Os conglomerados midiáticos nacionais exercem papel central na crise política que culminou com a admissão do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O tratamento hostil dos grandes meios não só ao governo, mas aos movimentos sociais e a toda e qualquer iniciativa social de contraponto ao modelo liberal, requer do movimento de defesa da democratização da comunicação e estratégias de atuação cada vez mais incisivas. Esse foi o entendimento geral da XIX Plenária Nacional do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC), que reuniu cerca de 140 pessoas, entre delegados, observadores e convidados, no Espaço Anhanguera, em São Paulo, de quinta (21) a sábado (23).
Rosane Bertotti, coordenadora geral do FNDC, analisou que há um movimento de unidade entre os conglomerados de telecomunicações e de radiodifusão para fortalecer o grupo liderado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o vice-presidente Michel Temer. “Antes, as teles e a radiodifusão atuavam cada uma pro seu lado. Agora, estão cada vez mais unidas no apoio ao golpe em curso, junto, inclusive, com o Judiciário”.
Rosane lembrou da afirmação de Dilma, ainda em 2014, de que a regulação da mídia seria uma das agendas centrais de seu segundo mandato. “Com o avanço da conjuntura, fomos percebendo essa intenção como algo cada vez mais distante. Se conseguirmos reverter esse golpe, não podemos mais aceitar um governo que não executa a pauta para a qual foi eleito”, afirmou.
Para o professor João Sicsú, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o grupo liderado por Temer-Cunha é o grupo que pretende governar com base na concentração de renda e riqueza. Segundo ele, a primeira medida de um governo liderado por esse bloco seria o “sequestro” do Orçamento Geral da União para transferir juros e subsídios para grandes empresas e blogueiros.
Grupo Temer-Cunha se baseia na concentração da riqueza
“O orçamento é o grande instrumento de concentração de renda e é isso que está em jogo: quem pega a maior parcela do orçamento. Eles não querem regular a economia, querem que a dinâmica da economia seja controlada por grandes empresas”, observa.
Para Sicsú, ambos os projetos, Dilma-Lula ou Temer-Cunha, “são difíceis”. “A segunda, inclusive, também será ruim para a classe média alta, pois sem distribuição de renda não há consumo e os negócios deles também não irão bem, então, a melhor chance é o primeiro projeto, desde que sem continuidade das medidas de ajuste.
“Se a primeira opção, Dilma-Lula, for vitoriosa, está óbvio que será coordenada pelo presidente Lula e precisará de uma grande virada para corrigir os erros cometidos pelo governo desde 2011”.
Também na opinião de Sicsú, a crise pode ser “driblada”, mas isso dependerá, num cenário de continuidade do governo Dilma, de recomposição da base social. “Temos que voltar a gerar empregos e não enfrentar a crise propondo reforma da Previdência e corte de gastos, como vem fazendo o governo Dilma”, enfatizou.
“Dinheiro na mão de pobre e de trabalhador é sempre bom, porque eles gastam tudo que recebem, e isso é bom para a economia. Nenhum dinheiro que cai no Bolsa Família vai para Nova Iorque ou para a bolsa. Infelizmente, o governo Dilma enfrentou a crise, agravada pelo contexto internacional, colocando dinheiro na mão dos empresários, e empresário não gasta, por isso a economia começou a piorar”.
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