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“Não é concebível que o Brasil possa resistir 4 anos de um presidente completamente despreparado” afirma Belluzzo

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Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular do Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é entrevistado pelo Edson Carneiro Índio, Secretário Geral da Intersindical e comenta as medidas econômicas necessárias frente a pandemia.

ÍNDIO: O governo editou MP 936 que prevê corte de salários medida que pode agravar crise econômica, o corte pode variar de 10 a 70 por cento. Qual importância do governo proteger a renda dos salários, seja dos trabalhadores formais ou até nos informais, principalmente dia te de uma crise sanitária?

BELLUZZO: Esse do ponto de vista do mercado capitalista, 60 por cento do gasto é gasto de consumo, portanto, quando se aperta os rendimentos dos trabalhadores está comprometendo essa demanda de consumo. Portanto está contribuindo para que a crise se aprofunde, desde que assumiram o poder a ideia é cortar, a economia só afunda, numa situação como essa tem que sustentar a renda e os circuitos de renda, porque as empresas vão ser prejudicadas com isso. Empresários insistem na reforma trabalhista, deu insegurança e ajudou a colocar a na informalidade milhões de pessoas. Na verdade, você tem que sustentar a renda; Sr. Carlos Bolsonaro diz que todos querem viver às custas do estado, e ele viveu até hoje às custas do que? Alguns pensadores – como Karl Marx e Keynes – perceberam como funciona e nenhum deles recomendaria que você fizesse uma compreensão de salários, você tem que manter a renda dos trabalhadores.

ÍNDIO: Além de transferir renda para os trabalhadores, também é importante o governo proteja renda das micros e médias empresas, preservar estas empresas. Quais os mecanismos que o governo tem para fazer essa proteção da renda do trabalho e também das pequenas e médias empresas?

BELLUZZO: Esta tragédia que as classes dominantes do Brasil produziam incentivou a eleição de um presidente completamente inadequado, incapaz. Eu não estou falando nem da pandemia, já vem de antes, a sucessão de pronunciamentos irracionais, discursos sobre economia inadequados, um país com 12 milhões de desempregados somando 40 milhões de pessoas em situação de incertezas de desamparo, e eles falando abobrinhas que na verdade frequentam os neurônios deles. O pior que a crise do coronavírus é a crise do “neuroniavírus” dessas pessoas que produzem ideias estapafúrdias. Acho que não é concebível que o Brasil possa resistir 4 anos de um presidente completamente despreparado. Eu falo do ressentimento narcisista que se difundiu no país, porque esse conceito foi extraído de um escritor chamado Theodor Adorno, que escreveu sobre ascensão do fascismo, ele indica que o fascismo é a conquista do poder pelos ressentidos. Quem são estes ressentidos? São boa parte da população, aquela faixa que tem valores capitalista, mas que não deu certo porque não tem condições para atingirem seus objetivos. O fracasso os torna um setor agressivo, porque eles não têm ideia que só ação coletiva resolve essa questão.

Um Jornal inglês escreveu que não dá mais para manter essa forma de gestão neoliberal. A saída é mudar tudo, superar o método estapafúrdio que imperou; no “pós-guerra” que venha solidariedade, que atenda o funcionamento das atividades produtivas sobre a coordenação do estado. A crise está dando impressão que antes do coronavírus ia muito bem, mas não, muito bem nada. Nos EUA, o líder mundial, tem cada vez mais trabalhadores informais, boa parte das pessoas nos EUA vivem de catar coisas nas ruas e isso a mídia não mostra. Estas pessoas ressentidas que falei acreditaram nisso, no modelo americano que não existe mais, assim como a mídia tiveram grande responsabilidade na ascensão dessa turma que não tem competência para administrar o país, só se movem pela raiva. A imprensa brasileira teve grande responsabilidade de não barrar o que estava sendo produzido, deveria ter esclarecido a população; as redes sociais só agravaram o problema, acabou o debate racional, isso são elementos que explicam o fenômeno do ressentimento do narcisista. Só podemos enfrentar isso através da organização da sociedade.

ÍNDIO: O senhor é um dos pensadores mais críticos no processo de desindustrialização do Brasil. O senhor acha que a saída dessa crise econômica, sanitária e social, aponta para a possibilidade de afirmar projeto de desenvolvimento, que não seja destruidor dos bens da natureza?

BELLUZZO: Esta questão está entre tantas outras que a pandemia levanta. A maioria dos países estão dependendo da China para importação dos produtos emergenciais, para cuidar da dos afetados pelo coronavírus. O Trump segurou os respiradores que importamos da China por exemplo, até os EUA caiu nesta dependência. Nós não percebemos que processo de globalização e um processo assimétrico, e concentrou a capacidade de produção industrial na China. Alemanha e EUA perderam substância industrial assim como o Brasil de maneira devastadora. Nos anos 80 a indústria tinha participação dos 34%, hoje está em torno de 10% do PIB, foi devastação, o Brasil, até final anos 70, foi a China daquele período, era o país que mais recebia investimento estrangeiro com capacidade produtiva, para o período pós-guerra que você tinha uma impressionante recepção de capital estrangeiro. O Brasil tinha todos setores relevantes da indústria no seu território, a partir anos 80 começou a perder potência industrial, se acentuou anos 90, começou a perder a sua indústria, por conta de juros alto e câmbio valorizando e falta de política industrial. Depois do Plano Real, acabou a inflação e junto a indústria brasileira, são processos complicados, no mesmo momento que a China estava acelerando. Lembramos que os chineses vieram em 78 -79 para o Brasil para conversar com a gente, para saber como tinha sido o desenvolvimento brasileiro. Queriam entender como foi a forma de criar o empreendedorismo, eles foram aperfeiçoando, quando eles acendiam nós declinávamos. Os militares não abandonaram o projeto de industrialização, eram nacionalistas que passaram pelos anos 30, seu núcleo central tinha uma referência no desenvolvimentismo.

Nós temos condições de retomar sim este processo de industrialização, somos um país enorme que pode perfeitamente que usar recursos naturais e humanos para atingir seus fins econômicos e de desenvolvimento social. Temos uma alta qualidade humana, veja nossos médicos, cientistas são gente de alto nível, temos instituição públicas como as universidades que podem ajudar, não podemos entregar, temos recursos tecnológicos, temos meios para sair disso, para isso precisamos de coordenação, planejamento e determinação acima de tudo.

Transcrição: Raquel Ribeiro
Edução: Pedro Otoni

ASSISTA AQUI A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:

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