De acordo com o Ministério da Saúde, a definição de LER/DORT é ‘um fenômeno relacionado ao trabalho. São danos decorrentes da utilização excessiva, imposta ao sistema musculoesquelético, e da falta de tempo para recuperação’
Mas, o que isso significa?
Significa que são machucados causados aos nervos, músculos, ossos, ou tendões.
Os tendões fazem o trabalho de unir os músculos aos ossos e muitas vezes ficam inflamados, causando as famosas tendinites.
Aqui no Dicas de Fisioterapia já explicamos este processo no artigo sobre tendinite no ombro que você pode acessar clicando aqui.
Esses machucados também podem atingir outras partes do corpo que ajudam os músculos na nossa locomoção, como as bursas e a cartilagem.
Essas lesões são causadas por alguma sobrecarga para o qual o nosso corpo não foi criado e não esta pronto para suportar.
Ficar horas e horas por dia na mesma posição.
Permanecer sentado na frente do computador.
Ficar curvado em uma maquina de costura por muito tempo.
Repetir o mesmo movimento centenas de vezes todos os dias, como digitar no teclado, operar na esteira da linha de produção, limpar vidros, misturar areia, quebrar pedras etc.
Levantar peso continuamente por longas horas do dia.
São inúmeras as atividades.
Como esses movimentos geralmente acontecem por volta de 8 horas por dia e entre 5 e 7 dias por semana, ao longo dos anos o corpo não tem o tempo suficiente para se recuperar da lesão causada aos poucos e silenciosamente.
Essa lesão, que é um sintoma que pode passar despercebido, vai se agravando, podendo levar a pessoa a não conseguir mais usar determinada parte do corpo.
A sigla LER significa ‘Lesões por Esforços Repetitivos’.
Objetivamente, as LER são os danos causados por movimentos repetitivos e uso excessivo de determinada parte do corpo, que causam lesões em tendões, músculos e articulações.
DORT são os ‘Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho’.
É uma definição utilizada para caracterizar os danos da LER, porém, causados em ambiente de trabalho.
DORT foi o termo criado em 1998 pelo INSS, aprovado pela ordem de serviço 606/1998.
Como a maioria das ocorrências da LER são por conta do trabalho executado pela pessoa, ambos os termos normalmente são aplicados conjuntamente, originando a conhecida LER/DORT.
Desde 2000, dia 28 de fevereiro é considerado o Dia Mundial de Combate às Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).
As LER/DORT há muitos anos estão entre as mais frequentes doenças relacionadas ao trabalho (doenças ocupacionais) nas estatísticas da Previdência Social.
Apesar de ser um tema contemporâneo, os primeiros relatos datam do século XVIII, relacionadas às atividades dos escrivães e telegrafistas.
Em 2013 mais de 3,5 milhões de trabalhadores disseram, à Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), ter tido diagnóstico de LER/DORT.
É a doença ocupacional do momento e um problema de saúde pública mundial.
As lesões decorrentes do trabalho são um dos grandes problemas que acometem a classe trabalhadora atualmente.
E este não é um fato qualquer.
Um estudo mostrou que, entre 192 pacientes do Cerest (Centros de Referência em Saúde do Trabalhador) de Guarulhos (SP), aqueles que trabalhavam com atividades de limpeza – como auxiliar de limpeza, empregada doméstica e diarista – se destacaram por apresentar algum tipo de LER/DORT, sendo aproximadamente 16% do total.
Os dados dos trabalhadores da limpeza são continuados pelos trabalhadores da construção civil (13%), ajudante geral (6,7%), operador de máquina (5,7%), auxiliar de linha de produção (5,2%), costureira (4,6%) e auxiliar de cozinha (4,1%).
De todas as doença relacionadas ao trabalho, as LER/DORT são das mais incapacitantes.
O Ministério da Saúde constatou que elas estão entre 80% a 90% dos casos de doenças ocupacionais registradas.
Este e outros importantes dados podem ser encontrados no e-book ‘Doenças Relacionadas ao Trabalho’
O longo estudo do Ministério da Saúde pode ser baixado clicando aqui.
Os sintomas da LER/DORT podem ser diversos e incluem dor (por vezes descritas como uma ‘dor cansada’), fraqueza ou pouca resistência ao esforço e formigamento na área afetada.
Elas começam aos poucos, sem deixar você desconfiar.
Com o tempo vão piorando lentamente, mas progressivamente, até ficar, muitas vezes, insustentáveis.
