A maioria dos jovens assassinados no Espírito Santo são negros
O Espírito Santo é um dos estados que está no topo do ranking da violência contra jovens e adolescentes, segundo o estudo “Mapa da Violência: Adolescentes de 16 e 17 anos do Brasil”, de autoria do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, divulgado na última segunda-feira, 29, pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Os dados da pesquisa, que correspondem ao ano de 2013, apontam, ainda, que os negros são a maioria dos adolescentes e jovens assassinados no Espírito Santo.
De acordo com o estudo, o Espírito Santo perde somente para Alagoas na taxa de homicídios de jovens entre 16 e 17 anos. O primeiro estado obteve um índice de 140.6 por 100 mil, enquanto o segundo teve 147.0. Em todo o Brasil, os homicídios nessa faixa etária atingem majoritariamente os homens, que são 93% das vítimas. Em terras capixabas, o público masculino representa 95,9% das pessoas assassinadas entre 16 e 17 anos.
Em relação à questão racial, o Espírito Santo encontra-se em segundo lugar entre os estados da federação tanto no homicídio de jovens entre 16 e 17 anos brancos quanto negros. Contudo, o número de negros assassinados é muito superior. A taxa de assassinato de brancos no Espírito Santo é de 50,7 por 100 mil, perdendo somente para o Paraná, onde o número é de 61,1 por 100 mil. Já o de negros no estado capixaba é 177,6, fazendo com que ele fique em segundo lugar no ranking nacional, que é encabeçado por Alagoas, com 193,8.
“Os negros e negras normalmente se situam nas classes C, D e E, enquanto os brancos estão majoritariamente na A e B. Existe uma política higienista do Estado, desde os tempos da escravidão, que se esconde atrás do estereótipo de que os negros são bandidos, e faz com que assim eles sejam tratados. Por isso, a juventude negra está sendo exterminada nas periferias pela ação da polícia, que age com violência generalizada”, diz o diretor do Sindicato dos Bancários/ES, Vinícius Moreira.
Entre crianças e adolescentes na faixa etária entre 0 e 17 anos a situação não é diferente. O Espírito Santo continua entre os primeiros colocados do ranking e as mortes por homicídio atingem muito mais os negros do que os brancos. O assassinato de negros corresponde a 60 por 100 mil. Em primeiro lugar está Alagoas, com 99.3. Em segundo, Bahia, com 63.3. Já a taxa de homicídio de brancos no Espírito Santo é de 27.8 por 100 mil. O primeiro colocado é o Paraná (61.4), e o segundo, Rio Grande do Sul (35.8).
“Outro fator que aumenta o número de homicídios de jovens negros é realidade em que eles vivem. Os defensores da meritocracia dizem que as oportunidades são iguais para todos. Porém, se analisarmos o cotidiano da juventude negra, em sua maioria ela tem acesso a uma educação precária. Suas oportunidades de emprego normalmente estão restritas a determinados segmentos, que não conseguem abarcar todos eles, sem contar que muitos locais de trabalho ainda colocam a estética branca como critério”, afirma.
Ao analisar os dados referentes às capitais brasileiras, a pesquisa aponta que Vitória é a quarta colocada no que diz respeito às taxas de homicídio de adolescentes de 16 e 17 anos. O índice da cidade é de 208,5 por 100mil. Em primeiro, segundo e terceiro lugares estão Fortaleza (267,7), Maceió (236,2) e João Pessoa (222,6). Além disso, quatro municípios capixabas aparecem entre os 100 com as maiores taxas de homicídio de adolescentes de 16 e 17 anos. São eles: Serra, Vitória, Cariacica e Vila Velha, que ocuparam, respectivamente, a 4ª, 12ª, 14ª e 19ª posições.
Nesse último dado foram considerados 243 municípios com mais de 4 mil adolescentes nessa faixa etária, tendo como base dados dos últimos três anos disponíveis, ou seja, de 2011 a 2013. A média de homicídios foi relacionada com a de estimativas populacionais para a faixa etária estudada nesses mesmos anos.
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