Apesar de alguns avanços, operárias ainda sofrem com precarização
Um ano depois de noticiar a histórica greve das costureiras da Doloren, o jornal Brasil de Fato-RJ voltou à fabrica de roupas íntimas para saber como está a situação das três mil operárias. Localizada em Vigário Geral, no Rio, essa unidade da Doloren representa a principal linha de produção da marca.
Em 2014, o Brasil de Fato-RJ denunciou as situações de humilhação e constrangimento às quais eram submetidas as funcionárias, assim como a precarização do trabalho e os baixos salários.
No entanto, a greve de quase uma semana, a primeira em 20 anos, foi o suficiente para provocar algumas mudanças em favor das trabalhadoras. Uma das maiores queixas era a proibição da entrada de bolsas, a troca de roupa na frente de uma funcionária da segurança, uma espécie de revista íntima disfarçada, e o comportamento autoritário de alguns supervisores. Tudo isso mudou para melhor, segundo as costureiras.
“Agora podemos entrar com nossas bolsas e as revistas acabaram, mas temos consciência de que isso só é possível por causa da greve e da nossa luta. Se a gente não exigir nossos direitos, os patrões nunca vão respeitar”, diz Fátima, de 37 anos. Ela costura para a Duloren desde seus 15 anos. “Comecei na década de 80, quando as leis eram muito mais duras com a gente. Mas ainda tem muita coisa para melhorar”, diz a operária.
Precarização continua
Apesar de ter melhorado, algumas coisas não mudaram. A falta de critério para obter os benefícios estabelecidos por metas de produtividade é um dos pontos mais críticos.
“A empresa simplesmente não tem critério para a meta de eficiência. Tem costureira que ganha mais e outra menos, exercendo a mesma função”, afirma a costureira Marta, 42 anos. Ela trabalha no setor 85 da fábrica, um dos mais precários, devido ao grande número de peças que as trabalhadoras têm que costurar todos os dias. “A gente tem menos de um minuto para terminar uma calcinha. Se batemos a meta durante 29 dias e um único dia do mês não conseguimos, não recebemos o benefício. Isso desestimula, porque todos aqueles dias de esforço não valeram nada”, relata Marta, costureira há três anos.
Salários de costureiras reduziram ao longo dos anos
Entre todas as queixas das trabalhadoras da Duloren, os baixos salários é o que mais incomoda. Dez anos atrás o salário de uma costureira, nessa mesma fábrica, era igual ao dos motoristas de ônibus, que hoje ganham em média R$ 1.957,86. Porém uma costureira recebe R$ 936,00 de salário base. Portanto, a renda delas diminuiu mais de 50%, na comparação com outras categorias profissionais.
Além disso, a correção salarial, que é feita sempre no mês de junho, esse ano ainda não saiu. “A promessa é de que vamos ter aumento a partir de setembro, mas não sabemos se a gente vai receber o retroativo dos meses anteriores”, destaca Michele, de 35 anos.
O reajuste aprovado será de 9%, segundo a funcionária. “O aumento corrige apenas o valor da inflação, sem ganho real”, critica a costureira. Apesar dos avanços, a luta das operárias da costura continua e elas sabem que há muito a ser conquistado.
Fonte: Brasil de Fato-RJ / Fania Rodrigues
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