“Bolsonaro deixou de ser um problema político para o Brasil e se transformou em um problema sanitário”, afirma Boulos

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Imagem: Comunicação da Intersindical
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Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST, concedeu entrevista para o Secretário Geral da Intersindical, Edson Carneiro Índio, e expôs a necessidade de reafirmarmos a solidariedade diante da crise sanitária em que vivemos.

Índio: Queria começar lhe perguntando sobre as medidas de auxílio aos trabalhadores informais. A medida aprovada, apesar de ser um avanço, deixa de fora pessoas que estão fora do Cadastro Único. Gostaria que comentasse sobre isso.

BOULOS: O Bolsonaro, alguns dias antes, havia apresentado uma proposta de 200 reais de auxílio para trabalhadores informais. O que sabemos que não se paga contas com 200 reais, viemos trabalhando com a proposta de um salário mínimo, não chegamos ao valor integral, mas chegamos 600 reais como base e 1200 reais, agora foi uma vitória. Mas precisa no Senado preencher algumas lacunas, uma delas tem Cadastro Único, que paga 600 chegando a 1200 reais, muita gente pobre miserável que está renda zero não está cadastrada no CadÚnico. Muita gente não está cadastrada, é um problema se não for resolvido, pode excluir milhões de brasileiros que necessitam da renda básica, esse é um passo, mas precisa vir junto garantia de empregos e proibição de demissões senão você abre uma porta para miséria. Países europeus fizeram isso massivamente, Bolsonaro timidamente apresenta 40 bilhões para pagar parte do salário de MEI, porém outras medidas são necessárias como anistia para dívidas dos pobres, suspensão do pagamento das contas de água, luz e aluguel. O momento exige proteção social para os mais pobres que são os mais atingidos.

Índio: Você, como representante MTST, sabe das dificuldades das famílias no tema da moradia. Peço para que você comente sobre uma política para que enfrente este problema dos aluguéis e do financiamento imobiliário.

BOULOS: Bolsonaro deixou de ser um problema político para o Brasil e se transformou em um problema sanitário. Se já não existia condições dele liderar o país, agora perdeu qualquer possibilidade. A primeira questão, assim como outros países fizeram, é proibir despejo e reintegração de posses, e isso também de despejos individuais. Nesse período é descabido despejar, por que a ordem é que todos fiquem em casa. A situação está desalentadora, pessoas jogadas nas ruas. Mas em relação aos aluguéis, uma coisa é o cara que está na comunidade que aluga o quarto, outro caso são redes de especulação de imobiliárias que alugam centenas de imóveis, que alugam muitos imóveis nas capitais; essa turma se não receber por três meses, não vai fazer falta nenhuma. Em relação à moradia, a política do Bolsonaro defende o terraplanismo epidemiológico, vimos o resultado trágico na Itália, isolamento vertical não é recomendado pelo OMS no Brasil, como isolar idosos pobres que maioria vivem no mesmo cômodo, não existe condição prática para isso.

Índio: Agora uma pergunta que está na cabeça de muita gente. Como conseguir interromper o governo do Bolsonaro nesse momento em que não podemos nos manifestar nas ruas? O que podemos e devemos fazer é usar as redes de solidariedade para conseguir isso. Comente como podemos fazer isso, que diante dessa atitude onde Bolsonaro, que insiste nessa campanha genocida, atacando o confinamento e forças as pessoas a voltarem a trabalhar. Ele ainda pode dizer que foi só uma gripezinha, mas não podemos permitir que o lucro esteja acima da vida das pessoas. Para nós está construído o consenso, devemos seguir a ciência e as orientações da área médica. Acho que nós já vimos que Bolsonaro tem projeto de destruição nacional, podemos ver a partir da pandemia e panelaços que está na hora de colocar campanha da substituição do Bolsonaro. A luta contra Bolsonaro está crescendo, o mundo está contra ele e o momento de gente colocar isso na agenda nacional de maneira mais forte.

BOULOS: Nós precisamos partir do fato que ele não tem capacidade de liderar o Brasil diante dessa crise humanitária, agora ele age na contramão de quase todos governos, inclusive os de direitas como ele. Trump liberou renda básica para americanos, Boris Johnson está pagando salário dos trabalhadores, enquanto isso além dele ser propagador da pandemia, ele quis aprovar as possibilidades de suspensão dos contratos de trabalhos. Não é apenas uma guerra ideológica, ele está defendendo que as pessoas saião nas ruas para trabalhar, atitude que só beneficia os grandes empresários, aqueles que defendem a concepção que é normal morrer cinco mil pessoas e o que importa é o lucro não parar de entrar. Bolsonaro está contra a população, sua postura pode levar à tragédia em grandes proporções. O momento é necessário evitar uma tragédia maior; se ele tivesse pingo de dignidade renunciaria, seria menos doloroso para o país. Outros caminhos são possíveis, um deles é o processo de impeachment, mas demora meses; outro seria pressionar o TSE para que julgue os processos de crime eleitoral, de fraudes, caso ele seja julgado culpado a Constituição diz que crime eleitoral requer novas eleições em 90 dias. Só nas fakenews que ele fez nas eleições, que para elas existem recibos (provas), só ali tem três crimes eleitorais: financiamento ilegal de campanha, caixa dois e violação de redes sociais com fakenews. A saída precisa ser resultado da ação unitária da oposição, temos que ter saídas que envolvem todos setores, uma ação unitária, mas que fale amplamente para sociedade, ou seja, a construção de amplo leque de forças sociais e políticas.

Agora palavra de ordem se chama solidariedade, é isso que resta nesse momento, a tragédia pode servir para sociedade olhar parta si mesma, para nossas escolhas e enfrentar o que nos trouxe até aqui, uma política neoliberal. A crise também foi devastadora para política econômica mas ressaltamos que a vida está acima do equilíbrio fiscal. Neste sentido é fundamental a solidariedade, atuar nas periferias, defender os mais vulneráveis, respeitando as medidas sanitárias.

ASSISTA AQUI A ENTREVISTA COMPLETA:

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