“Curuguaty – carnificina para um golpe” denuncia papel da mídia e conclama solidariedade com os camponeses presos políticos. Livro será lançado quinta-feira (09) em São Paulo.
Neste mês de junho, quatro anos de solidariedade aos sem-terra presos políticos de Marina Kue, no Paraguai, vão virar livro. “Curuguaty – carnificina para um golpe”, do jornalista Leonardo Severo (Editora Papiro, 212 páginas, R$ 25), retrata a resistência dos movimentos sociais da pátria Guarani para fazer valer os direitos dos camponeses – com a efetivação da reforma agrária e a mobilização das entidades populares, do país e de todo o mundo – a fim de garantir a sua absolvição.
Nas terras paraguaias de Marina Kue, Curuguaty, no dia 15 de junho de 2012, foram mortas 17 pessoas – seis policiais e 11 camponeses. O “confronto” envolveu 324 policiais, tropas de elite treinadas pela CIA e pelo exército dos EUA fortemente armadas com fuzis, bombas de gás, capacetes, escudos, cavalos e até helicóptero. Do outro lado, 60 trabalhadores sem-terra, metade deles mulheres, crianças e anciãos. O sangue derramado, vertido para as manchetes dos jornais e emissoras de rádio e televisão, inundou o imaginário coletivo de mentiras, como a de que a tropa teria sido “emboscada” e de que os camponeses não ocupavam organizadamente uma terra pública, mas formavam uma força “terrorista” que buscava tomar uma “propriedade particular”. Manipulada pela oposição, a mortandade levou à cassação do presidente Fernando Lugo uma semana depois.
Apontando a ingerência estrangeira por trás dos acontecimentos, este novo livro do jornalista Leonardo Wexell Severo demonstra como o capital monopolista nacional e os cartéis transnacionais atuam em fina sintonia contra a democracia e a soberania. Mais do que denunciar o processo-farsa que mantém 11 trabalhadores privados de liberdade pelo governo de Horacio Cartes, o autor faz uma exortação à luta por justiça.
SERVIÇO
Lançamento “Curuguaty – carnificina para um golpe”
Dia 9 de junho – quinta-feira – Das 18h30 às 21h30
Livraria Martins Fontes – Avenida Paulista, 509 (Próximo ao Metrô Brigadeiro)
Leia abaixo a entrevista com Leonardo Wexell Severo:
A temática latino-americana tem sido uma constante em seu repertório. Na sua opinião, qual o peso que teve Curuguaty no golpe contra Lugo?
Nas terras paraguaias de Marina Kue, Curuguaty, foram assassinadas 17 pessoas – seis policiais e 11 camponeses – em 15 de junho de 2012. O “confronto” envolveu 324 policiais, tropas de elite treinadas pela CIA e pelo exército dos Estados Unidos fortemente armadas com fuzis Galil, AR-15, AK47, bombas de gás, capacetes, escudos, cavalos e até helicóptero. Segundo a versão dos agressores, desmentida pelos fatos e pelas provas exibidas ao longo do livro, este verdadeiro exército teria sido vítima de uma “emboscada” por parte de 60 trabalhadores sem-terra, metade deles mulheres, crianças e anciãos com alguns facões, foices e espingardas velhas. O sangue derramado em prol da família de Blas Riquelme – que se advoga “dona” desta terra pública, sem apresentar qualquer título de propriedade – foi vertido para as manchetes dos jornais e emissoras de rádio e televisão, que se alinharam caninamente contra os “vagabundos”, “invasores” e “criminosos”. Desta forma, o interesse do grande capital inundou o noticiário com todo tipo de patifarias, enquanto silenciava sobre os que foram abatidos com tiros à queima-roupa depois de rendidos e esmagados por patas de cavalo. Nada sobre a dor dos filhos que ficaram sem pais nem dos pais sem filhos. Campanha midiática movida contra pessoas com calos nas mãos, fome, sede e sonhos de justiça. Eficientemente manipulada pela oposição parlamentar, a mortandade fazia parte de um plano – bem orquestrado – com objetivo claro: a cassação do presidente Fernando Lugo e a entrega ao vice, o golpista Federico Franco, ocorrida uma semana depois.
