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O governo Temer, que há duas ou três semanas já era dado como “cachorro morto” pela grande mídia, pode estar à beira de uma recomposição que eventualmente poderá levá-lo ao fim em 2018 após denúncias explícitas por parte da Rede Globo.
A vitória no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o fato do PSDB ainda não ter desembarcado do governo como se esperava, a base parlamentar que não ruiu inteiramente e que se expressa com o avanço acelerado da reforma trabalhista no Senado, mostram claramente que há quem o sustente.
A explicação, de acordo com a exposição de Guilherme Boulos, Coordenador Nacional do MTST, durante a reunião de análise de conjuntura da Intersindical Central da Classe Trabalhadora, realizada no último sábado (10) em São Paulo, está na natureza deste governo. “O governo Temer foi e ainda é a solução da burguesia brasileira para poder fazer a agenda de destruição nacional mais atrevida sem prestar contas para a sociedade”.
“O Temer na situação em que entra, após o golpe, sem nenhuma perspectiva de reeleição, não tem nada a perder. Onde já se viu um governo com 3% de aprovação querer fazer reforma trabalhista e previdenciária? Isso não cabe numa democracia e nem numa democracia tão limitada como a nossa. Isso só é possível como produto do golpe, alguém implementar uma política que não foi decidida nas urnas”, afirma Boulos. (assista ao vídeo da exposição ao final desta matéria)
É óbvio, segundo ele, que “não seria fácil criar uma unidade da burguesia para continuar com o Temer, mesmo ele sendo pego com a ‘boca na butija’”. “Por isso essa divisão que a gente vê entre os que o apoiam e os que o querem fora do governo. Parte da burguesia vê que esse é o conjunto perfeito para fazer o que quer. A Globo reivindica posição de classe dominante, outros jornais já são mais cautelosos. Qual o posicionamento dos bancos? A Febraban falou ‘Fora Temer’? Existe divisão entre eles! E é nisso que o Temer se apoia para continuar levando este governo”, explica o dirigente.
Há uma configuração política, diz Boulos, que permite levar esse programa de “terra arrasada”, de contenção de investimentos públicos, de desregulamentação das relações de trabalho e de destruição da Previdência adiante e que só poderá ser impedido com a forte mobilização popular. “Isso deve nos fazer reforçar o ‘Fora Temer’ e ficar atentos até que ponto essa elite econômica no país começou a construir outras alternativas”.
“Temos que perguntar: o que faz a Rede Globo ter ido de forma tão voraz pelo Fora Temer? Quando ela faz um movimento desse tem cartas na manga. Não faz isso por nada. Ali parece que há parte da classe dominante que quer uma nova transição. O que está neste momento ruindo não é apenas o governo Temer. As denúncias de corrupção não são apenas do governo Temer. O que nos olhos do povo perdeu credibilidade é o nosso sistema político. A visão fácil que se construiu é que o governo não nos representa e neste vácuo de representatividade, quem ocupa esse espaço? A resposta é: parte do Judiciário, com a Lava-jato, o Ministério público Federal (MPF), a ‘República de Curitiba’ se apresentando como projeto de poder no país. A Lava Jato age de forma facciosa”.
Boulos é categórico ao afirmar: “O que levou às delações da JBS nesse momento foi a aliança do MPF com a Globo. O que pode passar pela cabeça dessa turma? Esse sistema político perdeu a capacidade de construir maioria, perdeu a capacidade de hegemonizar, isso coloca o risco de revolta popular contra um regime sem representatividade”.
E neste sentido o dirigente do MTST faz uma analogia com o que foi a crise da ditadura. “O governo Figueiredo estava perdendo sua capacidade de grau de social, a aprovação dele era detestável. A ditadura tinha o comando, mas havia perdido completamente a capacidade de criar maioria social. O general Golberini e a Globo então negociam a transição de forma controlada”, relembra.
