1. Vivemos em 2022 o período eleitoral mais importante da história recente do Brasil, com enorme disputa contra o fascismo. Mesmo com o triunfo eleitoral, a tentativa de golpe em 08 de janeiro de 2023 demonstra como a extrema-direita permanece como ator relevante na conjuntura.
2. Esse momento de embate contra o fascismo e os demais atores do campo conservador requer a continuidade da mobilização popular e territorial. O enraizamento das experiências de organização de classe possui enorme potencial para disputarmos, pedagogicamente, a consciência popular, com um projeto de orientação radical que aponte para além dos limites da luta institucional. A radicalidade que estamos buscando é aquela que só se encontra coletivamente, no cotidiano da classe trabalhadora, com a proposição e a construção coletiva de novas realidades, novos afetos e novos jeitos de se viver justa e dignamente.
3. Para essa tarefa, a Intersindical – Central da Classe Trabalhadora se encontra bem posicionada, ao apostar já há alguns anos na relação entre os sindicatos e outras experiências de organização de classe, especialmente as presentes em territórios periféricos. Em um momento de fragmentação do mundo do trabalho, os espaços de residência da classe trabalhadora se tornaram lugar privilegiado de discussão política e formação de consciência – algo já identificado pelos os nossos inimigos, pois ali estão laços familiares, trabalhistas, religiosos e culturais cotidianamente refeitos por trabalhadores e trabalhadoras que partilham a mesma experiência.
4. Nos últimos anos essa relação sindicato-movimentos sociais já rendeu bons frutos, como as ações de solidariedade durante a pandemia de covid-19 e a utilização de espaços territoriais como comitês eleitorais durante o pleito de 2022. A Intersindical e suas entidades filiadas já desenvolvem iniciativas de organizações de Comitês Populares, no entanto, é fundamental aumentar a escala dessas iniciativas e fomentar maior coordenação entre sindicatos e movimentos populares.
5. Os Comitês Populares de Luta possuem os seguintes objetivos: 1) contribuir efetivamente para a manutenção da democracia e a derrota objetiva e subjetiva do bolsonarismo; 2) mobilizar permanentemente o território para ser um suporte às forças progressistas e à radicalização da classe trabalhadora, tendo como referência a Intersindical e os movimentos sociais que a compõem; 3) ser o suporte político, organizativo, criativo e solidário dos territórios onde estão inseridos.
6. A Intersindical propõe que suas entidades filiadas sejam promotoras da organização de Comitês Populares de Luta nas sedes dos sindicatos e espaços na periferia com o objetivo de trabalhar com as demandas concretas, ao mesmo tempo promovendo a formação política e a experiência cultural necessária para elevar o nível de consciência da classe.
7. Indicamos como propostas de atividades para iniciar o trabalho dos comitês:
1) Reuniões do Comitê: Enquanto espaço de organização, reuniões deliberativas, reflexivas, formativas e de acompanhamento de atividades devem ser constantes.
2) Ações de solidariedade: O Comitê deve ser um espaço de solidariedade. Nele podem surgir campanhas de doações constantes ou em momentos de crise da comunidade. A criação de uma cozinha popular também pode fazer parte das ações do Comitê.
3) Oficinas: O Comitê deve ser visto como um espaço de crescimento e suporte pessoal e comunitário. Oficinas práticas podem surgir para trazer temas como autocuidado, estratégias de geração de renda e outros assuntos de acordo com os princípios aqui estabelecidos.
4) Articulação Ampla: Deve ser prioritário para o Comitê articular ações e dividir conhecimentos com o grande campo da esquerda. Organizações que possam somar em ações pontuais ou constantes e que possuam o interesse de derrotar o fascismo com elevação da consciência de classe serão sempre bem-vindas.
5) Agitação e propaganda: Visto também como espaço para elevação da consciência política dos trabalhadores e trabalhadoras, o Comitê deve realizar atividades de agitação como panfletagens, colagem de cartazes, caminhadas, e manifestações por pautas pontuais. Atividades propagandísticas também devem ser realizadas, como debates públicos, rodas e encontros de formação política, conversas individuais com membros da comunidade interessados no trabalho e outras atividades.
8. Entendemos que os Comitês Populares de Luta devem ser um movimento que fomente o aprofundamento do trabalho de base com vistas a alterar a correlação de forças na sociedade em favor dos interesses imediatos e estratégicos da classe trabalhadora.
São Paulo, 11 de março de 2023
3º CONGRESSO DA INTERSINDICAL CENTRAL DA CLASSE TRABALHADORA
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