A Venezuela sediou na semana passada um dos mais importantes e representativos encontros internacionais já realizados pela esquerda e movimentos sociais. Com representação de partidos e movimentos, o Encontro Mundial contra o imperialismo reuniu mais de 400 delegadas e delegados, de 72 países, de todos os continentes e regiões do mundo. Participaram, também, mais de 800 venezuelanos dos movimentos sociais, do PSUV e demais partidos que apoiam o processo bolivariano de mudanças iniciado pelo comandante Chávez.
O Encontro reuniu diversos setores sociais, como trabalhadores/as, movimentos populares, organizações de mulheres, povos originários, afrodescendentes, juventude, parlamentares, comunicação. Em três dias de intenso trabalho as delegações internacionais e venezuelana realizaram importantes debates sobre a situação de cada setor e buscaram encaminhamentos de luta unitária contra o imperialismo, pela paz, a vida, a soberania e a autodeterminação dos povos.
A abertura do evento foi transmitida em rede nacional de TVs e rádios, mobilizando a atenção de toda a população da Venezuela, cuja maioria apoia o governo constitucional de Nicolás Maduro, apesar da guerra e do bloqueio econômico imposto pelo imperialismo que visa estrangular a economia do país. A mesa de abertura foi composta por importantes autoridade de Cuba e da Síria, além do Presidente da Assembleia Nacional Constituinte da Venezuela, Diosdado Cabello e do dirigente do PSUV Júlio Chávez. O Secretário Geral da Intersindical, Edson Índio, também fez parte da mesa de abertura e fez uma saudação aos presentes, além de expressar seu apoio ao processo bolivariano.
No segundo dia de debates buscou-se o aprofundamento em diversos temas, com a instalação de diversas mesas, como o papel da OTAN e as agressões imperialistas no século XXI; a crise ambiental climática e a busca pelo desenvolvimento sustentável; o papel da indústria cultural para a dominação capitalista; a busca da inclusão social e contra a concentração de riqueza e poder pela minoria capitalista; os governos progressistas e alternativas ao neoliberalismo; o socialismo bolivariano desenvolvido na Venezuela; ética e humanismo e bases para novas formas de fazer política; a batalha das ideias e a importância da formação política; e uma proposta organizativa e um plano de lutas internacional, com um calendário de ações articuladas em todo o mundo. O Encontro foi encerrado pelo Presidente Constitucional da Venezuela Nicolás Maduro Moro.
Do Brasil, além da Intersindical, participaram também, a CTB e o MST, além de um professor universitário que desenvolve projetos de pesquisa e articulação naquele país. Várias delegações não conseguiram chegar a tempo, ou foram interceptadas o caminho, pois houve diversas manobras do imperialismo para impedir a realização do importante e histórico Encontro Mundial pela vida, a paz e a soberania.
As delegações dos Partidos Políticos e Movimentos Sociais, reunidas na cidade de Caracas, capital da República Bolivariana da Venezuela, por ocasião do “Encontro Mundial Contra o Imperialismo”, após deliberações, chegamos às seguintes conclusões:
O futuro da humanidade está em grave perigo. A paz no planeta se encontra seriamente ameaçada como resultado da política de agressão militar dos Estados Unidos e de seus aliados, assim como da corrida armamentista mortal que apenas informa dividendos às grandes corporações da indústria militar. A guerra é o mecanismo preferido do expansionismo imperial, em especial, dos estadunidenses e isso observamos dramaticamente nos mais recentes conflitos regionais que têm afetado gravemente os povos da Síria, Iêmen, Iraque, Líbia, Afeganistão e toda a região.
Da mesma forma, a espécie humana sofre os estragos ocasionados pela voracidade de um modelo econômico que, em sua implantação suicida, destrói a natureza pela insaciável obsessão de maximizar seus lucros.
Essa é exatamente a lógica do sistema capitalista, que não compromete mais sua operação, mas também.põe em perigo de extinção da humanidade.
O modelo neoliberal que implementa a globalização das grandes corporações sob a dominação dos Estados imperialistas, imprimiu à economia mundial uma grande fragilidade.
As crises são mais recorrentes e os grandes especuladores financeiros dominam o planeta. Na distribuição da riqueza gerada, um parâmetro de desigualdades, injustiças e exclusões foi imposto, afetando uma crescente parte da população mundial.
