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Quando ameaçar mulheres vira estratégia política: a face brutal do machismo institucional

Imagem: Comunicação da Intersindical
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Por Patrícia Carretero, Secretária da Pasta de Mulheres da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora

As 25 deputadas estaduais da Assembleia Legislativa de São Paulo foram alvos de ameaças de morte. Todas elas. Não é exagero, nem acaso. É ação orquestrada. O que se pretende com esse tipo de ataque é evidente: intimidar, silenciar, expulsar as mulheres da arena política. A mensagem é tão evidente quanto covarde: quando mulheres ousam disputar poder, a resposta é a violência.

O que está em curso é uma ofensiva contra a presença feminina na política institucional. E isso diz muito sobre os limites da nossa democracia. Não basta eleger mulheres. É preciso garantir que elas possam exercer a vida pública.

É fundamental entender que a violência política de gênero não começa nem termina nos gabinetes. As ameaças às deputadas ganham repercussão, como devem, mas é preciso dizer que essa mesma lógica atinge de forma ainda mais cruel e invisibilizada as mulheres negras, indígenas, trans, periféricas e trabalhadoras. Militantes de base, conselheiras de saúde, mães de vítimas da violência policial, sindicalistas, educadoras populares, todas são alvos cotidianos do ódio patriarcal que estrutura a política no Brasil.

A violência política é mais do que agressão individual. Ela é um projeto. Serve para garantir que o poder continue sendo um lugar de homens brancos, ricos e comprometidos com os interesses das elites. Serve para manter as mulheres da classe trabalhadora fora das decisões sobre suas próprias vidas. Por isso, não pode ser tratada como um desvio de conduta. É uma estratégia. E precisa ser enfrentada como tal.

Do ponto de vista sindical, também temos responsabilidades. Quando mulheres sindicalistas são interrompidas em falas, expostas a constrangimentos, deslegitimadas por sua aparência ou enfrentam isolamento em suas entidades, estamos diante do mesmo problema: uma estrutura que resiste à presença ativa e protagonista das mulheres nos espaços de disputa.

O que fizeram com as deputadas paulistas é gravíssimo. Mas o que fazem todos os dias com milhares de outras mulheres que ousam ocupar a política do cotidiano é igualmente violento. É hora de reagir!

A denúncia é necessária, mas não é suficiente. É preciso construir mecanismos de proteção, criar redes de apoio, garantir paridade real e construir uma cultura política que reconheça o protagonismo das mulheres da nossa classe nas urnas, nos sindicatos, nas ruas e nas comunidades.

Porque enquanto o medo for a resposta à nossa coragem, resistir não será uma opção. Será uma necessidade.

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