Os trabalhos da manhã deste sábado (16/03) do 2º Congresso Nacional da Intersindical foram abertos com uma fala do líder do MTST e candidato do PSOL à Presidência da República em 2017, Guilherme Boulos, sobre os desafios da militância em 2019 para a reflexão dos participantes.
Em um breve retrospecto, Boulos lembrou que após a vitória de Bolsonaro houve certa perplexidade e desespero no campo da esquerda.
“Pareciam imbatíveis, 57 milhões de votos, discurso agressivo, mas aquele monstro todo começa a ser desmistificado, depois de 60 dias podemos dizer que toda aquela força e suposta credibilidade popular do Bolsonaro começa a ser duramente arranhada”.
Primeiro, segundo ele, a ideia da ‘nova política’, de acabar com a corrupção e promover segurança não se sustentou nem um mês: “virou suco de laranja”. “Esse governo que dizia que iria dar segurança, acabar com a violência, está diretamente envolvido, o presidente e sua família, com milícias, e disso há comprovações de toda sorte”, lembra. Ronnie Lessa, apontado nas investigações como o assassino da vereadora Marielle Franco, mora no mesmo condomínio de Bolsonaro e tem uma filha que namorou um dos filhos do presidente.
“Bolsonaro e seus filhos têm que explicar por que eles homenageiam há muitos anos os milicianos. Por que há miliciano e parente de miliciano no gabinete deles? Imagina se o Adélio, aquele da facada, fosse um vizinho nosso? O que iriam dizer?”, questiona Boulos.
Boulos enxerga três desafios para o nosso campo. O primeiro deles é a unidade para aquecer a participação popular na luta contra o desmonte da Previdência e Seguridade Social, o que segundo ele, “será o carro-chefe de 2019”.
Em seguida, apontar para um projeto de poder que venha debaixo, construído democraticamente pelo povo “pois não adianta desconstruir Bolsonaro sem apontar um caminho”.
E o último é esclarecer os sindicatos e a classe trabalhadora que a MP873/19 “é um ataque à liberdade sindical neste país, e não uma questão financeira e econômica”.
A defesa da Previdência vai ser a grande batalha deste ano no país. Boulos lembra que em 2017 a esquerda enfrentou e conseguiu mostrar para a maior parte do povo o que aquela ‘reforma’ significava.
“Nós ganhamos aquela batalha, ideologicamente na sociedade, parlamentares da situação diziam que não votavam por causa da mobilização em suas cidades, estados e aeroportos.
A histórica greve geral de 28 de abril precisa ser exemplo do que construir em 2019 para barrar a Reforma da Previdência”, afirmou. O centro desta nova reforma da Previdência, de Paulo Guedes, se chama capitalização.
“Não vai ser opção. Vai falir o INSS porque se as empresas deixarem de contribuir e os trabalhadores também aí vai haver um rombo insolúvel.
O que está em jogo é qual lógica a gente quer que organize a sociedade brasileira. É a lógica do cada um por si? Quem tem compra e quem não tem que morra na miséria? Essa é a escolha que a sociedade brasileira vai fazer no próximo período e nós temos que impedir esse disparate”.
Daí a importância da unidade na esquerda. “Temos que construir a unidade, apontar nosso campo para um projeto de poder que venha debaixo, mas não vamos conseguir sem ter como prioridade o desafio da mobilização”.
A unidade verdadeira convive com a diversidade. “Por mais diferenças que possam existir elas não são maiores do que a nossa diferença com o projeto do Bolsonaro, juntos pela liberdade de organização e contra a descriminalização de movimentos sociais, juntos em unidade por Lula – que é um preso político-, juntos contra a Reforma da Previdência”, diz Boulos.
A unidade não pode ser só uma palavra de ordem, segundo ele, “algo que a gente afirma simbolicamente e depois cada um vai regar sua horta, temos que ser grande e ter generosidade de colocar aquilo que nos separa em segundo plano em relação àquilo que nos une”. “A grande batalha para derrotar a Reforma da Previdência vai ser nas ruas, trabalho de base nas periferias, nos bairros.
A Frente Povo Sem Medo está organizando banquinhas sobre a reforma da Previdência. A esquerda não pode ser só de rede social, hashtag, colóquio acadêmico e de olho em 2022, colocando interesses pessoais acima da classe, precisamos da esquerda na rua”.
Ter um esquerda combativa que se expresse nas ruas é fundamental porque a mudança não será só por dentro das instituições, mas fora delas, aquecendo a participação social.
Sobre a MP 873/19, Boulos ressalta que o governo não pode interferir em como é a relação entre o trabalhador e o sindicato. “Não é ataque ao financiamento, é ataque à liberdade sindical neste país”.
“Eles até podem dizer que a turma tá lutando por imposto sindical,mas a nossa luta é por liberdade de ação e esta pauta de liberdade é que precisa ser assumida pelos sindicatos”.
Guilherme Boulos agradeceu o apoio dado pela Intersindical Central da Classe Trabalhadora e admitiu: “A Intersindical tem sido uma parceira de todos os momentos, parceira de vida, agradeço profundamente a cada companheiro/a, dirigente sindical, trabalhador/a, que esteve conosco na jornada dura da campanha eleitoral, onde tivemos a tarefa de plantar sementes, apresentar um projeto nosso para o futuro”.“Contem com o MTST para essa luta, estamos juntos!”.
Texto: Tsuli Turbiani
Foto: Rubens Lopes
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