Os flagelos da pobreza e a miséria afetam a milhares de pessoas como nunca antes na história da humanidade. Sem dúvida, o desenvolvimento do capitalismo provoca fenômenos insustentáveis, do ponto de vista social, político e ético.
A isto se soma uma crise ética derivada do modo de vida imperante das economias de mercado, onde sepultam as culturas nacionais e os valores humanos, com o propósito de impor a sociedade de consumo. O culto dos antivalores do capitalismo contribuí para fortalecer a crise da condição humana gerada no atual modelo de convivência.
O imperialismo está em crise e isso o torna muito mais agressivo, perigoso e destrutivo. Antes do crepúsculo do mundo unipolar, o imperialismo estadunidense implementa uma estratégia de dominação global.
O compromisso geopolítico da Casa Branca frente a resistência do povo e o surgimento de potências emergentes, tem sido defender sua hegemonia, mediante a uma política neocolonial que visa a apropriação de recursos naturais, em especial os recursos energéticos, controle de mercados e dominar politicamente as nações.
Para preservar a atual ordem mundial injusta, o imperialismo violenta os direito internacional público, tem convertido o mundo em um grande teatro de operações militares, desenvolve medidas coercitivas unilaterais, impõe leis de caráter extraterritoriais, ataca o multilateralismo, viola a soberania das nações e suprime a autodeterminação dos povos.
Em sua arrogante concepção, suas fronteiras chegam até onde se estendem seus interesses expansionistas.
Em consonância com esta política, o imperialismo recorre à intervenção militar, à desestabilização política dos governos, às guerras e ao bloqueio econômico. Seu planejamento estratégico concebe a OTAN como o braço militar global do neoliberalismo.
Além disso, no âmbito de sua Doutrina de Guerra Não Convencional, ações terroristas, o uso de paramilitares, a judicialização de lideranças anti-imperialistas e o assassinato seletivo são algumas das ações mais emblemáticas de uma política genocida, que coloca em perigo a humanidade.
Tais práticas foram “legitimadas” pela indústria cultural do capitalismo, pelas grandes transnacionais de comunicação e pelo uso das redes sociais.
Da mesma forma, o uso de “Big Data” têm se constituído em uma formidável arma para modificar o comportamento da população e influenciar em suas decisões políticas.
Na tentativa de impor o “pensamento único”, os poderosos do mundo manipulam as crenças religiosas, justificando as atuais relações de poder em detrimento da democracia, a imposição do livre mercado, o racismo da raça eurocêntrica, a segregação das minorias, a opressão de gênero, o caráter eugênico do modelo educativo global, entre muitos outros fatores, que se ajustam perfeitamente aos requerimentos da ditadura do capital.
O capitalismo neoliberal fortalece a exploração da classe trabalhadora, oprime ainda mais as mulheres em termos de de maximizar o lucro das grandes transnacionais, arrebata o futuro da juventude e desfoca a identidade dos povos originários.
Isto evidencia que a solução aos grandes problemas do mundo atual demanda um novo modelo de convivência humana.
Neste contexto, o mundo multicêntrico e pluripolar emerge com maior força. O fortalecimento político e econômico de potências como Rússia e China, junto aos de outras nações, fazem um contrapeso cada vez mais sério ao poder do imperialismo EUA.
Obviamente, a heroica resistência no Oriente Médio, as lutas dos povos da América Latina e do Caribe, têm contido e feito retroceder os planos do imperialismo.
Além disso, as experiências dos governos progressistas no mundo já estão surgindo como uma alternativa ao neoliberalismo. Exemplo disso é a Revolução Bolivariana, que se projeta como um referente anti-imperialista com uma enorme fortaleza popular no marco da poderosa união cívico-militar e com base na ideologia do libertador Simón Bolívar e do Comandante Hugo Chávez.
Isso causou o brutal ataque do imperialismo estadunidense contra o povo venezuelano, que tem dado dignidade e amor pelo país, ratificando seu rumo ao socialismo em numerosos processos eleitorais que que referendam a vigorosa democracia participativa existente neste país.
Os dias difíceis da luta popular têm derrotado as ameaças de intervenção militar dos EUA, tentativas de golpe de Estado e focos de violência terrorista.
