O projeto neoliberal, representado pelo governo Macri, não apenas perdeu as eleições argentinas neste domingo (27), mais do que isso, foi desmoralizado diante à contundente vitória no 1° turno da chapa peronista Alberto Fernández – Cristina Kirchner com 48% dos votos. As políticas de “austeridade” levaram à elevação da pobreza e a resposta das urnas não tardou.
Não há dúvida que a retomada neoliberal aos governos da América Latina sofreu um revés importante no último mês. Um rastro de descontentamento se alastrou pelo continente, passando pelo Peru, Equador, Chile e agora Argentina. Nos três primeiros a resposta está sendo dada nas ruas, são rebeliões populares típicas; já no caso argentino, depois de anos de protestos praticamente diários, as urnas cumpriram o papel de colocar fim a carreira presidencial do Chicago Boy Maurício Macri.
Não é uma derrota qualquer, o naufrágio do governo Macri desequilibra a correlação de força regional e coloca na defensiva os governos neoliberais, em especial no Brasil, Chile e Equador, além de influenciar os resultados das eleições uruguaias, dando à Daniel Martínez , candidato à presidente da Frente Amplio, um certo apoio, se considerada a influência argentina entre os uruguaios. Importante ainda destacar, que a vitória do peronismo na Argentina, reforça a legitimidade de Evo Morales, reeleito na Bolívia e que tem sido alvo de tentativas de desestabilização por parte dos grupos pró-imperialistas derrotados nas eleições do dia 20 de outubro.
Segundo Júlio Gambina, Professor da Universidade Nacional de Rosário e Presidente da Fundação de Investigações Sociais e Políticas da Argentina, a vitória foi possível porque existia algumas condições importantes: 1) grande desgaste da agenda neoliberal de Macri, mesmo assim obteve 40% dos votos; 2) Cristina Kirchner soube aproveitar seu capital político e anular parcialmente seu desgaste quando se coloca com vice-presidenta; 3) Fernández consegui atrair governadores, antes rompidos politicamente com Cristina, para sua campanha, um “peronismo unido” contra o neoliberalismo.
Mesmo com os esforços de Macri para forçar um 2° turno, o resultado das primárias praticamente se repetiu, sem ampliação de votação significativa entre as duas principais candidaturas.
Para Gambina, é possível que exista uma tendência se desenvolvendo na Ámerica Latina, uma nova vaga histórica de governos progressistas, haja vista a vitória de Evo (Bolívia), Fernándes (Argentina), forte possibilidade de vitória no 2°turno de Martinez (Uruguai) e ainda crise de governos neoliberais no Brasil, Peru, Equador e principalmente Chile.
Como de costume os bancos e fundos de investimentos entraram no período de especulação, com a desvalorização do peso argentino frente ao dólar. Porém, Fernández aponta para saída negociada e soberana frente à divída argentina, o que pode desarmar a chantagem da banca até a posse em dezembro deste ano.
Fernández é um político experiente, participou dos Governo de Nestor e Cristina Kirchner como chefe de gabinete, mesmo com tensões com sua atual vice-presidenta, demonstrou grandeza ao aceitar a atual composição, o que se mostrou um acerto político importante. No comício da vitória, não se furtou a mencionar a necessidade de liberdade para Lula. Novos ventos sopram o sul.
Texto: Pedro Otoni
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