O relato que segue abaixo é de um ex-funcionário do banco Bradesco, indignado com o corte do café da manhã que o banco sempre serviu nas agências e nos departamentos.
Ele fez uma rápida pesquisa com trabalhadores de duas agências, identificando o lucro que o banco está almejando potencializar ao cortar um simples café da manhã que é servido aos funcionários.
Simples, claro, para o banco. Para os trabalhadores, este é um complemento que faz muita diferença em suas jornadas de trabalho.
Para além do corte no café da manhã, o banco também está cortando o serviço de quem atuava para servi-lo. Trabalhadores terceirizados que atuavam nesta área do banco serão demitidos em função do corte dos cafés.
É importante ressaltar que, apesar de o Bradesco estar fazendo este ajuste para potencializar seu lucro, mesmo com a pandemia ele está apresentando um bom desempenho para os investidores. Uma reportagem da InfoMoney desta quinta feira (30) relata que os resultados do banco foram bastante positivos, frente a outros bancos.
Além disso, a política de demissões do banco segue “de vento em polpa”. Nos últimos 12 meses o Bradesco acabou com 2.411 postos de trabalho e fechou 414 agências. Apenas entre abril e junho deste ano, quando já estávamos no período de pandemia, 447 postos e 223 agências foram fechados.
Leia abaixo o relato do funcionário:
Fiz uma breve pesquisa e levantei que 56 trabalhadores de apenas 2 agências aqui de SP, consumiam, antes da pandemia, igual número de lanches pela manhã. Entre eles, os vigilantes e o pessoal da limpeza que, como sabemos, são vulnerabilizados por baixíssimos salários. Muitos deles, inclusive, não-raro, levam para casa os lanches eventualmente não consumidos.
Acho que nem é preciso especular muito sobre o significado, para esse pessoal, do corte desses lanches que o Bradesco fará a partir de 1° de agosto. Até porque, o foco aqui será outro.
Desse modo, digamos que, desses 56 trabalhadores, 40 sejam do efetivo do banco e que, em média, levem 15 minutos para tomar o lanche matinal..
Concluíremos que esse corte, para além da economia mensal em torno de R$4.300 (devemos incluir o leite, o achocolatado, o café, o açúcar e o adoçante), o Bradesco abocanhará 10 horas de trabalho por dia útil ou 220 horas/mês, só nessas 2 agências, o que equivale a praticamente um mês de trabalho de um funcionário de 8 horas.
Isso, porque os funcionários do banco registram o ponto antes do breakfast.
Neste sentido, depois do dia 1°, o tempo de lanche virará tempo de exploração do trabalho e, portanto, de geração de lucro e de estresse.
Notem:
O Bradesco não só ganhará avançando gananciosamente sobre os lanches dos trabalhadores: lucrará com essa exploração adicional do trabalho, e, perigosamente , se apropriará de todo o tempo que esses trabalhadores tinham para o “café” da manhã.
É o Tempo-Lanche, digamos assim, se transformando em Tempo-Trabalho.
É preciso lembrar que esse Tempo-Lanche, era também, Tempo-Descontração, Tempo de se preparar para labuta e, sobretudo, Tempo de acolhimento.
O perigo da apropriação, desse tempo, reside no fato que se não aumentar a produtividade do bancário, esse tempo-trabalho, necessariamente, se transmutará em “tempo-ocioso”. Ou seja, se, mesmo aumentando seu tempo de trabalho, o trabalhador entregar o mesmo resultado médio que já entregava, significará uma queda na produtividade do trabalho e veremos um imenso espaço para o Bradesco cortar na carne: Demitir até onde der.
Tentem imaginar, também, quanto esses 15 minutos médios, resultariam de tempo-trabalho, se multiplicado não por 40 trabalhadores, como o caso concreto que analisei, mas por todos os funcionários do banco. Certamente, resultaria num número colossal!!!
Outra coisa, imaginem uma hipótética demanda de 80 mil lanches/dia, desaparecendo como num passe de mágica. Multiplique-se isso por 22 dias úteis e chegaremos a impactantes 1.760.000 lanches todo santo mês.
É claro que tamanha queda na demanda, também gerará desempregos indiretos.
Um exemplo, é a empresa Sapore que produz e serve lanches nos prédios da Matriz.
Uma boa parte dos trabalhadores desta empresa estão, neste exato momento, sob aviso prévio. Ou seja, a partir de sexta-feira (31/07) estarão no olho da rua, piorando as estatísticas de desemprego e, sobretudo, aumentando o sufoco e o sofrimento de suas famílias.
No final de abril, nesse contexto de pandemia, o Bradesco iniciou uma campanha cuja a primeira fase foi dirigida a “empreendedores”, com o mote “Aguente Firme. Vai Passar.”
Agora, a referida campanha publicitária pretende ampliar o seu publico, como sugere Nathalía Garcia, superintendente executiva de Markrting do banco: “Esta campanha reafirma que o Bradesco está ao lado dos brasileiros em todos os momentos e, mais do que isso, mostra como esse apoio se concretiza na prática”.
Silêncio, porque, com uma conversa dessas, o boi já foi dormir
Chega a ser cruel…
Dorme boi, porque estamos com um problemaço nas mãos.
Mauro Dias – 29/07/2020
Ex-funcionário
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