Carta de Uberlândia
Nós, agricultores e agricultoras familiares, organizados em diversos movimentos sociais, reunimos em Uberlândia com o intuito de debater a conjuntura brasileira e a tarefas políticas dos povos do campo e da floresta. O Seminário foi um momento rico de troca de experiência e alinhamento da resistência.
Identificamos como inimigos principais da classe trabalhadora, do campo e da cidade, a elite econômica e financeira, o Governo Bolsonaro e a maioria do Congresso Nacional, que encaminham uma agenda antipopular e antinacional. Os impactos das medidas do governo são sentidos de maneira muito profunda no campo, destacamos a seguir algumas:
- A autorização de porte de arma dentro das propriedades rurais são, na prática, um processo de legalização das milícias privadas dos grandes proprietários de terras.
- O desmonte do INCRA que inviabiliza qualquer avanço dos processos de desapropriação de terras improdutivas, assessoria técnica e desenvolvimento de projetos de assentamentos.
- Proposta de privatização dos Bancos Públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica) que irá praticamente acabar com o financiamento à agricultura familiar.
- Proposta de privatização das empresas de energia elétrica, que caso seja realizada, aumentará o preço da tarifa de energia e o custo da produção no campo.
- Proposta de extinção de pequenos municípios, que reduzirá recursos e serviços público, como escolas, postos de saúde, agências bancárias e de correio, de milhares de municípios com base econômica na pequena agricultura.
- A proposta de privatização dos Correios, que significa retirar o direito das comunidades rurais mais afastadas ao acesso a receber correspondência e acessar diversos e serviços disponíveis nas agências do ECT.
- A liberação do uso de 382 novos tipos de agrotóxicos, envenenando os alimentos e o meio ambiente.
- A aprovação da Reforma da Previdência retira a principal fonte de renda dos habitantes das pequenas cidades, prejudicando diretamente os rendimentos de agricultores como enfraquece a capacidade de compra de quem vive na cidade e adquiri produtos da agricultura familiar.
- O fomento ao desmatamento e a mineração em territórios indígenas e quilombolas por parte do governo é o acirramento histórica guerra contra as comunidades tradicionais, o que motiva o assassinato de liderança e a remoção forçada de comunidades.
Esta agenda de destruição dos povos do campo e da floresta está diretamente ligada ao enfraquecimento da soberania nacional e da capacidade do país produzir um modelo de desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente sustentável.
Diante disso, nos comprometemos com a construção de uma ampla unidade com os movimentos e organizações do campo, das florestas e das cidades na perspectiva de enfrentar o projeto de Bolsonaro e da maioria do Congresso Nacional.
Discutimos no Seminário que devemos junto com o processo de resistência nos reinventarmos em nossa luta, utilizando nosso acúmulo histórico, reconhecendo de maneira generosa nossos erros e limitações, mas tendo abertura para experimentar novas possibilidades dentro da militância.
Reafirmamos que a REFORMA AGRÁRIA é nosso objetivo principal, e melhor instrumento de viabilizar a dignidade da população camponesa, indígena e quilombola.
Sendo assim, indicamos como tarefas a desenvolvermos conjuntamente.
- Fomento à agroecologia como instrumento de enfrentamento à matriz produtiva hegemônica, que degrada, envenena e mata.
- Construção de pauta de reivindicação dirigida aos órgãos governamentais em todos os níveis, em especial ao INCRA. Criaremos um sistema de negociação coletiva de nossas demandas junto aos órgãos.
- Criar um sistema de cooperação política, econômica e de formação entre os diferentes movimentos filiados à Intersindical e aliados.
- Lutar contra o machismo e pela igualdade social e de gênero e investir na construção de um feminismo de perspectiva camponesa e popular.
Agenda imediata
- Realização de uma Audiência Pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com a convocação do INCRA e do Governo Estadual para discutir todas as demandas relativas a assentamentos e acampamentos presentes no Seminário. Data: a confirmar Responsável: Gabinete da Deputada Andréia de Jesus.
- Acampamento Arco-Íris (Guriatã) – Convocar os advogados do gabinete da Deputada Andréia de Jesus na reunião do dia 12/11 no MP, as 10h.
- Acampamento Nova Luz (Paracatu) – Incluir as demandas deste acampamento na em uma pauta única dos movimentos junto ao Incra. Apoiar a questão do acesso à água do acampamento junto à prefeitura do município.
- Crédito Fundiário – Articular reunião com deputados na SEAPA/MG.
- Apoiar e fazer pressão para serem aprovados dos projetos em defesa da agroecologia.
- Lutar por emendas parlamentares para projetos de agroindústria para fortalecer a agroecologia e a agricultura familiar.
- Política de Financiamento para a transição agroecológica.
- Criar um sistema logístico que garanta o escoamento da produção.
- Propor a criação de um programa de revitalização dos assentamentos antigos.
Uberlândia, 10 de novembro de 2019
Seminário Nacional dos Povos do Campo e da Floresta
Resolução elaborada na reunião das mulheres e aprovada como documento do seminário
Nós, mulheres do campo e da cidade, reunidas no Seminário Nacional dos Povos do Campo e da Floresta, manifestamos que apesar dos avanços que temos conquistado, ainda há muito o que avançar tanto na sociedade como também nos movimentos populares e pela reforma agrária e nos sindicatos e partidos de esquerda.
Queremos a igualdade social e de gênero e o fim do machismo.
Para avançar nesse sentido, apontamos que:
- As mulheres devem se auto-organizar, mas os debates referentes às questões de gênero devem ter a participação dos homens militantes. (Na atividade ocorrida no seminário os companheiros foram convidados, mas nenhum comprareceu).
- A pauta das mulheres deve ser tratada como prioridade e não ser secundarizada.
- Não à tripla jornada de trabalho das companheiras do campo e que os afazeres domésticos sejam divididos com os companheiros.
- No mínimo paridade nas direções dos movimentos, partidos políticos e sindicatos.
- Apoio estrutural e financeiro às mulheres camponesas para o pleito eleitoral.
- Basta de violência contra as mulheres.
- Que seja priorizada a participação das mulheres em todos os eventos, e que a demanda da cozinha fique sob responsabilidade dos companheiros.
Uberlândia, 09 de novembro de 2019
Seminário Nacional dos Povos do Campo e da Floresta
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