Guilherme Boulos, um dos coordenadores do MTST, foi liberado ontem à noite (17) da delegacia onde estava detido desde a manhã, na Zona Leste de São Paulo e mandou um recado para as autoridades: “Quero dizer que não conseguiram nos intimidar. A luta só vai crescer, só vai aumentar a cada gesto fascista, a cada gesto ilegal, abusivo, como essa prisão de hoje”.
Boulos foi detido por resistência durante reintegração de posse de terreno da Ocupação Colonial, em São Mateus, e ficou cerca de 10 horas na delegacia. Saiu após assinar termo circunstanciado. Outro detido, o sem-teto José Ferreira Lima também foi levado à delegacia e liberado na mesma noite.
“Para mim, resistência não é crime. Crime é despejar 700 famílias sem ter alternativa, resistência é uma reação legítima das pessoas contra uma barbaridade como esta”, afirmou Boulos.
Contradição das autoridades
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de SP declarou que Guilherme Boulos e o outro integrante do MTST, José Ferreira, foram detidos por “participar de ataques com rojão”. “Um policial militar ficou ferido de leve por uma bomba caseira e duas viaturas do Choque foram danificadas. A PM agiu para garantir o cumprimento da ordem judicial”, diz o comunicado.
No entanto, o boletim de ocorrência não cita, em momento algum, que Boulos foi detido por portar rojões. A ocorrência registrada no 59º Distrito Policial de São Mateus acusa o coordenador do MTST de “doutrina” e usa a “Teoria do domínio de fato” para justificar a detenção de Boulos.
“A este comportamento por parte de Guilherme adotado modernamente a doutrina o tem inserido na chamada Teoria do domínio do fato, segundo a qual o agente responde por não ter participado diretamente do comportamento delitivo, mas sim porque, com sua conduta, emana ordens aos demais ou até mesmo, muito embora o pudesse fazer, não impede que o resultado criminoso se verificasse”, diz o documento.
Inconsistência na acusação
Ao sair da delegacia, Boulos criticou a ação da PM. Segundo ele, o policial que o prendeu argumentou que ele estava “sendo preso por incitação à violência, por desobediência e por outros crimes”. “Acabei sendo indiciado por resistência, para você ver a falta de consistência completa das acusações.
Boulos foi ainda mais incisivo: “A Secretaria da Segurança Pública soltou uma nota dizendo que eu teria atirado rojões em policiais. O secretário vai ter que se explicar, porque sequer os policiais que me prenderam colocaram no depoimento que eu teria atirado rojões. O secretário vai ter que dizer onde que ele achou esses rojões”.
A Intersindical Central da Classe Trabalhadora considera a prisão política “com o intuito de intimidar o MTST e a luta dos movimentos populares”.
O advogado do MTST, Felipe Vono, lembra que a PM não apresentou à Polícia Civil o rojão que estaria com o Boulos. “O Boulos foi preso depois que a ordem judicial havia sido cumprida. Não houve resistência. Houve um diálogo. O Boulos não estava ali como ocupante do terreno. A ocupação não era do MTST. Ele estava só prestando apoio pelo direito de manifestação” , disse.
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