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“A nossa conjuntura deu uma virada há dois meses. Até 15/03 estávamos fechados à possibilidade de luta. O governo vinha com um trator e a gente a pé. Mas agora temos como nos fazer ouvir através da luta política”. A declaração foi dada pelo jornalista e professor de Relações Internacionais, Gilberto Maringoni, durante a reunião de análise de conjuntura da Intersindical Central da Classe Trabalhadora.
“Temos uma janela de unidade entre a esquerda e de confusão momentânea na direita. Só com o aumento das lutas sociais a gente coloca a luta política num patamar mais elevado”, afirmou.
“O dia 10/06 é especial para a luta dos trabalhadores. As trabalhadoras do cotonifício Crespi , em São Paulo, pararam as atividades há cem anos exigindo creche para os seus filhos. Os patrões negaram, a greve se espalhou por outras fábricas da Mooca, Belenzinho.. Naqueles tempos havia guerra na Europa, falta de produtos, queda da venda de café, a greve foi aumentando. Se eles conseguiram isso há exatos 100 anos nós também podemos conseguir”, relembra o professor.
Maringoni ressalta os pontos significantes do período que estamos vivendo. Segundo ele, a esperança para a classe trabalhadora de reverter essas contra-reformas se inicia no dia 15/03 com o ato na Av. Paulista, em São Paulo, contra a Previdência, que dividiu a classe burguesa e conseguiu conclamar para a luta outras pessoas além da esquerda .
“Os argentinos têm uma saudação entre eles que expressa bem aquele momento. Eles dizem antes dos atos: ‘Espero no encuentrarlo’. Pois se a gente não se encontrar no ato significa que ele é grande e que mais gente nova há. E foi o que aconteceu naquele dia. Ali pegamos no nervo das pessoas, o fim da aposentadoria”, relata.
A partir dali, segundo Maringoni, “se abre a luta política no país” com um governo que gastou a rodo com a propaganda da Previdência, mas perdeu ali a batalha da comunicação. “A burguesia começa a ficar dividida. E essa divisão tem data: 15/03”.
O entendimento correto das pessoas em 15/03, para ele, foi: “qualquer iniciativa do governo é para retirar direitos”. Nesse sentido Maringoni alerta para a necessidade de colocar a luta contra as reformas no centro dos debates cotidianos. “temos que dizer: é luta contra a aposentadoria, contra a carteira de trabalho, contra não poder mais acionar a Justiça do trabalho, tem que mostrar que mexe no bolso”.
Segundo ele, o que possibilitou o governo Lula em 2002 foi a divisão das classes dominantes, a queda do real, do lucro, que levou que parte do empresariado (comércio e setor produtivo) a se afastar de FHC. “As empreiteiras são o único setor da burguesia que depende de compras estatais. Então são a favor das privatizações, mas não dos cortes no orçamento, porque isso implica em menos para elas. Elas financiaram a campanha do Lula e depois ele se separou do setor financeiro. Basta ver os financiamentos da campanha do Serra e do Lula em 2006. É claro que eles contribuem com os dois lados, mas há predominância do sistema financeiro do lado do Serra e das empreiteiras do lado do Lula”.
Houve uma “conjuntura internacional atípica”durante o governo Lula. “Na Carta ao Povo Brasileiro, que Lula publicou antes da eleição de 2002, dizia algo impossível: mudança para os debaixo e continuidade para os de cima. Isso só foi possível pela mudança da conjuntura internacional que houve naquele momento, pela aceleração da economia chinesa, uma conjuntura atípica em 2004 a 2010 que permitiu dividir o bolo com os de cima e os debaixo”.
Mas quando essa unidade das classes dominantes possibilitada pelo ‘ganha ganha’ chinês ficou quase à deriva, o segundo governo Dilma faz uma clara escolha pelo mercado financeiro e a direita entra com tudo para aprofundar as reformas e deixar uma divisão menor do bolo para os trabalhadores e mais pobres.
