Índio | Taxa de juros: maior programa de transferência de renda do Brasil

Imagem: Comunicação da Intersindical
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  • Edson Carneiro Índio*

Mais uma vez o Banco Central demonstrou seu compromisso com o rentismo e o parasitismo dos bancos. Ao elevar a taxa Selic para 14,25%, alta de 0,5%, o tesouro vai comprometer ainda mais recursos públicos com pagamento de juros. Entre janeiro e maio de 2015, o Brasil gastou 7,4% do PIB para rentabilizar as aplicações em títulos da dívida pública.

Com mais uma elevação dos juros com o argumento de controlar da inflação, que tem se mostrado inócuo, o BC contribui para frear ainda mais a atividade econômica, aprofundar a recessão, aumentar o desemprego e diminuir a arrecadação do estado.

Assim, o governo federal dá mais um passo em sua política de transferência de renda às avessas: tira dos pobres, assalariados e dos investimentos sociais e transfere uma montanha de dinheiro para os rentistas. Enquanto o governo Dilma “economiza” recursos retirando direitos dos trabalhadores, cada 0,5% de aumento da Selic consome R$ 11,8 bi de recursos públicos.

A elevação dos juros desestimula investimentos produtivos e drena a poupança interna para a especulação financeira. Os bancos – e também a minoria de abastados que mantem aplicações nesses títulos – agradecem.  Com mais essa medida, o Banco Central fragiliza a economia popular e fortalece as iniciativas da direita que visa um governo ainda mais comprometido com as políticas neoliberais, capaz de levar a cabo a agenda de retrocessos sociais, no Brasil e na América Latina.

Sem fazer esforço algum, os bancos ampliarão sua rentabilidade. Já a indústria, diminui ainda mais investimentos na produção para especular com os títulos da dívida pública. O resultado mais visível dessa situação é demonstrado nos balanços dos bancos que apresentam lucratividade sempre crescente.

A esse respeito, cabe lembrar que o aumento da taxa Selic contribui para elevar, às alturas, as taxas de juros que os bancos cobram diretamente da população. Em abril, os clientes que utilizaram o rotativo do cartão de crédito foram achacados pelos bancos a uma taxa de juros de 295% ao ano. Já quem utilizou o limite do cheque especial pagou, em média, 205% de juros aos banqueiros agiotas.

Já a população que é capturada nas ruas com as “ofertas” de crédito das financeiras chegam a pagar taxas anuais de mais de 600%. Qual a atividade econômica que garante essa margem de retorno?

Essa rentabilidade dos bancos só é possível graças à atuação do BC e a natureza cartelizada dessas instituições financeiras.

Diante dessa gravíssima situação, o governo federal deveria retirar do BC o caráter de agência de representação dos interesses dos financistas, além de dotar os bancos públicos de uma política que force o setor financeiro privado a reduzir – drasticamente – as taxas de juros cobradas do tesouro e da população, que são inaceitáveis em qualquer país democrático.

Num momento em que a direita lança mão de todos os instrumentos, inclusive ilegítimos, para repactuar o regime de dominação em condições ainda mais desfavoráveis aos de baixo e o governo Dilma aposta suas fichas num ajuste fiscal que atinge apenas os mais pobres, não podemos nos calar. Devemos rechaçar a ofensiva da direita e ampliar a mobilização e o combate à política econômica recessiva do governo federal. E a luta pela redução das taxas de juros no país é um elemento fundamental desse combate.

 

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_MG_8184pp*Edson Carneiro Índio, é bancário e Secretário Geral da Intersindical Central da Classe Trabalhadora

Publicado originalmente em 30/07/2015

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