INTERSINDICAL – Central da Classe Trabalhadora
Escritor, jornalista e militante, Galeano sempre será uma referência para a esquerda
O escritor, jornalista e historiador Eduardo Galeano faleceu na manhã desta segunda-feira em Montevidéu, no Uruguai, onde morou desde 1985, quando voltou do exílio. Internado em um hospital da cidade desde sexta-feira, dia 10, o escritor havia voltado a sofrer com um câncer de pulmão que já tinha sido diagnosticado e tratado em 2007.
Foi autor de mais de dez livros, como clássico As Veias Abertas da América Latina (1971), sua obra maior. Traduzido em dezenas de idiomas, o livro trata, por uma perspectiva da America Latina, de sua exploração econômica e dominação imperialista desde o período colonial até a contemporaneidade. À época, a venda do livro foi proibida no Uruguai, Brasil, Chile e Argentina durante suas ditaduras militares.
Nascido em Montevidéu, em 3 de setembro de 1940, aos 14 anos já vendia suas primeiras charges políticas para jornais do Partido Socialista uruguaio, como o El Sol. Tinha como sonho ser jogador de futebol, sendo um apaixonado pelo esporte por toda a sua vida. Em 1960 iniciou sua carreira jornalística como editor do semanário Marcha.
Com o Golpe Militar no Uruguai, em 1973, foi preso, fugiu e se exilou na Argentina. Porém teve de fugir novamente em 1976, com o Golpe Militar de Jorge Videla, indo morar na Espanha. Durante este período, o nome do escritor esteve relacionado nas listas dos esquadrões da morte, que executavam opositores ao regime Videla.
Militante e referência da esquerda em todo o mundo, Galeano ainda era visto em manifestações, como durante os movimentos Occupy’s, em 2011, e em apoio à juíza Mariana Mota, em 2013. Em 2012 participou também do congresso “Os direitos dos trabalhadores: um tema para arqueólogos?”, construído pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), no México. Sempre reconhecido pela sua literatura, no ano passado esteve no Brasil para participar da 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, onde foi o homenageado internacional.
A Intersindical lamenta profundamente a perda deste grande guerreiro, que sempre dedicou seus contos, histórias e pesquisas aos trabalhadores e oprimidos. De sensibilidade ímpar na escrita e profunda clareza nas ideias, o legado de Galeano estará sempre presente entre todos aqueles e aquelas que lutam por uma sociedade mais justa.
Abaixo, no conto “A desmemória/4″, presente na obra O Livro dos Abraços (1989), Eduardo Galeano relembra que os Estados Unidos apagaram a memória do 1º de Maio, Dia Mundial dos Trabalhadores:
“Chicago está cheia de fábricas. Existem fábricas até no centro da cidade, ao redor de um dos edifícios mais altos do mundo. Chicago está cheia de fábricas, Chicago está cheia de operários.
Ao chegar ao bairro de Heymarket, peço aos meus amigos que me mostrem o lugar onde foram enforcados, em 1886, aqueles operários que o mundo inteiro saúda a cada primeiro de maio. – Deve ser por aqui – me dizem. Mas ninguém sabe. Não foi erguida nenhuma estátua em memória dos mártires de Chicago nem na cidade de Chicago. Nem estátua, nem monolito, nem placa de bronze, nem nada.
O primeiro de maio é o único dia verdadeiramente universal da humanidade inteira, o único dia no qual coincidem todas as histórias e todas as geografias, todas as línguas e as religiões e as culturas do mundo; mas nos Estados Unidos o primeiro de maio é um dia como qualquer outro. Nesse dia, as pessoas trabalham normalmente, e ninguém, ou quase ninguém, recorda que os direitos da classe operária não brotaram do vento, ou da mão de Deus ou do amo.
Após a inútil exploração de Heymarket, meus amigos me levam para conhecer a melhor livraria da cidade. E lá, por pura curiosidade, por pura casualidade, descubro um velho cartaz que está como que esperando por mim, metido entre muitos outros cartazes de música, rock e cinema.
O cartaz reproduz um provérbio da África: Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador.”
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