Para Boulos, pode estar ocorrendo uma transição moderada patrocinada pela Globo, mas desta vez usando o Judiciário como ‘salvador da pátria’, pois manter aquela ditadura explícita nos dias de hoje pode fazer a bolsa de valores cair e as empresas perderem milhões. “O Judiciário pode cumprir esse papel de uma forma mais limpa. Temos que estar atentos às saídas que podem ser costuradas pelo ‘andar de cima’. Uma forma de “limpar” o Estado brasileiro, manter a agenda dominante e recobrar a hegemonia social pode ser o protagonismo do Judiciário”.
Diante dessa conjuntura tão grave e mutável, Boulos alerta para o perigo da esquerda se perder entre o petismo e o antipetismo. “A conjuntura é outra, pós-PT. Achar que antipetismo é acordo, é ilusão. A tentativa de construir uma nova esquerda brasileira tem que estar lacrada do antipetismo. Se nossa demarcação vai pelo caminho do antipetismo, a gente vai pelo perigoso caminho do isolamento. O campo progressista sempre esteve ligado ao PT. Achar que o novo é jogar o velho no lixo não é bem assim. Temos que dialogar com o campo que levou a política nos últimos 30 anos. Não significa adaptar-se a ele e sim nos colocar de forma que não seja sectário”.
Há três pactos sociais que estão sendo desmontados neste momento. “Quando o Temer liquida com os programas sociais, o investimento público, esvazia o BNDES, esvazia os instrumentos do Estado para intervenção da econômica nacional, ele desmonta o pacto lulista de 2002. Nós não reivindicamos esse pacto. Mas quando eles atacam diretamente a aposentadoria e o Estado de prover serviços públicos universais e uma rede de proteção social que bem ou mal nos serviu nos últimos anos, eles estão desmontando o pacto da Constituição Federal de 1988, fazem uma “desconstituinte” e agora com a reforma trabalhista e previdenciária estão desmontando o pacto varguista dos anos 30 e 40. São três pactos sociais que estão sendo desmontados”, explica.
E qual deve ser o posicionamento dos movimentos sociais, sindicatos e da esquerda em geral neste contexto político? Boulos ressalta a necessidade de unidade e do trabalho de base, próximo à comunidade.
“É um acerto a gente trabalhar as três bandeiras que tem unificado o conjunto do campo: o ‘Fora Temer’, ‘Nenhum Direito a Menos’ e ‘Diretas Já’. Não porque sejam a salvação de todos os problemas. Temos que assegurar a mais ampla unidade, jogando quaisquer divisões internas, fortalecer nossa capilaridade, nossa capacidade de dialogar com o povo, nos locais de trabalho, nas casas. Porque um projeto de esquerda não tem lastro se não houver movimento de rua. A única chance de ganhar eleição e papel social é garantir mobilização, uma mobilização que a gente perdeu”.
Outro desafio, segundo ele, é pensar em um programa para o país. O debate que sempre aparece é a de correlação de forças. Eles dizem “Vocês não têm deputado, elejam uma bancada”. “Não temos que cair nessa armadilha. É evidente que a relação de forças faz parte da política, mas isso não é estático. A nossa posição dependendo, de como for, pode ajudar a modificar isso. Alguns governos bolivarianos enfrentaram muitos entraves (com os meios de comunicação, entre outros setores) e apostaram na mobilização social – aposta que não foi feita aqui. Quando se deu o golpe na Venezuela não durou 48 horas porque as relações mudaram”, lembrou.
Nesse sentido a Frente Povo Sem Medo decidiu colocar na ordem do dia um debate aberto sobre um programa político, econômico e social para o Brasil para a construção do país que queremos para o futuro.
Boulos finalizou elogiando a atuação da Intersindical Central da Classe Trabalhadora junto às outras centrais sindicais, no Congresso nacional, nas ruas, com os movimentos sociais, progressistas e a esquerda em geral. “A Intersindical está de parabéns pela postura coerente que tem tomado. Estamos 100% alinhados neste último período. A Intersindical tem estado no fio da navalha, consegue ser de luta sem ser sectária nem auto proclamatória”, definiu Boulos.
Assista a exposição completa de Guilherme Boulos, Coordenado Nacional do MTST:
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