2015 foi um ano em que as crenças de matriz africana sofreram atentados de todas as ordens contra o patrimônio material, físico, moral e espiritual.
Muitos religiosos e seguidores sofreram com a violência e a intolerância religiosa. Invasões de terreiros, demonização ao culto dos orixás e até morte de uma Ialorixá fez deste ano um marco da intolerância religiosa.
Agressões físicas se multiplicaram, dentre elas a de uma criança que, em razão das vestimentas, foi apedrejada quando saía do terreiro. Uma imensa lista de denúncias de injúrias e cerceamento de direitos no âmbito das práticas religiosas, que incluem, entre outras, a realização de rituais sagrados dentro dos terreiros.
Sob o manto do estado democrático de direito, a intolerância demonstrada das mais diversas formas não poupou ninguém. Aquele que pratica a injúria não tem um objetivo maior, senão o de dizer onde aquele que foi injuriado deve estar: no campo da invisibilidade. Não a toa, registra o psiquiatra e filósofo Franzt Fanon em sua obra “Peles Negras, Máscaras Brancas”:
Assim como ocorreu com as mulheres que tiveram determinadas a sua presença no âmbito da vida privada, restando aos homens as disputas no campo público, com negros e não cristãos não foi diferente. Foram e ainda são diversas e poderosas as formas de colonização e exclusão do povo negro e sua religiosidade.
Combater a intolerância religiosa significa rejeitar o racismo como sistema de opressão e dar corpo e voz a uma parcela da população que vem sendo sistematicamente agredida em sua dignidade pelo cerceamento de direito de liberdade de culto.
A questão da liberdade de religião e de culto amplamente requerida pela população negra e pelos religiosos de matriz africana deve ser vista sob a ótica da afirmação e reiteração da identidade negra e de toda a sua ancestralidade. Negar esse direito, compactuar com esta lógica é o mesmo que permitir que os tambores continuem abafados e os adeptos das religiões de matriz africana permaneçam naquilo que o “outro” considera a sua senzala. Não há democracia racial, como não há respeito à diversidade religiosa.
Em 2007, o dia 21 de janeiro foi instituído como a data de Combate à Intolerância Religiosa, em reflexão e memória da Ialorixá Gildásia dos Santos – vítima de um dos casos mais drásticos de intolerância que a história brasileira conheceu. O crime começou em outubro de 1999, quando O jornal Folha Universal estampou em sua capa a imagem de Mãe Gilda, trajada com roupas de sacerdotisa para ilustrar uma matéria cujo título era: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. Sua casa foi invadida, seu marido foi agredido verbal e fisicamente, e seu Terreiro, depredado por evangélicos. A Ialorixá não suportou os ataques e, após enfartar, faleceu em 21 de janeiro de 2000.
15 anos após a trágica morte de mãe Gilda, a história se repete, e em Camaçari/BA, Mãe Dede de Iansã, também enfarta após uma noite se insultos protagonizada por um grupo evangélico, na porta de seu terreiro.
Em resposta a tanta violência que, assustadoramente, aumenta a cada dia e tem se mostrado uma das faces mais cruéis do racismo, comunidades religiosas de matriz africana promoverão manifestações em todo Brasil.
Em São Paulo, o Ato de Repúdio, Afirmação e Combate aos Crimes de Intolerância Religiosa, acontecerá neste dia 21 de Janeiro, quinta feira, às 19h. A concentração será no vão do MASP, onde religiosos e simpatizantes tomarão o “coração financeiro da cidade” para um grito pela liberdade de expressão da fé, do direito à crença e por uma sociedade de respeito ao próximo, à natureza e à diversidade.
As ruas serão ocupadas pela promoção da cultura de paz em nossas relações.
Vista-se de Branco e Junte-se a Nós!
Confirme presença e compartilhe:
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Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa
21 de Janeiro, às 19H
Vão Livre do MASP – Avenida Paulista – SP.
Fonte: Fábio Mariano e Roger Cipó / Blog “Olhar de um Cipó”
Foto: Olhar de um Cipó
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