Renata Hummel | 7 motivos para admirar os estudantes paulistas

Imagem: Comunicação da Intersindical
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Alunos da rede pública de ensino de São Paulo estão ocupando escolas estaduais em protesto contra plano de reorganização do governo Alckmin

Desde o dia 10 de novembro, estudantes da rede pública estadual de ensino de São Paulo estão ocupando diversas escolas em protesto ao plano de reorganização do governo Alckmin, que pretende fechar 94 instituições de ensino e reagrupar os alunos conforme suas idades.

A histórica mobilização dos estudantes, que conta com apoio de professores e movimentos sociais e não para de crescer, deve ser muito admirada pela população. Seguem aqui sete motivos para tanto:

1. Tiveram a coragem de enfrentar um governo que parecia invencível: mesmo com São Paulo vivendo falta de água (não crônica, mas estrutural, o que é pior ainda), com chacinas horríveis quase semanalmente, um transporte público que vai de mal a pior, com chuva de denúncias de corrupção, MESMO ASSIM o governador seguia bem avaliado.

2. Romperam a blindagem da mídia tradicional, dos jornalões e da Globo, que se esforçam diariamente para blindar o governo e o governador de SP. A molecada se organizou de tal forma que foram eles que se blindaram contra as tradicionais acusações estúpidas da mídia: fizeram (e fazem) ocupações pacíficas, turnos de trabalho para limpar a escola e até a rua em frente (ontem na EE Fernão Dias Paes, quando saí de noite já, os estudantes estavam recolhendo lixo e varrendo a rua!), saraus diários, aulas públicas.

3. Ridicularizaram a ação comum e usual do Governo do Estado, que é resolver todos os problemas de cima para baixo, sem consultar ninguém (quanto mais os diretamente afetados), e chamar a polícia para descer a cacetada quando é questionado. As imagens da polícia cercando estudantes que estão tentando proteger a escola dá a dimensão desse rídículo – mais do que isso, desse absurdo.

4. Criaram uma rotina interessante, que envolve conversas diárias com jornalistas, artistas, apoiadores. Fazem coletivas de imprensa diariamente com declarações muito bem articuladas e postagens em rede social. Ou seja, SE COMUNICAM muito bem, o que evita qualquer tipo de bobagem veiculada pela mídia (ou proporciona contestação).

vídeo

Por meio das redes sociais, alunos divulgam vídeos para explicar as razões e informar a situação das manifestações (clique na imagem para assistir no Facebook)

5. É um movimento horizontal, sem líderes, bem igualitário, e eles fazem questão de manter assim. Todos eles fazem declarações, conversam, publicam. Para a repressão, é uma novidade que quebra seu modus operandi de isolar, cercar e dividir para conquistar. Para quem faz parte de movimentos sociais, não é uma novidade, faz tempo que grande parte dos movimentos é assim. A novidade nesse caso é que eles conseguiram tomar para si a narrativa – ou seja, eles contam a história do movimento – ao contrário dos retratos genéricos, pobres e geralmente equivocados feitos pela grande imprensa.

6. A ocupação é muito mais que uma ocupação. Os estudantes estão produzindo vídeos, poemas, músicas, desenhos sobre diversos assuntos ligados aos direitos humanos. Estão questionando as “histórias oficiais”, como por exemplo a ideia do “bandeirante herói” que está no coração do cidade de São Paulo (e eu diria no coração dos seus preconceitos e sua ilusão racista de superioridade). Ou a ação assassina da polícia sobre os estudantes, relembrando a morte dos 43 estudantes mexicanos em Ayotzinapa. Ou o fato de termos direitos escritos mas não garantidos no Brasil – e no mundo. Não queríamos a cidadania crítica na escola? está aí.

7. O empoderamento dos estudantes subiu exponencialmente. A noção de que eles têm o direito de ser ouvidos, que possuem autonomia, que não são robôs teleguiados por ninguém é cada vez mais clara. E não estou falando apenas dos estudantes do Fernão, do Diadema, do Salvador Allende, do Castro Alves, do Silvio Xavier, de todas as escolas ocupadas – estou falando de todos os estudantes que estão participando, de dentro ou de fora. E repetindo o que ando ouvindo deles: “Ah, não gostou? Então se prepara que a gente vai lutar mais!”.

Renata Hummel é professora de sociologia na rede estadual paulista. Graduada – bacharel e licenciada – em ciências sociais pela PUC-SP , com especialização em história, sociedade e cultura pela PUC-SP.

 

Fonte: Painel Acadêmico

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