“Não podemos aceitar retrocessos como a imposição da jornada 6×1, na saúde ou em qualquer outro setor. Precisamos voltar a debater redução da jornada, valorização dos serviços públicos e retomada das políticas de proteção social.”
Fala de conjuntura para o congresso do Sindifes – Vivemos um contexto de agravamento das crises do capital, que são cíclicas e estruturais. A falsa promessa de progresso sob o capitalismo se desfez, e os direitos conquistados foram frutos da luta organizada da classe trabalhadora – não concessões espontâneas do sistema. Entretanto, temos enfrentado enormes dificuldades para manter a ofensiva. Parte disso se deve à perda de centralidade da luta de classes em nosso discurso e ação sindical. Enquanto recuamos, a burguesia nacional e internacional avança de forma articulada, promovendo reformas que retiram direitos, privatizam serviços e aprofundam a exploração.
O capitalismo assume hoje novas formas, com setores oligopolistas controlando dados, mercados e comportamento. Isso não representa avanço, mas sim a intensificação da barbárie. No Brasil, enfrentamos um cenário de precarização crescente. A juventude é empurrada para formas de trabalho sem proteção, e mesmo servidores públicos estão sendo levados à informalidade extrema por conta dos baixos salários.
Embora tenhamos conquistado vitórias eleitorais importantes, como a eleição de um governo progressista, sabemos que isso, por si só, não altera as estruturas do poder econômico e político. Elegemos o Executivo, mas o Congresso permanece conservador e hostil às pautas populares. O avanço das reformas liberais, como a trabalhista e a previdenciária, não foi revertido. Seguimos sofrendo com privatizações e ataques aos serviços públicos. Nosso papel, enquanto movimento sindical, é pressionar continuamente – não para atacar governos aliados, mas para empurrá-los à esquerda e defender os interesses da classe trabalhadora.
É urgente recolocar no centro da nossa pauta a luta contra o endividamento injusto dos estados, que consome os recursos públicos que deveriam financiar saúde, educação e infraestrutura. A dívida pública não nasceu de investimentos sociais, mas de acordos espúrios com o sistema financeiro. O caso de Minas Gerais é emblemático: o montante da dívida estadual foi potencializado por acordos políticos que ignoram completamente as necessidades do povo. Defender projetos como o PROPAG sem discutir a origem e o real destino da dívida é enganar a população.
Por isso, é necessário denunciar o sistema financeiro que lucra com juros abusivos e suga os recursos públicos. Se a taxa de juros no Brasil fosse compatível com os padrões internacionais, poderíamos dobrar os investimentos em políticas públicas sem aumentar um centavo de impostos. A luta por um novo modelo econômico passa necessariamente pela auditoria da dívida pública e pelo enfrentamento do poder dos rentistas.
Por fim, reforçamos que a pauta sindical precisa recuperar sua radicalidade e sua coerência. Não podemos aceitar retrocessos como a imposição da jornada 6×1, na saúde ou em qualquer outro setor. Precisamos voltar a debater redução da jornada, valorização dos serviços públicos e retomada das políticas de proteção social. A saída para essa crise não virá de cima nem do capital. Virá da organização da classe trabalhadora em luta.
Érico Colen
Diretor Executivo do Sind Saúde Minas Gerais
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