Camponesa, militante e mãe de santo, Bernadete Souza integrou a plenária de abertura do 1° Encontro de Mulheres da Intersindical trazendo um relato sobre como as políticas de crédito incentivam a expansão do agronegócio e da agroindústria em detrimento dos pequenos produtores rurais e das pessoas que vivem no campo.
“É mais fácil sair da roça para comprar molho de tomate pronto do que cultivar o tomate na roça. Porque neste estado em que estamos a política não nos permite ter acesso a crédito para a gente plantar e comer. Não há mistério pra plantar, mas os incentivos são apenas para os grandes produtores e o crédito barato é para aqueles que usam veneno”, afirmou.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o cidadão brasileiro consome, em média, 7,5 litros de veneno por ano em consequência da utilização de agrotóxicos. Em estados como o o Rio Grande do Sul este nível é ainda mais elevado, chegando a 8,3 litros.
Bernadete Souza disse travar uma luta contra o agronegócio e pela liberdade religiosa. “Terra, fogo, água e ar, são as forças dos orixás e as forças que a gente cultua. Imaginem, nós, de uma religião de matriz africana, cultivamos nossas plantas e ervas medicinais para a cura e ainda sofremos com a perseguição dos evangélicos que querem transformar o nosso bolinho de oyá em bolinho de Jesus”.
“O agronegócio está derrubando matas, entupindo rios, destruindo nascentes, as barragens que foram feitas destruindo vidas em nome da mineração. Vamos cruzar os braços e achar que isso não tem nada a ver com a gente? Temos que fazer uma reflexão em relação a isso”, destacou.
“As indígenas estão sendo massacradas de uma forma perversa. No sul da Bahia tem as mulheres que são mortas por fazendeiros. Companheiras e companheiros, vamos ficar de braços cruzados? “, questionou.
Outro item destacado por Souza foi o desrespeito com as mulheres mais idosas, da zona rural. “Mulheres que nasceram na roça tem mão de obra diferente da zona urbana e qual idade para se aposentar? Uma mulher de 50 anos na zona rural já tem útero baixo, bexiga caída e dor na coluna. Tem que ter uma política diferenciada para as camponesas”, explicou.
Epidemia de aedes egypti
“O zika vírus está aí. Todo o dia a gente vê a propaganda de não guardar o pote de água, mas e a política de saúde? Quem questiona? Não temos resposta do Estado sobre o que estão fazendo ou não. Parece que é nossa culpa que o aedes egypti está aí porque guardamos água em vasilha”, explicou.
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