O governo pretende usar três “ferramentas” para construir a maioria de 308 votos necessária para aprovar a reforma da Previdência agora que o texto foi aprovado na comissão especial da Câmara: propaganda, a “caneta” do presidente da República e o fechamento de questão de partidos aliados, segundo parlamentar diretamente envolvido nas discussões sobre o projeto.
Redesenhada, a propaganda já está em divulgação nas rádios e TVs, além da versão voltada para os parlamentares, uma cartilha com explicações sobre a proposta e argumentos para defende-la. O material foi elaborado pelo deputado Beto Mansur (PRB-SP), um dos responsáveis por contar os votos favoráveis ao projeto hoje mais do que insuficientes.
A caneta também está em ação, com exonerações no “Diário Oficial da União” de aliados de deputados que se recusaram a votar a favor das reformas e redistribuição dos cargos para outros políticos, liberação de emendas parlamentares apenas para os “fiéis” e publicação de medidas para agradar setores da Câmara, como parcelamento de dividas rurais, de prefeituras e de empresários, flexibilização nas regras para porte de armas e afagos aos evangélicos.
O próximo passo, disse, é o fechamento de questão, quando o diretório nacional do partido se reúne para decidir por um posicionamento em matérias no Congresso Nacional e, com isso, recebe autorização para punir até com expulsão os parlamentares que contrariarem essa decisão.
O líder do PMDB, Baleia Rossi (SP), já começou a reunir assinaturas neste sentido. O governo entende que o partido do presidente precisa ser o primeiro, para dar exemplo de unidade. Hã, contudo, resistência de parte da bancada a apoiar a reforma e, principalmente, fechar questão.
Temer também recebeu sinais da cúpula do PSDB de que, se o PMDB seguir por essa linha, os tucanos devem acompanhar. A bancada de deputados, por outro lado, ainda está muito resistente e a avaliação é que só a melhora na comunicação externa pode modificar esse quadro, além de mudanças pontuais no projeto, que deve passar por nova rodada de negociação. Também se fala na possibilidade de o PP fechar questão, mas isso é remoto hoje.
Interlocutores do governo também preparam discurso para convencer os deputados da base que estão contra o projeto por causa da eleição do próximo ano dizendo que aqueles que votaram a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff que eles pagarão o preço eleitoral caso o governo que entrou no lugar não resolva a crise econômica e o desemprego.
Em reunião com deputados do PR há algumas semanas, o relator da reforma da Previdência na Câmara, deputado Arthur Maia (PPS-BA) ouviu reclamações de que o problema não era mais o texto, mas a falta de apoio na sociedade. “Esse projeto é para quem vai se aposentar da vida pública. Quem deseja ser candidato ano que vem, como eu, não pode votar uma reforma dessas”, disse um dos parlamentares.
Maia rebateu que só a oposição ganhará se a reforma não passar. “Estejam certos, os deputados da base do governo vão ser os mais afetados e cobrados se a economia desandar. Ninguém aqui terá uma eleição fácil nesse cenário”, afirmou.
Fonte: Previdência: Mitos e Verdades / Por Dimitri Alexandre, no site A previdência é nossa
Foto: André Dusek
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