Esses sintomas geralmente atingem o ombro, cotovelo, punhos e dedos.
Apesar da grande prevalência de acometimento do membro superior, outras partes do corpo podem ser afetadas, como a coluna lombar e cervical ou joelhos.
Além de poderem começar todos ao mesmo tempo ou aparecer um de cada vez.
A maioria das pessoas descobrem tardiamente que contraíram LER/DORT.
Inicialmente por descuido, em seguida por problemas no local de trabalho.
Digamos que você conseguiu um trabalho com carteira assinada.
Com o tempo, as demandas no trabalho se intensificaram.
Com isso, você começa a sentir dores esporádicas nos ombros, cotovelos e punhos.
Mas no começo você não se preocupou, pois as dores vinham e iam embora.
Com o passar do tempo, essas dores se tornaram mais fortes e permanentes
Ainda assim, você demora a procurar um médico.
Por algum tipo de tensão no trabalho, como a pressão por metas, por exemplo.
Esses casos são muito frequentes.
Pressão do chefe ou medo de ser demitido são queixas muito comuns dos trabalhadores.
E estes são os caminhos mais comuns para desencadear um quadro de ansiedade e depressão, sobre outro quadro que já era grave.
Em alguns dias, estas dores já estão quase insuportáveis.
Não tendo mais como ignorar as dores que já interferem no seu dia a dia, você procura ajuda médica.
Finalmente, na consulta, o diagnostico apresenta tendinite de ombro, epicondilite lateral e túnel do carpo, que o médico caracteriza como LER/DORT nos ombros, cotovelos e punhos.
Os procedimentos corretos a serem percorridos desde o início das dores é:
Este deveria ser o caminho correto para um trabalhador que necessita de afastamento, por exemplo.
Infelizmente, não é raro o trabalhador se deparar com empecilhos diversos.
Sejam eles colocados pela empresa ou passando pelas pericias do INSS, muitas vezes realizadas de forma superficial.
Mesmo conseguindo o afastamento, somente alguns peritos acabam encaminhando o trabalhador para o processo de reabilitação profissional.
E, mesmo quando o paciente consegue ter acesso à reabilitação, muitas vezes a empresa recusa a readmissão do paciente.
Junte-se a isso, o fato de permanecer afastado, às vezes por muito tempo, sem previsão de reinserção no mercado de trabalho.
Estudos mostram que os trabalhadores, além da dor física, muitas vezes sofrem assédio moral no trabalho.
Alguns exemplos desse assédio são o constrangimento por não conseguir desempenhar as tarefas de forma satisfatória por conta da dor, ou descredito da gravidade da doença, ou até mesmo, não acreditarem na sua real existência.
A culpabilização da vítima, a perda de identidade social, à invisibilidade da doença, além do sentimento de angústia, medo e a desvalia contribuem para o agravamento do sofrimento causado pela dor física, pelas limitações funcionais e pela destruição de projetos de vida.
E este é um dos momento mais tristes de quem sofre com LER/DORT.
O absurdo chega, por vezes, a alguns casos em que o trabalhador é direcionado a executar tarefas privas de significado ou ter de trabalhar em ambiente ainda mais insalubre como ‘punição’ pela sua condição, até que ele se demita por não suportar mais.
Por essas razões, assim como pelo medo de perder o emprego, muitos trabalhadores não revelam sua condição.
Dessa forma, com frequência tomam analgésicos e anti-inflamatórios sem realizar tratamento para mascarar a situação que, com o tempo, vai a piorar.
Muitas vezes estes danos se tornam irreversíveis.
Como já conversamos, em caso de lesão ou doença decorrente do trabalho, a ação mais correta é abrir uma CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho).
Qualquer pessoa que sofre lesão ou acidente de trabalho tem de abrir uma CAT.
A responsabilidade de fazer isso deveria ser da empresa.
Também são comuns os relatos sobre a dificuldade da empresa em abrir uma Comunicação de Acidente de Trabalho.
Por lei, a empresa ou empregador são obrigados a comunicar o acidente de trabalho à Previdência Social, sob pena de multa.
Quando não houver preocupação da empresa, procure respaldo do seu sindicato.
