Paula Coradi | O tempo não para

Imagem: Comunicação da Intersindical
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  • Paula Coradi*

“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.”
Karl Marx, Dezoito Brumário de Louis Bonaparte.

 

O Brasil hoje vive uma grave crise política. A direita oligárquica e reacionária marcha a largos passos, rompendo pactos que fundamentam o Estado Democrático de Direito. Isso gera no país um grave precedente que expõe e fragiliza as instituições que compõem nossa recente democracia. Diante desse quadro político dramático, setores fascistas pedem a volta da ditadura militar, algo que só pode partir de quem estava ao lado da repressão política durante os “anos de chumbo”, ao lado de um Estado criminoso que definiu assassinatos, sequestros, desaparecimentos e torturas como política de Estado.

Nosso atual cenário político mostra que precisamos sim falar sobre a ditadura civil-militar que assombrou o país durante 21 anos e que ainda produz marcas profundas na sociedade brasileira, como a tortura praticada pelos agentes de Estado e também as milhares de famílias brasileiras que tiveram perdas irreparáveis. Precisamos falar mais sobre o período ditatorial porque a sociedade brasileira, ao final da ditadura, preferiu o esquecimento ao invés de encarar a brutalidade em forma de Estado que por tempos foi apoiada por diversos setores sociais, mas que não acham isso conveniente de lembrar, afinal, segundo esses setores, principalmente ligados à direita, a Lei de Anistia de 1979 – que anistiou inclusive os agentes de Estado responsáveis pelas atrocidades dos porões da ditadura civil-militar brasileira – “reconciliou a família brasileira” e que rever tal lei não passa de mero “revanchismo”. A impunidade de ontem se reflete hoje no cotidiano das periferias brasileiras com uma política repressiva de Estado que tira todos os anos a vida de milhares de jovens negros. Precisamos sim ter muito claro como diversos agrupamentos ligados à direita, setores da comunicação (principalmente o grupo Globo e Folha de São Paulo) e setores empresariais, que propagam hoje serem os defensores da “vontade do povo” sustentaram, financiaram e participaram diretamente do regime de exceção e da repressão política. Apoiaram a ditadura enquanto esse regime foi capaz de garantir suas benesses, lucros e privilégios a custo da exploração de milhares de brasileiras e brasileiros.

Segundo o historiador Daniel Aarão Reis Filho, uma das marcas que a ditadura civil-militar promoveu na nossa sociedade foi que essa reatualizou e aprofundou no Brasil a cultura política autoritária. Questões políticas definitivas no Brasil são resolvidas por meios de acordos fechados “por cima”. A participação popular ainda é muito restrita ao voto e não há mecanismos efetivos de controle popular nas decisões das grandes questões nacionais. Inclusive, retrocedemos com a nova minirreforma eleitoral. Portanto, não é de se espantar que esses mesmos setores sociais que outrora apoiaram a ditadura civil-militar no país armem mais uma vez a favor de seus próprios interesses, mesmo que isso seja feito de forma autoritária, ou por meio de um “golpe institucional”, um processo caricato ao que foi em 1964. Para esses setores sociais, rasgar as regras do jogo democrático não custa a eles porque eles não tiveram e não têm compromisso com a democracia.

Para nós, trabalhadoras e trabalhadores, entretanto, a pauta democrática – ainda que nos marcos do Estado burguês e sendo limitada nesses marcos – é muito cara. Custou-nos perdas definitivas como Manoel Filho, Iara Iavelberg, Lamarca e Marighella, dentre tantos outros jovens, trabalhadoras e trabalhadores, que além de lutar contra o governo ditatorial, lutaram também por uma sociedade mais justa, solidária e igualitária. Carregamos hoje a luta de cada um deles.  

Marchamos nas ruas porque nunca saímos dela!
Viva Lamarca!
Viva Mariguella!
Por democracia e nenhum direito a menos.

¹.REIS FILHO, Daniel Aarão.Ditadura e democracia no Brasil: do golpe de 1964 à Constituição de 1988.  ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2014

Paula Coradi 001 190x247* Paula Coradi é da Direção Nacional da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora

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