Após jornada de greves de 24 horas, paralisações e cinco mesas de negociações o IGMetall, Sindicato dos Metalúrgico da Alemanha, chegam a um acordo com as principais empresas do ramo. Entre os termos do acordo estão a redução da jornada de 35 para 28 horas semanais, aumento de 4,3% no salário – a reivindicação era de 6% – e ainda a participação nos lucros das empresas.
O acordo foi antecedido por uma greve de 24 horas nas principais empresas metalúrgicas da Alemanha, gigantes como a Airbus, a Daimler, BMW e Bosch, custando ao patronato aproximadamente 200 milhões de euros (800 milhões de reais).
Depois de 13 horas de negociação na cidade de Stuttgard, sede de empresas estratégicas no ramo, o acordo foi firmado entre o patronato e o IGMetall, que representa 3,9 milhões de metalúrgicos em toda Alemanha.
O Público.pt noticiou que “os trabalhadores abrangidos irão receber um pagamento único de 100 euros, relativo ao exercício fiscal do primeiro trimestre. É um valor extra, não repetível, que a partir de 2019 se converterá em um pagamento único de 400 euros por cada ano, ao qual acrescerá outro pagamento anual extra correspondente a 27,5% do salário mensal de cada um. Porém, este montante pode ser convertido em menos horas de trabalho por quem preferir uma jornada laboral mais leve – o que acontecerá de qualquer forma, visto que uma das alíneas do acordo agora firmado prevê a redução das 35 horas de trabalho semanal para 28, para quem tiver filhos menores, familiares doentes ou idosos. Uma medida que será válida por um período de dois anos.”
O acordo no entanto não é definitivo, tem um prazo de vigência de 27 meses, e abrange 900 mil trabalhadores do sudoeste do país, e pode servir de referência para outras regiões e ramos profissionais.
Helmut Weiss, jornalista do portal Labournet.de, salienta que o acordo possui contradições que merecem ser discutidas. A primeira delas é seu caráter restrito a algumas regiões do país. A região da antiga Alemanha Oriental não foi contemplada no acordo; lá as negociações serão feitas empresa por empresas, o que diminui as chances vitória. A segunda questão é que o acordo só é válido para empresas em condições econômicas boas, aspecto que será também debatido em cada unidade fábril.
Um terceiro aspecto relevante é que o acordo contempla apenas 10% dos trabalhadores e permite que a empresa eleve para 40 horas a jornada de trabalho de 50% dos seus empregados, 5 horas a mais do que o teto de horas do setor que é de 35 horas semanais.
Weiss avalia que o acordo acaba por ampliar a divisão e disputa entre os trabalhadores, pois para um mesmo ramo de atividade existiram condições de trabalho drasticamente diferenciadas.
Segundo Weiss, a assinatura do acordo é produto de um contexto político sensível. Nas últimas eleições parlamentares, o partido de extrema-direita – Alternativa para Alemanha (AlternativefürDeutschland, sigla AfD) – obteve 13% dos votos e entre os sindicalizados seu eleitorado alcançou mais de 16%. Este fato será aproveitado pela AfD nas próximas eleições de comissões de fábrica que ocorreram em abril e maio deste ano, a previsão é que a extrema-direita faça uma forte campanha entre os trabalhadores e procure se enraizar no movimento sindical alemão.
Ao garantir as 28h semanais, mesmo que muito limitadas, O IGMetall pretende conter o avanço dos extremistas de direita entre os trabalhadores.
Na dimensão econômica este acordo é celebrado em um período de expansão da economia alemã, que cresceu 2% (2017) – uma taxa relativamente alta para países desenvolvidos -; o aumento de 2,2% das encomendas da indústria no final de 2017, e em especial os bônus gerados pela posição de destaque que a Alemanha possui na União Europeia, tida como motor econômico e principal beneficiária da Zona Euro.
Este último fator é fundamental, desde a fundação da União Europeia e o estabelecimento do Euro como moeda comum dentro da área de livre comércio, a Alemanha – por possuir o parque industrial mais desenvolvido – transformou os demais países em sua periferia próxima, conseguindo uma balança comercial positiva com os seus vizinhos, garantindoassim sua posição de liderança econômica e política.
As 28 horas são uma vitória restrita, mediada pelas condições específicas da política e da economia alemã. Fortalece politicamente o sindicato frente a extrema-direita política, porém ainda é insuficiente para modificar a correlação de força frente ao empresariado.
INTERSINDICAL – Central da Classe Trabalhadora
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