O ‘Protocolo de Investigação, Diagnóstico, Tratamento e Prevenção de LER/DORT’, do Ministério da Saúde, diz que:
‘A CAT deverá ser emitida pela empresa, mediante solicitação ou relatório do médico que atendeu ao trabalhador, até 24 horas após o diagnóstico. Quando a empresa se recusar a fazê-lo, a lei estabelece que a CAT poderá ser emitida por qualquer autoridade pública, pelo Sindicato que representa o trabalhador, pelo médico que o atendeu e, em último caso, por ele próprio. (p.24)’
Ou seja, você mesmo pode emitir uma CAT.
Você pode acessar o protocolo do Ministério da Saúde clicando aqui.
A importância da CAT é a possibilidade do afastamento com beneficio acidentário que, após o retorno ao trabalho, permite a estabilidade de um ano que o benefício previdenciário não permite.
Por meio da reabilitação o trabalhador deveria ser recolocado na empresa em nova função que não prejudicasse sua saúde.
De acordo com o próprio site do INSS “a Reabilitação Profissional é um serviço que tem o objetivo de oferecer aos segurados incapacitados para o trabalho, por motivo de doença ou acidente, os meios de reeducação ou readaptação profissional para o seu retorno ao mercado de trabalho”.
O INSS deve fornecer aos segurados os recursos materiais necessários à Reabilitação Profissional, quando indispensáveis ao desenvolvimento do respectivo programa.
Incluindo próteses, órteses, instrumentos de trabalho, implementos profissionais, auxílio-transporte e auxílio-alimentação.
Eliminar o estimulo que causou a doença, em primeiro lugar, é uma ação primordial, porém a fisioterapia também tem uma grande importância nesse tipo de enfermidade.
O fisioterapeuta pode dar dicas preciosas para prevenir ou minimizar os danos que posturas mantidas por tempo prolongado podem causar ao corpo.
Como é o caso de ficar sentado durante muitas horas.
Também devemos orientar as posturas corretas para o corpo e minimização das tarefas que possam machucar, como flexionar e rotacionar a coluna lombar ao mesmo tempo e puxar ou levantar pesos.
Encontrar estratégias a serem utilizadas no trabalho – levantar a cada intervalo de tempo, praticar alguns exercícios durante os horários de trabalho, utilizar utensílios para diminuir a sobrecarga, por exemplo.
E, claro, ajudar e estimular o trabalhador a fazer atividades físicas e seguir um estilo de vida saudável para minimizar o estresse.
O fisioterapeuta também pode colaborar para a ergonomia e direcionar quais melhoras que móveis e instrumentos utilizados no trabalho devem ter.
A ergonomia envolve a altura do assento e da mesa, uso do computador, luminosidade, organização do espaço, entre outros.
Para além do ambiente de trabalho, a interveção do fisioterapeuta, deve ser focada em cada lesão específica, dependendo da enfermidade – tendinite, afecção de coluna, túnel do carpo etc.
O tratamento inclui alongamento, fortalecimento, reeducação postural, treino funcional, além de terapias anti-inflamatórias e analgésicas como termoterapia, eletroterapia, ultrassom.
Tudo isso pode ajudar a prevenir ou minimizar os sintomas de LER/DORT.
Para que todo o tratamento necessário seja possível, o trabalhador precisa de liberdade em seu ambiente de trabalho para que as devidas modificações sejam implantadas
Pausas de tempo suficientes para poder colocar as indicações em prática e tempo livre suficiente.
Sem falar da necessidade de diminuir os níveis de estresse, tão presente no nosso dia a dia, para poder ter uma vida saudável.
Frente a tudo isso, para podermos impactar de forma concreta e positiva os números em constante crescimento dos casos de LER/DORT, precisamos, enquanto sociedade, desacelerar o ritmo de trabalho.
É importante que as empresas tenham uma política de prevenção para evitar o adoecimento dos trabalhadores.
Para ter seres humanos mais saudáveis, sem sobrecargas físicas e emocionais causadas pelo emprego.
Motivados a trabalhar e que produzirão trabalho com mais qualidade e com contribuições mais ricas para o conjunto da sociedade.
É infinitamente mais benéfico, em longo prazo, do que criar um exercito de pessoas inválidas, justamente nos anos de sua maior vitalidade e produtividade, em nome do lucro imediato de poucos.
Estudos feitos nos Estados Unidos mostraram que para cada dólar investido em estratégia de prevenção à LER/DORT há um retorno de quase 18 dólares em gastos de saúde posteriores.
Criar pessoas doentes é, inclusive, economicamente insustentável para um pais.
Fonte: Dicas de Fisioterapia.com
INTERSINDICAL – Central da Classe Trabalhadora
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