Este exemplo de luta junto à Nicarágua e Cuba, assim como os recentes avanços na Argentina e México, têm permitido o fortalecimento de forças anti-imperialistas e levará a reforçar os novos mecanismos de integração regional (CELAC, ALBA-TPC, PETROCARIBE etc.).
Embora em Honduras, Paraguai, Brasil Ecuador, El Salvador e Bolívia tenha se reposicionado o neocolonialismo no âmbito da nova edição da Doutrina Monroe, as lutas populares continuam.
No resto do mundo também os povos resistem, revolta e governos populares exercem sua soberania. A unidade anti-imperialista é um objetivo estratégico que não pode ser adiado.
Instamos os povos do mundo a lutar pela vida, a preservação da natureza, e contra condições estruturais que geram as mudanças climáticas. Igualmente, exigimos às nações desenvolvidas a trabalhar decisivamente para evitar a destruição do planeta e, principalmente, os Estados Unidos para superar sua postura primitiva que procura ignorar os terríveis danos causados à natureza com o atual modelo produtivo baseado na acumulação do capital.
Acompanhamos a demanda de construir uma ordem internacional mais justa, que coloque em primeiro lugar os interesses dos povos e permita desenvolver políticas de inclusão e de justiça social para superar as gigantescas desigualdades sociais e econômicas que prevalecem entre as nações do mundo.
Apelamos aos cidadãos do mundo a defender a paz, a soberania dos povos e acompanhar as legítimas lutas pelo progresso socioeconômico, com base em uma ampla plataforma de luta unitária contra o inimigo comum, o imperialismo americano.
Repudiamos a implementação das ilegais medidas coercitivas unilaterais pelas potências imperialistas, uma vez que são políticas criminais que afetam aos povos. Especialmente, condenamos a política genocida de bloqueio econômico que se aplica contra as nações do mundo que exercem sua soberania.
Rejeitamos a militarização de Nossa América e especialmente a presença das bases militares dos Estados Unidos na América Latina e no Caribe.
Condenamos de forma muito energética a invasão militar e demais agressões pelo imperialismo contra os povos do Oriente Médio. Especialmente, repudiamos a violação da soberania da Síria e Iraque, os ataques à República Islâmica do Irã, assim como o vil assassinato do Comandante Qasem Soleimani, mártir dos povos do mundo que lutam pela liberdade.
Exigimos respeito à soberania da Venezuela, Cuba e Nicarágua, além de apoiarmos os esforços de Nicolás Maduro Moros, Presidente Constitucional da República Bolivariana da Venezuela, para manter a paz.
Denunciamos as tentativas orquestradas pela Casa Branca de censurar às empresas multiestatais TeleSur e HispanTV. Isso se constitui em uma afronta à liberdade de expressão dos povos.
Condenamos o golpe de Estado, orquestrado por Washington, contra o presidente Evo Morales Ayma. Repudiamos a cruel repressão e o racismo contra o povo do Estado Plurinacional da Bolívia.
Construir uma Plataforma Unitária Mundial organizada por continentes, regiões, sub-regiões e países com objetivo de enfrentar o imperialismo. A estrutura organizacional será conformada de acordo com as peculiaridades de cada território.
Realizar durante o ano de 2020 ‘Encontros Continentais Contra o Imperialismo’ para formar as plataformas unitárias continentais, regionais e sub-regionais articuladas em torno de um plano de luta comum contra o imperialismo.
Convocar o ‘II Encontro Mundial Contra o Imperialismo’ a realizar-se em Caracas, capital da República Bolivariana da Venezuela, para definir o nome da Plataforma Unitária Mundial, assim como a articulação das diferentes plataformas continentais e regionais em um plano comum mundial que une as lutas dos povos.
Por último, o ‘Encontro Mundial Contra o Imperialismo’ concorda em endossar a Agenda de Luta adaptada no ‘I Encontro Internacional de Trabalhadores e Trabalhadoras em Solidariedade com a Revolução Bolivariana’, endossado pelo ‘I Congresso Internacional de Mulheres’, pelo ‘Congresso Internacional de Comunas, Movimentos Sociais e Poder Popular’, pelo ‘I Encontro Internacional dos Povos indígenas’, pelo ‘Congresso Internacional de Afrodescendentes’ e o ‘Congresso Internacional de Comunicação’, realizados na República Bolivariana da Venezuela e durante o ano de 2019, agenda que inclui o seguinte:
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