“A Lava Jato não vem para cima dos bancos. Vai para os quadros do governo Lula e o setor da burguesia mais ligado ao Estado. Por que vão paralisar a Lava Jato quando eles vão pegar os bancos?”, questiona o professor.
Maringoni explica que em o 17/04/16, quando houve o impeachment de Dilma, as classes dominantes estavam unidas, algo que não se via desde 2002.
Como foi construído esse impeachment de Dilma Rousseff: parte não sabia que rumo tomar. “Em outubro, novembro de 2015, a Fiesp solta entrevista do Paulo Skaf (Fiesp) dizendo que o impeachment era loucura. O Setúbal, do banco Itaú, diz que o impeachment vai paralisar todas as atividades econômicas. Fabio Rocha, da Riachuelo, foi o primeiro a falar contra: nós vamos pelo impeachment. Ficou uma certa disputa. O que se sacramenta depois do impeachment é a unidade da burguesia, do Paulo Skaf (Fiesp), que é o médio empresariado, que é parte do setor produtivo e parte rentista. Não havia a montagem completa do governo Temer até quando o PT vota contra Eduardo Cunha na Comissão de Ética e ele resolve colocar o impeachment em votação. Os outros se unem”.
A montagem do Temer ainda não estava terminada. “Vários ministros caem, é um governo em crise, assim como agora com as delações da JBS. E então as classes populares conseguiram uma unidade maior que não haviam conseguido durante o governo Lula.As centrais sindicais também. Muitos estão vindo pra cá a não ser que o Temer dê o imposto sindical para eles. Temos que aproveitar esse momento”, conclama Maringoni.
Há um descasamento de agendas, o governo está em cordas, foi absolvido pelo TSE, mas Temer está isolado, na visão do professor.” Por que um governo com esse grau de ilegitimidade consegue dar curso a essas reformas? Não foi o Temer que formulou o programa Ponte para o Futuro, foi o sistema financeiro. A PEC 55 é a que interessa ao capital PSDB ameaça sair do governo mas continua a favor das reformas. Meirelles diz que fica mesmo se Temer sair. O problema com a Dilma foi que ela não colocou na velocidade que eles queriam”, explica.
“Nosso problema agora é como derrotar as agendas. Podemos estar em crise de hegemonia porque o sistema político perdeu a credibilidade, mas ele não caiu. Gramsci falava que hegemonia era coação e convencimento. Lula convenceu porque as pessoas melhoraram de vida. Se eu não consigo dominar um país, tenho que botar polícia na rua, conter rebelião. E é o que está sendo feito até certo ponto com a escalada exponencial da violência, 308 mil mortes com armas de fogo nos últimos 10 anos para conter a manifestação social. A Justiça lida a seu bel poder. A luta de classes está escancarada. O governo Lula tinha uma calma social no País, mas agora que o bolo fica menor eles precisam avisar com violência. O ministro do TSE fazer aquele gesto de cortar cabeça…”
Muita gente coloca que se resolve o problema em 2018. Maringoni discorda. Diz que o cenário que a direita quer construir é de eleições sem Lula. “A classe dominante está com ódio. A campanha com Lula é uma coisa, sem ele é outra. Porque ele sabe falar para as massas, saiu da bolha. Em 2018 teremos um governo engessado pela PEC 55 (congelamento dos investimentos públicos por 20 anos) e que pode não reverter a Previdência e a reforma do trabalho com a precarização. A hora é agora”, sustenta.
“A Globo nos ajuda quando fala na minissérie sobre as ‘Diretas Já’, mas não vamos achar que ela está do nosso lado. A Globo tem batido no Temer e ele tem se mantido. Quando ela investiu na derrubada do João Goulart, Collor e Dilma conseguiu. Agora com o Temer não está conseguindo. E como fica isso? É um nó das classes dominantes. Essa janela de unidade da esquerda e de confusão momentânea da direita se dá na tática, não na estratégia. Temos que aproveitar isso. Só com o aumento das lutas sociais, greve e povo na rua, a gente coloca a luta política num patamar mais elevado”.
INTERSINDICAL – Central da Classe Trabalhadora
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