A militante feminista Rute Alonso, da União de Mulheres, foi uma das convidadas para a mesa de abertura do 1° Encontro de Mulheres da Intersindical Central da Classe Trabalhadora, na noite de quinta-feira (17), em São Paulo. Ela lembra que “reconhecer a desigualdade de gênero é o primeiro passo em direção à transformação dessa realidade” e conclama as mulheres a reconhecerem que precisam ser protagonistas de sua própria realidade.
“Vivemos em uma sociedade violenta, racista e machista que se move pela aversão às diferenças e pela reprodução das injustiças”, diz ela. “A mulher é a protagonista da história e a gente tá ali para colaborar com esse protagonismo, não para assumir o protagonismo no lugar dela. Sempre nos perguntamos: de quê forma podemos fortalecê-la?”, revela.
Este processo, segundo Rute, é feito, a partir da conscientização de seu papel social e de sua força, sem ignorar a existência de uma precarização macro inserida no mercado de trabalho que precisa ser combatida.
“Ter carteira assinada, que antes já era um sonho, está ainda pior porque os empregos estão diminuindo, a chamada “pejotização”, o microempreendedor individual… são camuflagens para uma relação empregatícia sem décimo terceiro, férias, estabilidade, auxílio doença, auxílio maternidade e todos outros direitos trabalhistas. Esses elementos amarram muito as mulheres, mas também nos chamam à organização”, destaca.
Mulheres ganham 30% menos do que os homens, mesmo com a mesma qualificação e no desempenho das mesmas funções. “Reconhecer a desigualdade de gênero é o primeiro passo em direção à transformação dessa realidade”, diz ela.
Questão de gênero
O Brasil é o único país da América Latina que aderiu a ou ratificou todos os 14 tratados internacionais universais e regionais, genéricos ou específicos, que visam à proteção dos direitos das mulheres, o que impõe ao Estado brasileiro um forte compromisso perante a ordem jurídica internacional para a efetivação desses direitos.
O termo “gênero” está presente nos tratados internacionais aos quais o Brasil se vinculou, na legislação nacional e nas políticas públicas. No entanto, o Senado aprovou, em 9 de março de 2016, a retirada da perspectiva de gênero das atribuições da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.
“Excluir a perspectiva de gênero significa aceitar que as desigualdades entre homens e mulheres decorrem da constituição biológica e não de um longo processo de construção social que associa o masculino à superioridade e o feminino à inferioridade”, afirma.
“Olhar o mundo sem a lente de gênero impede o combate à violência, o acesso a direitos e a realização da justiça”, explica a militante feminista.
De acordo com o Dossiê Violência contra as Mulheres, a cada dia, 16 mulheres são assassinadas, 130 são estupradas e 720 são espancadas. “As mulheres têm que ter acesso aos serviços e solicitar medidas protetivas ao agressor sem ter que fazer boletim de ocorrência, sem ter que ir pra delegacia resolver”, defende Rute Alonso.
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