Uma das exposições que mais chamou a atenção das participantes do 2º Encontro de Mulheres da Intersindical foi a de Simony Cristina dos Anjos, do coletivo das Evangélicas pela Igualdade de Gênero, colunista do site Justificando.
A plateia presente não conhecia o trabalho da socióloga, negra e evangélica, que luta para interseccionar a esquerda junto ao grupo religioso que representa nada menos que 173 milhões de brasileiros e brasileiras.
“Deste contingente há 36,8% católicos e 22% de evangélicos, não dá para fazer revolução no Brasil sem essa gente”, pontua a líder feminista.
“As pessoas que votaram no Bolsonaro são todas racistas machistas? Não, mas elas estão na igreja e votam como a Igreja diz para pensar”, lembra.
“Somos feministas cristãs, é contraditório, mas a contradição faz parte da luta de classes”, afirmou ela, despertando a plateia.
Estudar como interseccionar a luta das mulheres negras, por exemplo, com o feminismo evangélico, e as vítimas de violência, tem sido um de seus principais desafios.
“Eu atuo na violência doméstica, as evangélicas são as que mais buscam a casa de apoio à mulher Loreta Valadares, em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador”. “São mulheres brancas? Não, como vamos conversar com essa população? Como a esquerda considera qual inimigo vai bater?”, exemplifica.
A contribuição da Igreja no racismo e o menosprezo à própria cultura negra e seus símbolos é algo que precisa ser estudado pela esquerda e traçado um discurso de como conscientizar e desenvolver uma nova militância, especialmente entre os evangélicos.
“Não é por acaso que um dia os negros resolveram ser crentes, houve uma violência de Estado que levou estas pessoas a isso. Ali elas se sentem reconhecidas”, diz.
A igreja, segundo ela, potencializa as pessoas. “Temos que levar isso em consideração. Precisamos estudar a doutrina deles, o que estamos fazendo para sermos inteligíveis para essas mulheres cristãs? Temos que flexibilizar o modo de falar, de modo a ser acessível a essa população”, afirma dos Anjos.
Há teólogos cristãos feministas e todo um movimento, inclusive, que busca esclarecer a tradução machista da Bíblia.
A socióloga alerta: “a intolerância religiosa é um braço do capital para neutralizar as pessoas, fazem as classes se odiarem para que as pautas econômicas sejam protegidas”. E finaliza: “É possível aliar fé cristã e luta? Nós achamos que sim”.
Texto: Tsuli Turbiani
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