É uma denúncia sobre um processo viciado e das injustiças daí decorrentes?
Mais do que denunciar um processo-farsa que mantém 11 trabalhadores rurais privados de liberdade há quase quatro anos, dou voz aos que foram silenciados pelo tilintar dos cifrões, a fim de contribuir com a imediata libertação dos sem-terra, presos políticos de Horacio Cartes. Publico aqui parte da meia centena de artigos e reportagens que realizei ao longo do julgamento, que acompanho na qualidade de Observador Internacional cadastrado junto ao Tribunal de Sentença, em Assunção. A parceria dos jornais Hora do Povo e Brasil de Fato, das revistas Fórum e Diálogos do Sul, da Agência Carta Maior, da Rede Brasil Atual, do Portal da CUT e do site Ópera Mundi, entre outros, foi decisiva para a popularização do tema. Esta publicação não seria possível sem a valiosa contribuição da Articulação Curuguaty, responsável pela intensa, destemida e dedicada ação de solidariedade, e sem o empenho e abnegação dos advogados Vicente Morales e Guillermo Ferreiro, condutores da causa pela maior parte do tempo. Contei também com contribuições valorosas, como a do companheiro Nicolás Honigesz, da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA).
O processo judicial ainda está correndo. De que forma isso impacta na publicação?
Como o livro foi encerrado com o processo em andamento, é natural que permaneçam lacunas, pelas quais pedimos a compreensão de todos. Também nos deparamos com dificuldades, com fraudes e falsificações feitas pela polícia, como no caso do piloto do helicóptero que sobrevoou o local, Marcos Agüero. Ele teve o seu nome divulgado durante três anos e meio pela polícia como “o piloto que sobrevoou Curuguaty”, o que foi reproduzido pela mídia, sendo jamais contestada a sua presença no local. Marcos morreu em um acidente em agosto de 2015 sem ter sido ouvido, o que levanta muitas suspeitas. Agora, convenientemente, o comando da polícia informa que o piloto era outro, de nome Wilson Agüero, que passa a testemunhar em favor do operativo militar. Assim, ao mesmo tempo em que tenta aplacar as dúvidas sobre a morte de Marcos, coloca uma versão afinada aos desígnios nada confiáveis da promotoria. Feitas pequenas adaptações para que o texto não ficasse redundante, exponho acontecimentos que auxiliam na compreensão das covardes ações de um governo parceiro dos grandes latifundiários – criadores de gado, plantadores de soja transgênica e drogas – e inteiramente submisso aos cartéis transnacionais como Bunge e Cargill.
Qual a sua expectativa deste livro-reportagem?
Acredito que a leitura será de grande valia para maior entendimento da intensa e crescente disputa política e ideológica que sacode o Paraguai, o Brasil e a América Latina. Diferente do caminho neoliberal do “ajuste fiscal”, com suas privatizações/concessões e desmonte de tudo o que é público, precisamos de juros baixos para fomentar a produção; realizar a reforma agrária, garantindo terra a quem nela mora e trabalha; fortalecer o mercado interno, com valorização dos salários e garantia de direitos; democratizar os meios de comunicação e acelerar a integração dos nossos povos. Na minha avaliação, é preciso libertar os Estados do poder corrupto e corruptor dos capitais monopolistas nacionais e estrangeiros. Minha expectativa é que estas linhas sirvam de estímulo à luta sem trégua pela afirmação da soberania, para virarmos a página de alienação e submissão ao imperialismo, a fim de construirmos, ombro a ombro, a Pátria Grande sonhada por Simón Bolívar.
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Onde comprar? R$ 25,00 na Livraria Martins Fontes
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