entre os objetivos, estão o aumento da participação da agroindústria no PIB agropecuário, o fortalecimento da produção nacional de medicamentos e vacinas para reduzir a dependência de insumos importados, e a digitalização de 90% das indústrias Para alcançar essas metas, o programa utiliza instrumentos como empréstimos, subvenções e participações acionárias, administrados por instituições como o BNDES e a Finep. Diante do cenário atual, de tarifas sobre os produtos primários, o programa representa uma iniciativa governamental estratégica para tornar a indústria brasileira mais competitiva e alinhada com as demandas nacionais e globais por sustentabilidade e inovação.
- Diante da alta inflacionária que impactou diretamente o poder de compra dos trabalhadores no início do ano, com o custo dos alimentos consumindo uma parcela substancial dos salários, o Governo Federal implementou uma série de medidas para mitigar a situação. Entre as ações, houve a redução a zero das tarifas de importação de nove tipos de alimentos essenciais, como carne, café e milho, visando aumentar a oferta e estabilizar os preços. Paralelamente, foram anunciados incentivos aos produtores e a formação de estoques reguladores por meio da Conab, o que contribuiu para uma estabilização ou mesmo queda nos preços a partir do segundo trimestre. Essa resposta coordenada, que resultou na redução do preço dos alimentos antes do “tarifaço” de julho, demonstrou empenho do Palácio do Planalto em aliviar o custo de vida e proteger o poder de compra da população brasileira.
5. Soberania não se negocia
- A conjuntura atual, marcada pela agressividade do imperialismo e avanço do neofascismo, exige das organizações da classe trabalhadora firmeza política e capacidade de mobilização. A tentativa de submeter o Brasil aos interesses de Trump, ao sionismo e ao capital financeiro internacional precisa ser enfrentada com um projeto popular, com base na soberania, na distribuição de renda, na reindustrialização e na democracia real. A Intersindical reafirma seu compromisso com a construção de um Brasil soberano e justo — onde o povo trabalhador seja protagonista e não refém dos interesses do capital e das potências estrangeiras.
6. Tarefas da classe trabalhadora brasileira
- A Direção Nacional da Intersindical em nota pública de 16 de fevereiro deste ano destacava:
“O governo comete o equívoco em tomar de modo fatalista a correlação de forças, e não promover o conflito como elemento central da sua alteração. O governo precisa mostrar a que veio, especificamente informar à população sobre os condicionamentos que vêm sofrendo por parte do Congresso Nacional e do setor financeiro; construir um diálogo público neste sentido pode contribuir para alteração da correlação de forças.”
Os acontecimentos recentes indicam que a análise estava correta, o Governo se mostrava frágil, não por um problema da sua comunicação, como foi anunciado, mas por estar posicionado de maneira passiva frente aos ataques que sofria do Congresso e do setor financeiro. Foi ao entender que não há espaço para avançar na agenda legislativa sem pressão popular, ao reconhecer que a polarização política presente no país é um dado e não uma escolha, ao compreender que o papel do Planalto é liderar o povo e não se restringir às negociações a frio, a correlação de forças se moveu, e o Governo aproveitou a oportunidade do “tarifaço” e da vexatória política de achaque do Congresso Nacional, para se reposicionar e encontrar um eixo de acumulação de forças e enfrentamento ao cerco orquestrado pelo “centrão” e pela extrema-direita.
- É necessário ressaltar que a alteração da correlação de forças atual está longe da necessária para enfrentar os problemas centrais impostos ao país; ainda seguimos com uma taxa de juros incompatível com o desenvolvimento nacional, mesmo com o controle da inflação e a baixa taxa de desemprego, seguimos sofrendo com a precarização do trabalho promovidos pela Reforma Trabalhista, que impede condições mais justas e dignas para a classe trabalhadora. Estamos ainda distantes das expectativas e de dar respostas sustentáveis às necessidades do povo brasileiro, porém o enfrentamento político e a disputa de consciência é a direção certa; como ficou provado: sem luta não há alteração da correlação de forças.
- Neste sentido, o Plebiscito Popular por um Brasil mais Justo representa uma importante iniciativa dos movimentos sociais, partidos progressistas e centrais sindicais comprometidas com os interesses da classe trabalhadora. Em um momento de agravamento das desigualdades, a mobilização tem como objetivo dialogar diretamente com o povo sobre temas fundamentais como o fim da escala 6×1, a urgência da redução da jornada de trabalho sem redução de salários e a injustiça tributária. A proposta de isentar do imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil e taxar os supersalários não apenas evidencia o caráter antipopular do atual sistema tributário, mas também delimita com precisão o antagonismo entre os interesses da maioria trabalhadora e os privilégios da elite econômica. Até o final de setembro, as urnas instaladas em sindicatos, escolas e praças serão expressão viva da organização popular que pressiona o Congresso a romper com o modelo regressivo tanto na dimensão do trabalho quanto da tributação, que penaliza a maioria do nosso povo.
- Assistimos à retomada da iniciativa das organizações populares nos últimos meses, desde de campanha pela redução da Escala 6X1, que mobilizou novas camadas de trabalhadores e trabalhadoras, inclusive com forte participação no 1º de Maio deste ano; até o Breque dos Entregadores e Entregadoras por aplicativo, que gerou uma articulação nacional da categoria e segue se organizando em torno da conquista por trabalho digno. São novos setores que se mobilizam e ganham experiência organizativa a partir da luta e pautas concretas.
- Neste mesmo sentido, as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular convocam para o próximo dia 07 de setembro mobilizações em todo o país com o tema “Quem manda no Brasil é o povo brasileiro!”, reafirmando a defesa pela soberania nacional e da democracia diante dos ataques de Trump e de seus aliados de extrema-direita no país. Mobilização em que a Intersindical está contribuindo com a construção.
- Diante disso, indicamos como tarefas prioritárias deste período:
- Seguir atuando na construção do Plebiscito Popular por um Brasil mais justo, que reforça a luta contra a Escala 6X1, a defesa da redução da jornada de trabalho sem redução de salários, a isenção do Imposto de Renda para que ganha até 5 mil reais mensais e a tributação de quem ganha acima de 50 mil reais
- Taxação das Grandes Fortunas;
- Continuar a política de combate à inflação dos alimentos;
- Redução da taxa de juros;
- Luta pela democracia e condenação de todos os golpistas;
- Revogação das Reformas Trabalhistas e da Previdência;
- Defesa do meio ambiente e a construção de um novo modelo de desenvolvimento frente às mudanças climáticas;
- Valorização do serviço público e contra a Reforma Administrativa;
- Defesa dos pisos constitucionais;
- Revogação das metas fiscais e do arcabouço fiscal como condição indispensável para ampliar os investimentos nas políticas públicas em geral, inclusive no desenvolvimento econômico sob controle popular;
- Pela revogação dos acordos militares do Brasil com os EUA e Israel;
- União nacional em defesa da soberania frente aos ataques de Trump e das big techs;
- Pelo fim do genocídio na
- A Intersindical reconhece o momento atual como uma grande oportunidade de ampliar a consciência da classe trabalhadora em relação aos seus desafios históricos. É o momento de intensificar a luta política e isolar os adversários do país e do povo. Nossa soberania não se negocia.
São Paulo, 17 de agosto de 2025.
Direção Nacional da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora
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