A coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) Sônia Guajajara participou do 2º Encontro de Mulheres da Intersindical e falou das desigualdades de gênero, da aldeia à política institucional. Para ela, o combate ao machismo está diretamente ligado à luta por território. “A demarcação das terras indígenas segue a principal bandeira, porque a partir daí a gente consegue lutar pelas demais políticas. Não tem como lutar sem a garantia do território, que preserva nossa identidade e é a garantia da nossa vida”, explicou Guajajara, que foi candidata à vice-presidenta nas últimas eleições pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
Sônia Guajajara lembrou que a defesa dos territórios não se restringe ao movimento indígena. “Nossa luta pelo território não é apenas da aldeia, mas de onde estivermos, para exercemos nossa liberdade, seja no campo, quilombo ou cidade”, expôs. “Quando atingem nosso território, atingem diretamente nosso corpo. Precisamos nos articular, estar cada vez mais conectadas, pois são situações muito semelhantes”, completou Guajajara.
A líder da da APIB falou sobre a evolução da participação das mulheres no movimento indígena. “Por muito tempo, nós entendíamos que a falta de espaço dentro das aldeias era uma questão cultural. Por muito tempo nos enganaram dizendo que era cultural e não se podia mudar a cultura. Enquanto isso, fomos submissas, violentadas e assumíamos papeis secundários. Nós trabalhávamos, orientávamos, mas os homens que apareciam com sua voz”, relata. Guajajara disse que ela mesmo tinha dificuldade em assumir a especificidade da luta feminista dentro do movimento, mas “chegou um momento em que a gente disse: ‘não, a gente precisa romper isso e assumir os espaços'”.
O resultado se nota hoje. Desde as instâncias do movimento, que, em 2017, elegeu a primeira mulher, Nara Baré, para a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), até a política institucional, com a eleição da primeira deputada federal indígena, Joênia Wapichana, nas últimas eleições.
“Nossa voz nunca fica no lugar em que a gente fala, nossa voz ecoa, mas precisa ser escutada e compreendida”, resumiu Sônia Guajajara. Ao fim, anunciou a construção da primeira marcha das mulheres indígenas a Brasília, que se encontrará com a tradicional da Marcha das Margaridas, que movimenta, desde 2000, mulheres camponesas e trabalhadoras rurais de todo o país.
Texto: Matheus Lobo
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