Símbolo da indústria do século XX, a montadora de veículos Ford foi a marca pioneira na fabricação de automóveis no Brasil, tendo inaugurado a primeira planta em São Paulo em 1° de Maio de 1919. Atualmente, a Ford detém 7,4% do mercado brasileiro de veículos e emprega diretamente mais de 6 mil funcionários.
No dia 11 de Janeiro a montadora anunciou o fechamento das suas três fábricas no Brasil – Camaçari (BA), Horizonte (CE) e Taubaté (SP) – colocando fim a produção em série no país. A desativação das fábricas ocorrerá durante o ano de 2021. Permanecerão em funcionamento apenas o escritório da empresa, um centro de desenvolvimento de produtos e o campo de provas.
Sendo nota da Ford, a finalização das atividades no Brasil faz parte do reposicionamento da empresa diante do novo cenário econômico e tecnológico da indústria no mundo. Em termos práticos, a empresa seguirá atuando no mercado brasileiro, porém com a venda de automóveis importados de suas fábricas no exterior, em especial no Uruguai e Argentina.
A Ford deve ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) R$ 335 milhões, recursos públicos destinados ao desenvolvimento de novos veículos e ações sociais no polo de Camaçari. O total de transações entre a Ford e o BNDES chegam a R$ 2 bilhões de reais.
Segundo dados da Receita Federal,a Ford recebeu desde 1999 aproximadamente 20 bilhões de reais em incentivos fiscais, ou seja, a empresa irá abandonar o país que subsidiou a instalação e operação de suas fábricas. A alegação de perdas financeiras devido a questões fiscais no Brasil é um dos pontos mais absurdos da declaração de razões da decisão da Ford.
Ao abandonar o país depois de tantos anos de operações e subsídios recebidos, a decisão da Ford abre a reflexão sobre a consistência e razoabilidade das renúncias fiscais concedidas às grandes empresas por parte dos governos estaduais e federal. Até que ponto é realmente positivo conceder subsídios sem garantias de continuidade das operações? A planta da Ford em Camaçari possui apenas 20 anos de atividades, e neste período os subsídios passaram de 20 bilhões de reais. Este modelo é realmente sustentável?
O Governo Bolsonaro demonstra completa apatia em relação a situação, não apresentando nenhuma medida que sinaliza para uma negociação com a Ford ou mesmo o atendimento das demandas imediatas dos trabalhadores ameaçados de demissão. O compromisso do governo com a indústria é nulo.
O Governador da Bahia, Rui Costa (PT) anunciou que irá convidar empresas chinesas, sul-coreanas e japonesas para conhecerem o Complexo Industrial de Camaçari com vistas a compensar a retirada da Ford.
O movimento sindical já organiza pressão para que as cláusulas de estabilidade presentes na convenção coletiva sejam respeitadas e que os trabalhadores não sejam demitidos. O fim das atividades não afetam apenas os 6 mil funcionários da Ford, mas aproximadamente 50 mil trabalhadores que atuam na cadeia produtiva da empresa.
A Intersindical Central da Classe Trabalhadora, assim como outras entidades sindicais, se solidariza com as demandas dos funcionários da Ford que exigem a manutenção dos empregos e dos direitos estabelecidos.
“A Ford deve muito ao Brasil, abandonar o país em meio a uma crise sanitária e econômica é o pior que esta empresa poderia fazer para com seus funcionários e com o país que financiou suas operações na América do Sul”, afirma Edson Carneiro Índio, Secretário- Geral da Intersindical.
Texto: Pedro Otoni
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